terça-feira, 31 de maio de 2011

Harmonizando truta com vinho branco


Sábado de sol - mas com temperatura baixa - em Santo Antonio do Pinhal.

Decidimos comer truta no almoço - Santo Antonio do Pinhal fica naquela região (pertinho de Campos do Jordão) onde é praticamente impossível deixar de comer truta. Eles têm por lá excelentes criadouros de truta, e o peixe chega à mesa fresquíssimo em quase todos os restaurantes da área.

O restaurante escolhido foi o Donna Pinha, que fica dentro de um belo Parque, onde o proprietário construiu, com muito capricho, uma série de jardins temáticos : há o jardim japonês, o jardim canadense, o jardim tropical, o jardim de cactus. Vale a pena fazer a visita e, no final, almoçar no restaurante.

Seria truta, portanto. Para continuar dentro da tradição local, pedimos uma truta com molho de pinhões - o pinhão é outro produto local, encontrado em toda parte na cidade.

E a harmonização ? Apesar do friozinho, decidimos que deveríamos provar um vinho branco. O escolhido foi um vinho brasileiro, o Casa Valduga Premium Chardonnay 2010, produzido no Vale dos Vinhedos, lá em Bento Gonçalves, no coração das Serras Gaúchas. Um belo chardonnay, de coloração amarelo pálido, com reflexos verdeais. Os aromas são bem frutados, destacando-se abacaxi e maçã verde. No paladar, um vinho elegante, com boa persistência na boca, e a untuosidade típica da chardonnay.

A combinação da truta com o chardonnay foi ótima. A fruta e o peixe contrastavam agradavelmente, e nosso almoço foi um sucesso.

Eu sempre sou muito crítico com relação aos vinhos tintos brasileiros, mas também sempre digo que, entre os brancos, produzimos algumas pérolas que valem a pena conhecer. Este Casa Valduga, sem dúvida, é um deles.

Se puder bebê-lo comendo uma truta fresquinha, lá na própria área onde ela é pescada - aí, a coisa fica realmente muito boa !
O vinho e a truta, ao molho de pinhões

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Provando novos vinhos em Santo Antonio do Pinhal


Passamos o final de semana em um lindo hotelzinho na cidade de Santo Antonio do Pinhal, bem perto de Campos do Jordão - mas longe da muvuca, do trânsito e das multidões de turistas de Campos ...

A cidade é bem pequena, bonita e bem arrumada, e ainda preserva muito do seu encanto natural - lindas paisagens, bons restaurantes, pousadas encantadoras. Ficamos em uma dessas - a Pousada do Cedro, onde fomos muito bem tratados e pudemos curtir o frio, a boa comida, os vinhos. Aliás, a pousada tem um ótimo restaurante, o Na Mata, pilotado pelo chef toscano Marcello Catalfano, e uma carta de vinhos com mais de 130 rótulos.

Num dos jantares, pedimos um vinho que nunca tínhamos bebido - um Dukesfield Pinot Noir 2008, um vinho sul-africano, produzido no Distrito de Robertson. Já no visual o vinho começou a nos encantar - clarinho, transparente, quase rosé, na melhor tradição dos maravilhosos pinot noir da Borgonha. Logo que aberto, o aroma que se destacava era o de fruta fresca - cereja ou amora. Depois de algum tempo, a pinot noir - ah, uvinha caprichosa ! -  começava a mostrar suas habilidades : os aromas agora lembravam algo de couro, caça, tabaco.

No paladar, um sabor sedoso e macio, taninos suaves, e uma persistência notável -  a gente engole o vinho e continua a sentir o sabor flutuando na boca por um tempão !

Enfim, mais uma boa descoberta no terreno da romântica pinot noir - um vinho que tem um estilo mais próximo dos clássicos da Borgonha do que dos pinot noir do Novo Mundo, como os da Nova Zelândia ou da Patagônia.

O preço, na importadora Mistral, é de cerca de 50 reais. Razoável, né ?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ah, o romance, sempre o romance !

Minha querida amiga Rita, leitora deste blog, é uma romântica incorrigível.

Há tempos que ela me pede para escrever um post sobre vinhos românticos e suaves, para um jantar a dois - seja lá o que for que ela entende por um vinho romântico ...

Bem, com a aproximação do dia dos namorados, acho que nós todos tendemos a ficar um pouquinho mais românticos, né ? Então, Ritinha, aqui vai o post tão pedido ...

Claro que não dá pra ser universal num contexto desse tipo. O que parece romântico para mim pode não ser romântico para você, leitor, certo ? Mas não tem outro jeito - vou falar da minha idéia do que seja um vinho romântico. Rita, você veja aí se o conceito se encaixa no que você pensa ...

Para mim, definitivamente, o vinho romântico tem que ser um pinot noir. De preferência - se o bolso permitir - um Borgonha. OK, OK, não precisa ser um Romanée-Conti, caríssimo, mitológico. Nas prateleiras das nossas importadoras há bons Borgonhas na faixa de uns 120 a 150 reais. Não é barato, eu sei, mas afinal, Dia dos Namorados só tem uma vez por ano, o que é que há ?!?

E porque um Borgonha ? Bem, começamos pela cor. A uva pinot noir não tem muito pigmento, e os seus vinhos são transparentes, clarinhos, brilhantes. A cor é de um vermelho vivo e luminoso - ver o vinho jorrando da garrafa para a taça já é, em si, um momento de prazer estético.

Os aromas são riquíssimos, elaborados. Você sente framboesas e violetas, mas também sente (se prestar bastante atenção), aromas mais elaborados - couro, tabaco, folhas úmidas, um toque de especiarias.

Na boca, o Borgonha é muito mais rico em sabores do que sua cor pálida pode levar a pensar. Historicamente, ele tem sido muito usado para acompanhar carnes de caça - mas eu confesso que adoro um pinot noir mesmo para acompanhar certos pratos de peixe.

Você conhece aquela velha história - que vinho você pediria como seu último pedido, diante de um hipotético pelotão de fuzilamento ? Pois bem, pelo menos 9 entre 10 bebedores de vinho escolheriam um Borgonha, pode acreditar ...

Como alternativa ao Borgonha, se a grana estiver muito curta, sugiro um pinot noir da Nova Zelândia. São bem diferentes do Borgonha, mas preservam o charme da pinot noir - e custam mais baratinho. Uma boa marca, por exemplo, é o Vicar's Choice, que custa por volta de 70 reais.

Para finalizar o tal jantar romântico, um tiro certeiro - uma tacinha de Tokay, o maravilhoso vinho doce húngaro que acompanha esplendidamente sobremesas à base de frutas

Que tal, Rita ?

Interessantíssima visão do mercado global de vinhos

Já falei várias vezes, por aqui, sobre o blog MondoVinho, escrito com muito humor e muito conhecimento pelo meu amigo Mario Trano.

Pois o Mario acaba de postar por lá um videozinho que é uma pérola. Imaginem uma apresentação sobre o mercado internacional de vinhos, destacando os países que são os maiores produtores, os tipos de uvas plantados em cada país, os maiores exportadores ... Tudo isso feito de forma extremamente bonita, agradável e leve - em pouco mais de dois minutos !

Quem tiver interesse pelo assunto, não deixe de dar uma espiadinha no blog do Mario - pra ir até lá, é só clicar aqui.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Degustação de vinhos italianos em excelente companhia

No último final de semana, Tereza e eu tivemos um programa delicioso : um jantar italiano, com uma boa massa e bons vinhos - italianos, é claro!

Nossos queridos amigos Fabiana e Darcius nos receberam em sua casa, e nos ofereceram um spaghetti alla puttanesca. Estavam lá também a Sheila e o Murilo, e a conversa rolou solta e divertida, como costuma acontecer.

Para acompanhar a massa, típica do sul da Itália, tivemos uma pequena seleção de vinhos italianos. A idéia era percorrer sucintamente a geografia da Bota, de sul a norte.

Começamos com um vinho bem leve, do centro da Itália : o toscano Rèmole 2008, do produtor Frescobaldi. É um IGT feito com 85 % de uva sangiovese e 15 % de uva cabernet sauvignon. Ou, como informa o rótulo, prodotto principalmente con Sangiovese e una piccola quantità de Cabernet ... Um vinho de coloração vermelho rubi, com aromas de frutas vermelhas e o marcante sabor da sangiovese. Leve demais para o molho de sabor acentuado - mas a Fabiana adorou !

Depois, fomos à Sicília, e provamos um Archidamo Primitivo di Manduria 2008, parcialmente amadurecido em carvalho, com aromas de frutas muito maduras, um teor alcoólico de 14 graus, taninos suaves e sabor persistente - delicioso !

Voltamos à Toscana, com um Chianti Classico Lamole di Lamole 2006, vermelho rubi intenso mas já avançando para um tom de granada. Aroma de especiarias, sabor intenso, equilibrado.

Finalizamos no norte do país, com um ótimo Barolo 2005, de Batasiolo, um dos maiores e mais conhecidos produtores do Piemonte. Taninos super-marcantes, final aveludado e macio, com ótima persistência na boca.

O melhor vinho da noite, isolado, para mim foi o Barolo - mas a melhor harmonização com o molho puttanesca foi conseguida com o Primitivo. Vale aqui, provavelmente, a velha máxima de combinar a comida da região como vinho da região.

Mas o melhor da noite - sem dúvida nenhuma ! - foi mesmo rever os velhos amigos, dar risada, falar bobagens, falar mal dos ausentes (como o Fábio, que não pode comparecer) e, uma vez mais, fazer reverência aos sagrados prazeres da amizade !

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Vinhos a preços exorbitantes - resposta do restaurante APriori

Dias atrás, comentei aqui no blog os preços a meu ver exorbitantes cobrados pelo Restaurante APriori em sua carta de vinhos.

Acabo de receber a resposta do restaurante, e transcrevo-a literalmente :

Primeiramente, quero agradecer pelo seu e-mail. Fico feliz que tenha gostado de nosso ambiente, pratos e principalmente do repertório da pianista Maria Teresa Danelon.

Em relação aos vinhos, irei detalhar abaixo a diferença de valores:

1 - O vinho Felino em nossa carta é da safra 2007 com 91 pontos Robert Parker. No site e catálogo da importadora as safras são de 2008 (91 RP) e 2009 (sem pontuação ainda).
2 - O vinho Cobos Bramare Marchiori Malbec 2006 (99 WA) e (96 RP) (R$ 630,00). R$ 170,00 na importadora é o CobosLujan de Cuyo com 93 RP.
3 - O vinho Rispollo realmente o preço de R$ 39,00 está correto, mas este valor não foi o que pagamos à 1 ano atrás, pois ele entrou na promoção logo após uma compra em grande quantidade oferecida pela importadora por um preço especial para um evento. Na época pagamos por volta de R$ 60,00. Infelizmente corremos esse risco com compras em grande quantidade. Como este vinho está acabando em nosso estoque, na próxima compra iremos reajustar o valor em nossa carta.

Alguns de nossos vinhos estão realmente com um valor alto, mas infelizmente dependemos dos descontos das importadoras pela quantidade de rótulos que compramos.
Além disso nossas taças são de grande qualidade e possui um custo alto mantê-las, pois as quebras são inevitáveis.
Em breve estaremos reestruturando nossa carta de vinhos, renegociando com as importadoras atuais e colocando vinhos novos de outras importadores, para assim poder oferecê-los à um valor mais baixo.

Mais uma vez agradeço pelo seu e-mail e por sua visita ao Apriori.

Atenciosamente,

Juliano Melo

Não me convenceu - as taças são evidentemente caras para todos os restaurantes de nível, e o Juliano Melo confunde, no seu texto, o Cobos Bramare Marchiori com o Cobos Lujan de Cuyo.

Registre-se, ao menos, a atenção e o cuidado do restaurante em responder às críticas que eu havia feito.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Vinhos a preços exorbitantes

Tenho falado muito aqui, neste espaço, sobre a boa iniciativa de vários restaurantes de São Paulo, que parecem ter encontrado o caminho da sensatez (e dos bons negócios !) maneirando nos preços dos seus vinhos.

Infelizmente, hoje vou falar do oposto - um belo restaurante que insiste em manter sua carta de vinhos em alturas onde nem o telescópio Hubble consegue enxerger com clareza ...

Tereza e eu jantamos em um simpático restaurante italiano no Brooklin, o APriori. Lugar bonito e elegante, com um delicioso pianinho tocando uma seleção de bossa-nova, MPB e standards americanos.

Boa comida italiana - Tereza comeu um curioso canelone de berinjela recheado de ricota e mussarela de búfala em molho de tomate, e eu comi um bom spaghetti com lulas e molho de tomate apimentado. O serviço era um pouco atrapalhado, mas nada que chegasse a prejudicar a noite.

Mas aí chegou a hora de escolher o vinho ...

A carta de vinhos era francamente indecente. Pra você ter uma idéia, dou dois exemplos :
  • O bom Felino Malbec, argentino da vinícola Cobos, custava mais de 150 reais. É um vinho que custa 70 reais na importadora Gran Cru. Claro que o restaurante tem que cobrar mais caro - há o serviço, os garçons, o sommelier, as taças, etc. Mas, pedir mais do que 100 % de acréscimo ?
  • O segundo exemplo é ainda mais dramático. O excelente Bramare Marchiori Malbec, também da Viña Cobos, custa, na importadora, algo ao redor de 150 reais. Pois lá, na carta de vinhos do APriori, esse vinho saía por módicos 620 reais ! Sim, meu perplexo leitor, eles querem cobrar 4 vezes mais do que pagam pelo vinho ...
Acabamos tomando o que cabia no bolso - um vinho italiano, Rispollo Talenti 2009, um IGT da Toscana. Um vinho comum, sem maiores atrativos. Precinho camarada do APriori : 108 reais ... Uma pesquisa na Internet mostrou, mais tarde, que o vinho custa 39 na importadora.

Pra fechar com chave de ouro : mandei um mail a eles, relatando esta mesma história. Pensava em publicar aqui no blog a minha queixa e a resposta deles - mas não houve resposta nenhuma, pelo menos até agora ...

Chato, né ?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Boas práticas em um restaurante legal

Aos pouquinhos, lentamente, parece que os restaurantes de Sampa vão se acostumando à idéia de que um bom serviço de vinhos é uma boa pra todo mundo - para os consumidores, que têm um leque de escolhas cada vez mais amplo, e também para os próprios restaurantes, que cativam os clientes e conseguem vender mais seus produtos.

Sexta-feira passada, jantamos no Boa Bistrô, restaurante de inspiração contemporânea, situado nos Jardins, aqui em São Paulo.

A boa idéia do restarante é a oferta razoável (para os nossos padrões, habitualmente tão tímidos) de vinhos servidos em pequenos decanters de 350 ml.  São quatro opções de vinhos brancos, oito de tintos e até dois rosés.

O legal desse tipo de oferta é que a escolha dos vinhos não "amarra" a mesa toda - cada um dos participantes do jantar fica mais à vontade para escolher sua comida e combiná-la com o vinho de sua preferência.

Assim foi, no nosso caso. Tereza comeu um picadinho de filé mignon, e decidiu tentar combiná-lo com um decanter de 375 ml do Alto Las Hormigas Malbec 2009, honesto argentino de Mendoza que já conhecíamos de outros carnavais.

Eu optei por um atum mal-passado com molho de limão siciliano, e arrisquei um Alamos Chardonnay 2009, outro argentininho bem conhecido no nosso mercado.

As harmonizações ficaram perfeitas, enriquecendo o sabor da comida e o sabor dos vinhos.

Fica aí, portanto, a sugestão para outros restaurantes. Aumentem a oferta de decanters desse tipo ou de meias-garrafas tradicionais. É ótimo para nós, consumidores, que, felizes da vida, voltaremos para outros jantares e outras combinações - log, é ótimo para vocês também ...

Se as meninas do Boa Bistrô (a chef Tatiana Szeles e a sommelière Cristina Sigueta) podem, por que os outros não podem ?
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