Já falei algumas vezes, aqui no nosso blog, que o prazer de beber um determinado vinho está muitas vezes associado ao ambiente - um vinho
comum, bebido em um lugar ou em uma ocasião
especial tende a ser registrado na memória como
especial.
Também a harmonização é fundamental - a presença das comidas certas com o vinho certo causa às vezes um efeito de multiplicação da qualidade do vinho, ainda que o vinho em si não seja nada de maravilhoso.
Pois bem, vivemos um exemplo disso agora mesmo, na nossa bela viagem ao Leste Europeu.
Estávamos na Polônia, na bela cidade de Cracóvia, que, embora não seja a capital de fato do país (a capital é Varsóvia), é uma espécie de
capital do coração dos poloneses. Ela foi a capital, no passado, por quase seis séculos, e estão lá alguns dos monumentos mais importantes do país, como o
Wawel (o castelo-fortaleza que domina a cidade) e a belíssima
Igreja de Santa Maria, onde estão enterrados quase todos os reis do antigo reino da Polônia.
Nossa viagem à Polônia foi totalmente
monitorada pelo Edmund, meu grande amigo, polonês radicado em Florianóp

olis, leitor do nosso blog.
Devidamente instruídos pelo Edmund, decidimos jantar em um restaurante de comida judaica, o
Ariel, antigo restaurante que fica no coração do Kazimierz, o antigo bairro judeu de Cracóvia.
O jantar foi fantástico !
Começando pelas entradas :
Tereza comeu uma
sopa berdyczowska, deliciosa, com pedacinhos de carne temperada com mel e canela. Eu me entreguei sofregamente a um prato do famoso
barszcz (difícil pronunciar, não ?!?), uma sopa de beterrabas com pequenos raviólis de carne.
Como prato principal, a Tereza comeu um filé de
peru com chanterelles (deliciosos cogumelos poloneses, delicados e perfumados, que nos encantaram) e eu comi
pierogi, um tipo de ravióli recheado com repolho e com cogumelos, maravilhoso !
Para beber, já que estávamos em um restaurante judaico, aceitamos a indicação do simpático garçon e pedimos um vinho tinto de Israel (?!?), um vinho
kosher - isto é, produzido de acordo com as milenares regras religiosas judaicas. Era um vinho chamado
Yarden Mount Hermon, feito de cabernet sauvignon, merlot e cabernet franc, produzido na região das Colinas de Golã.
Para ser sincero, é um vinho que eu não pediria, se eu estivesse em um restaurante aqui no Brasil. Mas estando lá, em um restaurante judaico (que, aliás, não tinha muitas opções de vinhos ...) e sendo indicado pelo garçom local - decidi pedir.
Pois aconteceu exatamente aquilo que eu dizia nos parágrafos inciais deste tópico - embora não se tratasse de nenhum vinho memorável, a harmonização com os pratos deliciosos foi excelente. O vinho realçou o sabor da comida, e, por se tratar de um vinho intenso e encorpado, combinou muito bem com os sabores marcantes dos meus
pierogis, das sopas e dos
chanterelles.
Finalizei o ótimo jantar com um cálice de
sliwowica, uma deliciosa aguardente destilada de ameixas, que tem inacreditáveis 70 graus de álcool ...