Vai aqui mais uma historinha sobre vinhos, na linha que minha querida amiga Angela sugeriu.
Esta, quem conta é Jorge Amado, em seu divertidíssimo livro Navegação de Cabotagem - como ele diz, trata-se de "apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei".
Segundo ele, o grande poeta chileno Pablo Neruda esteve em visita ao Brasil, em 1957. Jorge Amado encarregou-se de recebê-lo e de arrumar hospedagem para ele na casa de amigos, na cidadezinha de Miguel Pereira, estado do Rio.
O poeta era um grande conhecedor de vinhos, um connaiseur, como dizem os entendidos - e um grande apreciador dos vinhos chilenos, é claro. Segundo ele, o vinho chileno era o melhor do mundo. Superior mesmo aos franceses !
O casal que hospedou o poeta não estava com as finanças lá muito bem das pernas ... Dispunham de algumas garrafas dos melhores vinhos chilenos, mas não eram o suficiente para aplacar a sede de Neruda. Depis de bebidas todas elas, o dono da casa se viu em apuros. Como abastecer a adega com aquelas maravilhas caríssimas que o poeta tanto elogiava e apreciava ?
Quem quebrou o galho foi o próprio Jorge Amado. Junto com o anfitrião, dirigiram-se a um pequeno armazém de secos-e-molhados, ali mesmo, em Miguel Pereira, compraram várias garrafas de vinhos brasileiros e e encheram com ele as garrafas vazias dos chilenos que haviam bebido.
Pois o grande poeta e grande connaiseur bebeu satisfeito o vinho brazuca nas garrafas chilenas - e continuou elogiando, extasiado, as maravilhas do vinho chileno ...
É, meus amigos, esse negócio de se apresentar como conhecedor de vinhos é fogo !
2 comentários:
Fala Nivaldo...
Muito legal a história.
Tem uma que me contaram um dia (não sei se já comentei com você) sobre uma degustação que o Robert Parker fez na França e que acabou fazendo com que ele ficasse varios anos sem voltar por ter falado mal de um vinho francês.
Parece que varios anos depois ele acabou voltando e durante uma degustação acerteu todos os vinhos e quando chegou ao último (os organizadores tentaram pegar ele) comentou: "Este é aquela porcaria que vocês me serviram X anos atrás".
Não sei se é verdade ou exatamente assim, mas acredito que apesar da maioria se passar por connaiseur, alguns realmente são. Eu particularmente, não me encaixo em nenhum dos dois grupos.
Abraços
Pois é, "Tião", para cada sujeito como o Robert Parker devem existir alguns milhares de pobres mortais como eu que não tem nem de longe essa capacidade ...
Humildemente, me limito a beber, beber, beber e ir vendo, aqui e ali, se gosto ou não gosto do que estou bebendo.
Um professor meu da ABS dizia que o terror dos degustadores é a tal da "copa nera" - imagine um copo pintado de preto, com um vinho lá dentro. Tudo o que você tem a fazer é provar o tal vinho, de olhos fechados, e dizer se é um vinho branco ou tinto ... Para minha surpresa, o tal professor dizia que a coisa está longe de ser tão fácil como parece !
Vamos fazer essa experiência em Itu, um dia ??
Postar um comentário