segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Uma Confraria de grande respeito !

Tereza e eu fomos convidados para participar da Confraria Credvinho – um grupo que se reúne mensalmente, há cerca de 14 anos, para degustar vinhos e jogar conversa fora.

Participar dessa Confraria é, para nós,  uma grande honra – ela foi fundada pelo Credídio Rosa, um grande conhecedor de vinhos, e figura sempre presente no mundo dos vinhos brasileiros. Não há produtor no Rio Grande do Sul que não reconheça seu nome, lembrado constantemente como um grande incentivador do produto brazuca.

O Credídio, infelizmente, faleceu em 2014, mas o grupo montado por ele mantém suas reuniões habituais – e hoje, a tarefa de manter o grupo unido e de organizar as reuniões mensais fica por conta da Vera, incansável e dedicadíssima  em suas árduas tarefas

Em nossa reunião de agosto, o tema escolhido foram as uvas autóctones – nomezinho complicado para designar as uvas que são produzidas quase exclusivamente em um único país, em contraposição às chamadas uvas internacionais – as manjadas cabernet sauvignon, merlot, chardonnay …

Começamos recepcionando os confrades e “confreiras” com um Simcic Marjan Rebula 2014, um vinho branco da Eslovênia, produzido com a uva rebula. A rebula ocupa hoje 26 % da área total de vinhedos da Eslovênia, e é plantada principalmente numa pequena região na fronteira com a Itália, conhecida como Colinas de Goritzia. Na Itália, a uva é chamada de ribolla gialla.

Um belíssimo vinho, de pungentes aromas de frutas cítricas e de maçã verde, com toques minerais.


Para a degustação propriamente dita, demos início aos trabalhos com um Nótios 2013, vinho tinto grego, produzido na região de Nemea, no Peloponeso, com a uva agiorgitiko. Um vinho jovem, sem madeira, que não nos impressionou muito – foi o ultimo colocado entre os quatro degustados …


A seguir atacamos um Modello Rosso delle Venezie IGT 2013, um italiano do Veneto, produzido pela vinícola Masi, com duas uvinhas bem peculiares. Uma dela é a refosco dal pedunculo rosso (adoro esse nome !), uva tão histórica que foi mencionada pelo escritor romando Plínio, o Velho, lá por volta do século I. A outra uva é a raboso, que significa “raivosa” no dialeto veneto, já que se trata de uma uva bastante tânica e de grande acidez.

O vinho me pareceu fresco e frutado, com taninos suaves e delicado. Creio que deve harmonizar bem com massas leves e com risotos. Ficou em terceiro lugar, na opinião da Confraria.


O terceiro vinho foi um Mastro Rosso IGT 2014, um italiano da Campania, produzido com a grande uva local que é a aglianico – ela é considerada uma das três mais importantes da Itália, ao lado da sangiovese da Toscana e da nebbiolo do Piemonte. Vinho potente e intenso, com aromas de frutas vermelhas e de especiarias. Era o meu preferido, mas a Confraria concedeu-lhe um honrosíssimo segundo lugar.



Para fechar, o vinho que ganhou a taça de melhor da noite – um Kadette Cape Blend 2012, sul-africano da região de Stellenbosch, produzido com uma mescla de pinotage, cabernet sauvignon, merlot e cabernet franc. Os sul-africanos dão o nome de Cape Blend a essa bela mistura, já que é o corte tradicional dos vinhos produzidos ao redor de Cape Town, a deslumbrante Cidade do Cabo.
Com seus doze meses de carvalho, o Kadette, da vinícola Kanonkop, tem aromas de framboesas e de groselhas maduras, com notas de café. Na boca, lembra chocolate negro, e tem um final seco, elegante e beeeeeeem prolongado …


Em resumo – foi uma delícia conviver com os novos amigos e bebericar esses vinhos pouco conhecidos.

Já estamos nos preparando ansiosamente para a reunião de setembro !


terça-feira, 25 de julho de 2017

CHI -CHI – CHI !! LE – LE – LE !! CHILE ! CHILE ! CHILE !

E viva o Chile !

Sim, sim, nestes dias desta semana, minha vontade é repetir a torto e a direito o famoso grito de guerra da  torcida chilena, como no título deste post.

Isso porque, no último final de semana, estivemos na casa de nossos queridos amigos Carol e Ivan, com suas sempre adoráveis filhotas – a doce e angelical Maria Eduarda e a espevitadinha Helena.

Caso este : eles estiveram passeando, em férias, pelo Chile, e trouxeram de lá deliciosas garrafinhas de belíssimos vinhos chilenos – e tiveram a ainda mais deliciosa ideia de nos convidar, à Tereza e a mim, para degustar essas preciosidades.

Foi um festim bárbaro, acreditem em mim !

Para comer, uma porção de gostosuras – queijos, bruschettas, embutidos, geleias, patês, damascos …

Para beber – ah, para beber …

Demos início aos trabalhos com nada mais, nada menos do que um Don Melchor Cabernet Sauvignon 2013, o vinho top da vinícola Concha y Toro, um dos melhores do Chile e – vale acrescentar – do mundo. Afinal, em sua versão de 2014, ele levou impressionantes 98 pontos lá na escala de nosso dileto coleguinha Robert Parker. A Concha y Toro é, provavelmente, a vinícola chilena mais conhecida ao redor do mundo, e fica no Valle Central – bem pertinho de Santiago.


Na verdade, apesar do nome, o vinho leva 91 % de cabermet sauvignon mesclados com 9 % de cabernet franc. Produzido com uvas de vinhedos de mais de 30 anos, o vinho estava fantástico. Macio e elegante, combinando os aromas da madeira com aromas frescos de erva e de frutas vermelhas.

A farra pantagruélica avançou, em seguida, para um Gran Bosque Private Reserve 2013, também de cabernet sauvignon, produzido pela vinícola Casas del Bosque, no Valle de Casablanca. Este eu não conhecia, e foi um enorme prazer ser apresentado a ele (não sei se a recíproca foi verdadeira).


O vinho recendia a madeira e frutas negras, e na boca apresentava taninos marcantes mas muito elegantes, sem nada de amargor.

O terceiro vinho (na minha opinião, o melhor da noite) foi o magnífico Lota 2010, da vinícola Cousiño Macul. Fundada na metade do século XIX, a vinícola permanece até hoje nas mãos da mesma família que lhe deu origem.


O Lota é feito com a mescla clássica de cabernet sauvignon e merlot, vindas de vinhedos plantados no Valle del Maipo. No nariz, chamavam a atenção os aromas de frutas negras como ameixas ou amoras, mesclando-se aos aromas terciários gentilmente fornecidos pelos 18 meses em carvalho : algo como couro ou tabaco. Na boca, um vinho de alta acidez, frutado e elegante. Combinou maravilhosamente com os salaminhos e linguicinhas que estávamos degustando …

O final da festa foi com uma garrafa de EPU 2014, que é o segundo vinho da mitológica vinícola Almaviva, uma joint-venture entre os chilenos da Concha y Toro e os franceses da Baron de Rotschild. Aliás, parece que o nome EPU vem da antiga língua do povo mapuche, e quer dizer, precisamente, “número dois”.


Belíssimo vinho, um blend de cabernet sauvignon, carmenère, merlot e cabernet franc. Aromas de frutas vermelhas e de caramelo, com taninos discretos e notas frutadas na boca.

Enfim, foi um belo passeio pelo que há de melhor nas botellas chilenas. 

Carol, Maria Eduarda, Helena, Ivan – contem com nossa eterna gratidão por tão maravilhoso passeio !

terça-feira, 11 de julho de 2017

É um pássaro? É um avião? Não! É o Supertoscano!

Pois é, esse negócio de “supertoscano” parece coisa de história em quadrinhos (ou filme) de super-heróis, né ?

Você talvez já tenha ouvido, aqui e ali, esse termo – os tais vinhos chamados de “supertoscanos” … Que significa isso ?

Bem, o que acontece é que nos anos 60 a Itália decidiu criar classificações formais para seus vinhos – as classificações top foram (e são até hoje) as DOC (Denominazione de Origine Controllata) e as DOCG (Denominazione de Origine Controllata e Garantita). São assim classificados, por exemplo, os Barolo, os Brunello di Montalcino, os Chianti Classico

Pela lei, os vinhos que podem utilizar essas classificações devem utilizar apenas uvas italianas autóctones (originárias da própria Itália), como a sangiovese, a nebbiolo, a trebbiano, etc.

Mas alguns italianos são meio turrões, a gente sabe como é …

Pois foi graças a um ou dois desses italianos turrões que a gente hoje pode falar sobre (e principalmente beber !) os tais supertoscanos. Benditos turrões !!

No final dos anos 60, o Marquês della Rocchetta resolveu produzir um vinho, bem no coração da Toscana, apenas com uvas francesas – ele usou cabernet sauvignon e cabernet franc. Deu ao vinho o nome de Sassicaia.


Outro italiano turrão, o marquês Piero Antinori, decidiu então seguir o exemplo do seu patrício. Ele mudou o Chianti que sua família produzia a séculos, também na Toscana. Ao invés de usar apenas a clássica uva sangiovese, o Antinori começou a mesclar seu vinho com cabernet sauvignon e cabernet franc – e criou o vinho chamado de Tignanello.

Como o Sassicaia e o Tignanello usavam uvas não-italianas, eles não puderam ser classificados no topo da pirâmide, como DOC ou DOCG. Tiveram que se contentar com a classificação mais baixa da lei, na época – a simples vino de tavola (vinho de mesa).

A coisa começou a ficar realmente séria nos anos 90, quando Robert Parker (o mais famoso crítico mundial de vinhos) deu ao Sassicaia, em uma degustação às cegas, a nota máxima atingível : 100 pontos.

E agora ? A Itália passava a ter um vinho considerado de ótima qualidade, cobrava por esse vinho um preço compatível com essa qualidade (ou seja, caríssimo) – e o vinho não era considerado top nas classificações oficiais …

Em outros países do mundo, isso talvez fosse considerado um problemão. Na Itália, não foi assim, é claro … Os dois vinhos deram origem a um sem número de novos rótulos (Guada Al Tasso, Ser Giovetto, Solaia, Ornellaia, e um imenso etc.). Os americanos começaram a chamar esses vinhos de … adivinhe ! Sim, sim, são os supertoscanos !

São vinhos excelentes e caros, e continuam não sendo classificados como DOC nem DOCG. A maioria deles, hoje em dia, é classificada como IGT (Indicazione Geografica Tipica), uma categoria apenas intermediária.

Mas eles nem ligam !!

E nós, humildes bebedores, ligamos menos ainda …

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Sua Majestade, a pinot noir



Toda reverência é pouca para falarmos dessa grandiosa uva ! Para escrever este post, por exemplo, eu coloquei meu smoking e minha black-tie

Sim, pois estamos falando de uma uva que tem a marca da nobreza. Frágil e delicada, ela exige, para ser cultivada, condições climáticas muito específicas – há de ser uma região fria e seca. Sua casca, muito fina, é extremamente sensível às pragas e aos insetos que podem florescer em locais mais úmidos e mais quentes – sim, sim, exatamente como a pele sensível de uma pálida princesinha criada a Toddy dentro das muralhas de seu castelo …

A pinot noir prefere solos calcários, através dos quais ela possa lançar suas raízes em grandes profundidades para buscar seus preciosos nutrientes.

Essas frescuras da pinot noir fez com que, por muito tempo, ela fosse plantada apenas na região da Borgonha, na França – onde ela se originou, há cerca de dois mil anos. Só nos anos 80 e 90 do século XX sua produção foi levada para algumas outras áreas do mundo, graças aos esforços da tecnologia.

O vinho gerado a partir da pinot noir é quase inconfundível no olhar – é um vinho rosado, translúcido, bem clarinho – chega, às vezes, a lembrar um vinho rosé. Isso se deve à baixa presença, na casca da uva, das substâncias chamadas antocianinas – os pigmentos que dão aos vinhos sua cor de … bem, de vinho.

Mas a cor engana o incauto bebedor – você olha a taça, e supõe que vá provar um vinho suavíssimo. Ao primeiro gole, você se surpreende – o vinho é potente e pleno de sabores, marcante e absolutamente único.

Os grandes borgonhas, feitos exclusivamente com pinot noir, harmonizam perfeitamente com carnes suculentas como o boeuf bourguignon, com seus legumes e bacons. Harmoniza também com queijos cremosos como o brie e o camembert, com cogumelos, com trufas. Pessoalmente, eu gosto de pinot noir mesmo para alguns peixes de sabor mais marcante, como atum e mesmo bacalhau. Há quem diga que um bom borgonha harmoniza até com tapa na orelha …

E temos aí outra característica – eu ia dizer outra frescura – da pinot noir : ela não costuma ser boa para cortes, ou seja, para ser misturada com outras uvas. Sua elegância e sua delicadeza seria certamente contaminada ou mascarada pela presença de outras uvas. Pois é, a nobreza não se mistura com a ralé …

A não ser … bem, sim, há, de fato, um lugar onde a pinot noir concede ser misturada a outras pobres uvinhas … É a região de Champagne, também na França. Lá, a pinot noir se deixa mesclar à chardonnay e à pinot meunier – mas o motivo dessa condescendência é também nobre : esse blend vai gerar, simplesmente, os fabulosos champagnes franceses.

Pena que os vinhos da Bourgogne, onde a pinot noir é soberana, sejam TÃO caros pra nós, pobres brazucas

O jeito é ir de garrafinhas produzidas em outros locais – a Nova Zelândia produz bons vinhos dessa uva, e também no Chile e na Argentina (em menor escala) ela anda se dando bem.

Mas não se enganem – os pinot noir desses países do Novo Mundo são bons, mas ainda não se comparam aos da Borgonha.

Sua Majestade não se rende tão facilmente !







quarta-feira, 7 de junho de 2017

Excelente lugar, ótima comida ... e alguns vinhos

No último final de semana, a nossa BIP (Busca Incansável do Prazer) nos levou, ao lado de amigos queridos, a um belo cantinho da sempre bela Serra da Mantiqueira – o Restaurante Entre Vilas, próximo à cidade de São Bento do Sapucaí.

Os arredores são belíssimos – o verde e as imponentes montanhas da Mantiqueira, emoldurados, como estavam no sábado, por um céu tão azul que chegava a parecer artificial …

O restaurante é agradável, o pessoal de serviço é simpático, o proprietário e chef (Rodrigo Veraldi) é simpaticíssimo – e a comida é ótima, como mencionei lá no título do post. A proposta é mesmo de slow-food : você passa a tarde toda por lá, comendo diversos pratos, e espiando, sem pressa, a paisagem ao redor.

Definitivamente, é um lugar que vale a pena ser visitado, num fim-de-semana, para quem gosta de fugir de Sampa de vez em quando. Há até quem faça o famoso bate-e-volta, indo até lá só para almoçar e retornando no fim do dia. Pessoalmente, acho meio cansativo – foi uma delícia dormir por lá mesmo, numa bela pousada a 3 km de distância, e ainda desfrutar da manhã de domingo no mato.

Porém – ai, porém, como no samba do grande Paulinho da Viola …

Minha solene recomendação é que, pra acompanhar o bom almoço, você vá mesmo de cervejas, refrigerantes, sucos, essas coisas …

O Entre Vilas funciona também como vinícola, e serve no seu cardápio os vinhos produzidos por ali mesmo, na própria Mantiqueira – e, neste pormenor, a experiência não foi nada boa, não ...

Demos início aos trabalhos com um rosé feito da uva syrah, chamado Vento, safra de 2017. O vinho já tinha uma coloração um tanto estranha, avermelhada demais, parecendo artificial. Havia uma certa borra no vinho, também bastante estranha em se tratando de um rosé novíssimo. Aroma, nenhum. Na boca, nada de acidez, e um sabor residual de … groselha ! Não a fruta, mas a velha Groselha Vitaminada Milani – acho que todo mundo lembra do sabor, né ? Não cheguei a beber minha taça toda.



Passamos depois aos tintos – o vinho seguinte foi um tinto de cabernet franc, chamado Montesa. O visual até que prometia, com seus reflexos violáceos bem marcantes. No nariz, a mesma ausência de qualquer fragrância, e na boca, a mesma falta total de acidez. Um vinho desequilibrado, chatinho, quase sem sabor.


A terceira garrafa foi do chamado Obsession, um blend de cabernet sauvignon e cabernet franc (em proporção de 80 % e 20 % respectivamente, segundo o proprietário). Este apresentava um aroma um pouquinho mais pronunciado- mas, mais uma vez, acidez zero e sabores muito, muito sutis – quase imperceptíveis, diria eu …

Acabou que o melhor vinho do dia foi a garrafa seguinte, o Vinho da Estância, um blend de cabernet sauvignon, tannat e tempranillo – que não é produzido lá, e sim em Dom Pedrito, na Campanha Gaúcha, pela Vinícola Guatambu.

Como se não bastasse, os vinhos são bem caros – o rosé custava 110 reais, o cabernet franc custava 130 reais, e o blend 150 reais. Definitivamente, pouca qualidade para muito preço …


Resumo da ópera : visite o Entre Vila com seu grupo de amigos, divirta-se com o passeio em si, aproveite a boa comida e a simpatia do pessoal – mas deixe o vinho pra lá …


segunda-feira, 22 de maio de 2017

A histórica uva syrah

Aqui, um três-por-quatro de nossa amiguinha
Histórica ? Por que histórica ?

Bem, a uva syrah é uma das mais antigas variedades de uvas conhecidas no mundo. Sua origem se perde nos meandros mitológicos : ela teria sido trazida da Pérsia ou do Oriente Médio pelos Cruzados, ou teria vindo das ilhas do mar Egeu, pelas mãos dos gregos, ou, ainda, teria sido trazida do Egito para a ilha italiana da Sicília.

O que se sabe de fato sobre a origem da syrah é que ela surgiu no sul da França, no vale do rio Rhône (ou Ródano, em português), provavelmente por volta do século XII.

No Rhône, a syrah produz vinhos densos e escuros, potentes e plenos de sabor e de aromas. No olfato, sua marca inconfundível é o aroma que lembra pimenta-do-reino e especiarias.

Na região ao norte do vale do Rhône, são produzidos os vinhos de syrah mais celebrados pelos apreciadores : os ótimos e caros Hermitage e Côte Rôtie.

Já nos anos 80 do século XX, a syrah se espalhou pelo planeta. Hoje, ela é a sexta uva mais produzida no mundo – e a gente pode encontrar belos vinhos feitos com syrah na Austrália e na África do Sul, no Chile e na Argentina, nos Estados Unidos - e mesmo em outros países da Europa, como Portugal e Itália.

No chamado “Novo Mundo” (categoria que abarca as Américas, a África e a Oceania), ela é normalmente chamada de shiraz – mas não se iluda : é a mesma uva mitológica que nos encanta há 800 anos.

Os vinhos australianos e sul-americano de syrah (shiraz) também apresentam especiarias no olfato, mas adicionam frutas maduras como ameixas ou amoras.

Em geral, são vinhos de sabores marcantes, com boa acidez, e com taninos macios -  claro que isso sempre depende do produtor, do enólogo ou do terroir específico de cada região.

Pessoalmente, eu creio que os vinhos de syrah harmonizam bem com pratos de sabores também marcantes e bem temperados : assados com molhos espessos, cordeiro, queijos amarelos fortes e assim por diante.

Você vai encontrar belos exemplares de syrah do Chile e da Argentina aí no supermercado ao lado da sua casa, garanto. Pode ser que encontre também alguns italianos e portugueses, a preços convidativos. Experimente – acho que você vai gostar !

Alguns exemplos aleatórios de bons syrah, bebidos por mim mesmo, com preços ao redor de 100 a 120 reais :

  • Argentinos : Escorihuela Familia Gascón Syrah, DV Catena Syrah Syrah, Septima Varietal Syrah.

  • Chilenos : Matetic Corralillo Syrah, Montes Alpha Syrah, Aquitania Reserva Syrah.

  • Australiano : Heartland Shiraz,


quinta-feira, 11 de maio de 2017

Bebendo vinho como Astérix

Em ânforas ! Sim, há inúmeras evidências arqueológicas de que os antigos romanos produziam e armazenavam seus vinhos em ânforas de cerâmica. Mais tarde, como se sabe, as ânforas eram furtadas por Astérix e Obelix e devidamente esvaziadas durante os jantares pantagruélicos na pequena aldeia gaulesa …

Mas em outras pequenas aldeias pelo mundo – mais precisamente, na bela região do Alentejo, em Portugal, a tradição de produzir vinhos em ânforas de cerâmica foi, de alguma forma, preservada. É comum, ao que parece, que famílias produzam seus vinhos domésticos usando velhas ânforas de cerâmica presentes na família há gerações. Vejam a história neste site, bem interessante – é só clicar aqui. Se quiserem ver uma animação sobre como o vinho de talha é produzido, cliquem aqui.

Está lá no Alentejo a vinícola Herdade do Esporão, uma das maiores e mais importantes do país. Eles produzem grandes vinhos, como o Esporão Reserva, o Quinta dos Murças, e vários outros rótulos. Alguns anos atrás, o pessoal da Herdade do Esporão decidiu fazer uma aposta no mínimo curiosa : trazer para dentro de sua grande vinícola, de porte industrial, a velha e doméstica tradição alentejana do vinho em ânforas.

As ânforas da Herdade do Esporão

Nos últimos anos, eles têm produzido cerca de 3.000 garrafas por ano desse curioso vinho, chamado por eles de Vinho de Talha. Foram construídas grandes ânforas de cerâmica, com o mesmo material e com as mesmas técnicas das ancestrais ânforas caseiras, e a fermentação das uvas ocorre dentro delas.

O vinho feito nessas ânforas – ou talhas - tem uma série de características próprias, que fazem dele praticamente um vinho orgânico : são utilizadas apenas leveduras indígenas (naturais), e não aquelas produzidas em laboratórios, e são utilizados, segundo a vinícola,  pouquíssimos produtos químicos.

O resultado desse processo vem sendo engarrafado em dois rótulos distintos : o Vinho de Talha Vinhas Velhas e o Vinho de Talha Moreto.


O Vinhas Velhas é produzido com as uvas tradicionais do Alentejo (aragonez, castelão, moreto e trincadeira), mas plantadas em antigos vinhedos que tem suas origens meio obscurecidas pelo tempo.


O Moreto é produzido apenas com a uva moreto, mais uma das uvas autóctones da região.

Meus queridos amigos Antonio, Denise e Edu estiveram, mês passado, visitando a vinícola, e trouxeram de lá algumas garrafinhas desse curioso vinho.

E que tal o vinho ?

Bem, a verdade é que o vinho está mais para curioso do que para ótimo …

Na taça, o vinho lembra, surpreendentemente, um Borgonha – tonalidades violetas bem vivas e uma transparência quase total, bem diferente do que a gente está acostumado em matéria de vinhos alentejanos.

O olfato, bem discreto, guarda traços de frutas e flores.

Na boca – miseravelmente ! – parece um vinho um tanto aguado, com pouca acidez, sabores discretíssimos, e permanência quase nenhuma. De forma geral, não agradou a nenhum de nós, no grupo que fez a degustação. E não é nada barato – cada garrafa custou cerca de 22 euros lá na vinícola …

Eu diria que essa, provavelmente,  é a razão pela qual os nossos bravos gauleses gostavam mais da poção mágica do druida Panoramix do que dos vinhos roubados dos romanos …







Enfim – ficam aqui as informações como curiosidade, neste sempre rico e criativo universo dos vinhos.



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