terça-feira, 2 de agosto de 2011

O tema dos "vinhos suaves"

Alguns amigos de sempre deste blog me pedem para falar sobre "vinhos suaves" ... A Rita sempre me pediu para falar desse tema, e agora, mais recentemente, meu querido amigo Fernando volta ao assunto.

Vinhos suaves ... ai, ai, ai ... Que serão vinhos suaves ?!?

Bem, pra começo de conversa, é importante deixar uma coisa bem claro : só devem ser chamados de vinhos, mesmo, ali, na batata, as bebidas feitas a partir da fermentação de uvas viníferas.

Por uvas viníferas, a gente entende todas aquelas cepas bastante manjadas pelos bebedores de vinho : cabernet sauvignon, merlot, chardonnay, pinot noir, malbec, sangiovese, shiraz, etc.

E o que seriam as uvas não-viníferas - portanto, não adequadas para a produção do vinho ? São aquelas igualmente manjadas uvas de mesa, aquelas que a gente come de sobremesa (principalmente no fim do ano) : niagara, isabel, goethe, itália e outras.

As uvas viníferas são bastante diferentes das uvas não-viníferas. Do ponto de vista da ciência, trata-se de espécies diferentes do mesmo gênero. São todas do gênero Vitis, mas só a espécie Vitis vinifera é adequada para a produção do vinho. As outras espécies (Vitis labrusca, Vitis riparia, Vitis aestivalis, Vitis rotundifolia e dezenas de outras) são boas para comer e para fazer suco de uva - mas não para fazer vinho.

No Brasil, infelizmente, a legislação não restringe os produtores de vinhos - eles podem botar literalmente qualquer uva no seu vinho - isso não ocorre no Chile nem na Argentina, só para ficar por aqui mesmo, na América do Sul. Graças a essa legislação pra lá de compassiva, o Brasil (e os Estados Unidos também) é um grande produtor de vinhos feitos com uvas não-viníferas. Vai ver, é por isso que nosso vinho tinto jamais chega à qualidade daqueles produzidos por nuestros hermanitos ...

Vai daí que grande parte daquilo que se produz no Brasil com o título genérico de Vinho Suave não passa de enganação : é vinho feito de uvas não viníferas. Sua marca registrada é aquele aroma inconfundível de suco de uva - nada mais distante de um Vinho, assim, com "V" maiúsculo ...

Portanto, meus amiguinhos, se vocês querem tomar vinho de verdade, esqueçam a história do vinho suave, por favor ...

A boa notícia é que existem, sim, vinhos muito bons, fáceis de beber, feitos sob encomenda para pessoas que gostam de sabores suaves e que estão acostumadas (mal-acostumadas, eu diria ...) com essas beberagens fajutas.

Aqui vão algumas sugestões :

  • vinhos da uva pinot noir, especialmente os da Nova Zelândia. São vinhos leves, que não costumam ter taninos muito agressivos, agradáveis de beber mesmo por quem não está muito habituado. Os franceses também são maravilhosos - mas em geral muito caros.
  • vinhos italianos como Valpolicella, Bardolino (os dois do Vêneto), Primitivo (da Umbria), Nero d'Avola (da Sicília). São suaves, redondinhos, e são encontráveis a preços bem razoáveis.
  • para quem gosta de brancos, os Pinot Grigio italianos, ou os Torrontés argentinos são um bom ponto de partida.
Por fim, vocês, leitores do blog, devem fugir daqueles "vinhos coloniais" do Rio Grande do Sul, ou dos "vinhos licorosos" de São Roque, como o diabo foge da cruz ...Se beberem, por favor, não me contem !

29 comentários:

Daniel disse...

Ou seja, todo vinho (vinho de verdade) é seco?

Nivaldo Sanches disse...

Bem, Daniel, o problema é saber qual a definição da palavra "suave". Esses vinhos que eu mencionei no texto são certamente vinhos suaves, principalmente se comparados a outros definitivamente "secos" como os cabernet sauvignon ou os merlot.

O chato é que, na maioria das vezes, quando o rótulo do vinho brasileiro diz "suave" na verdade está querendo dizer "adocicado", com cheiro de suco de uva - aí, meu amigo, não é vinho ...

Abraços, apareça por aqui mais vezes !

fbirman disse...

Na França, devido a abundância de Vitis Vinifera, sobra uva nobre para fazer suco. É uma delícia!

Nivaldo Sanches disse...

Pois é, Fernando - e eu diria que essa ainda não é, nem de longe, a maior vantagem de viver em Paris ... risos ...

Grande abraço !

vinícius disse...

senhores,quero dar minha opnião como consumidor e profissional da área, primeira vez que leio seu blog Nivaldo.
Na verdade, a definição de vinho segundo a legislação do BR, Vinho é a bebida obtida pela fermentação alcoólica do mosto simples de uva sã, fresca e madura,segundo a Lei nº 7.678, de 08 nov. 1988. Não diz se é viníferas ou comuns, como em outros países, então um fermentado de uva IZABEL, niágara,CORA,CONCORD, ETC... são vinhos sim, SÓ NÃO ENTRAm NA CATEGORIA FINO. E Fernando, na moral, suco de uvas viníferas não tem coparação, são neutras p/questão aromática dos sucos e sabor. PARABÉNS PELO TEMA A DISCUTIR, QUEM DERA FOSSE VINHOS FINOS SECOS A PREFER. DOS BRAZUCAS!
vinícius franco

Marcelo Paschoal disse...

Nivaldo, concordo em genero, númeor e grau. Meu pai mora em Louveira e por várias vezes me levou para visitar "vinicolas" que produzem vinhos que na maioria tem em sua mistura alcool e açucar. Claro, que só fui em respeito ao meu velho. Até então achava que os vinhos do Sul do Pais eram diferentes... Puro engano, em 2008 fiz a tradicional viagem à Serra Gaucha e visitei alguns dos principais produtores. A diferença para os vinhos de Jundiaí e região é que lá o processo é mais industrializado, mas a qualidade dos vinhos é a mesma, uma droga...

Nivaldo Sanches disse...

Grande Marcelo, obrigado pelos comentários - e seja bem vindo ao blog, com sua grande experiência de bebedor de vinhos !

Sim, eu também já estive na Serra Gaucha - passeio belíssimo, lugares lindos, bons hotéis, boa comida. Mas os vinhos ... como eu já disse em outro post, esta é minha sincera opinião : temos bons espumantes, temos alguns brancos interessantes, mas nossos tintos são ainda muito fracos ...
Melhoraremos, um dia ?

Grande abraço , apareça mais vezes por aqui !

Josi Pieri disse...

Caros senhores Marcelo e Nivaldo,
Não generalizem...

Há alguns anos acompanho a evolução do vinho brasileiro...
Não apenas os espumantes têm qualidade encontramos ótimos espumantes ou excelentes, mas há várias vinícolas brasileiras
produzindo brancos e tintos muitíssimos bem feitos. Posso citar alguns pra vc... Pra começar, conhece os vinhos da Alma Única, elaborados por Marcio Brandelli? Depois que provar o Syrah mudará sua opinião.
Provou os vinhos novos da linha RAR Miolo? Degustou o Pinot, o Viognier, o Chardonnay?

Cordialmente;

Josi Pieri - sommelière
josipieri@brancotinto.com.br
www.tvadega.com

Nivaldo Sanches disse...

Olá, Josi, obrigado pelo comentário !
De fato, os espumantes brasileiros são ótimos, e há brancos muito bons. No terreno dos tintos, já provei muita coisa - e ainda não encontrei vinhos que realmente me seduzissem. Mas admito que ainda há muito a conhecer - por exemplo, nunca bebi essa Alma Única a que você se refere. Com toda a certeza, há ainda uma enorme gama de vinhos tintos brasileiros que preciso provar, principalmente de vinícolas menores.
Quanto ao RAR da Miolo, já provei um corte de cabernet sauvignon e merlot, da safra 2007, in loco, lá na Miolo - não me agradou. Lembro-me dele como um vinho chato, sem acidez nenhuma, e com taninos rascantes que amargavam na garganta.
Se puder, dê a mim e aos leitores mais dicas de vinhos brasileiros ! Eu adoraria - de verdade ! - mudar minha opinião sobre eles !

Abraços

Josi Pieri disse...

Rsrsrs. Compreendo!
Durante muito tempo também fui cética sobre nossos vinhos tranquilos, confesso que não me
convenciam. Felizmente minha opinião mudou, uma pena que bons exemplares têm preços elevados, normalmente chegam às lojas custando bem mais caros, comparados com os produzidos pelos hermanos.
E se me permitir, oportunamente posso escrever um pequeno artigo para o seu blog sugerindo alguns rótulos.

Enoabraço;
Josi Pieri

Nivaldo Sanches disse...

Ótimo, Josi, faça isso, de verdade ! Mande para mim um texto sobre bons vinhos brasileiros e eu publicarei, com muito gosto, aqui no blog - para esclarecimento e informação meu e dos leitores do blog !

Beijos

Clovis Lins disse...

Daniel, isso que vc falou não é verdade!
existem alguns vinhos maravilhosos, e que são doces: são os chamados vinhos de sobremesa. os espetaculares, são muito caros no Brasil, mas vc encontra um vinho de colheita tardia, ou seja, feito de uva com alto gráu de açúcar, chamado Aurora colheita tardia, e que custa em torno de 16 reais.Se vc quiser subir de nível, pode comprar o Santa Helena ou Tarapacá, cosecha tardia, que já custam entre 30 e 40 reais..se bem que no Chile paguei 8 reais. E os vinhos brancos em geral são mais suaves, ou menos secos, como queira, mas muito bons.

abraço,

clovis lins

Clovis Lins disse...

Pessoal, se tiverem oportunidade, experimentem os vinho da Salton, o Desejo e o Talento...são vinhos feitos com cuidado! E tem alguns vinhos da casa Valduga, o Dom Laurindo, alguns miolo, etc...
Para comparar com vinhos importados, é bom fazer sempre às cegas as degustações.

Nivaldo Sanches disse...

Olá, Clóvis, obrigado pelos seus comentários.

Na verdade, acho que a polêmica toda aqui ficou por conta dos vinhos de mesa.

Eu mesmo sou um entusiasta dos vinhos doces, de sobremesa, como esses que você comentou. Já escrevi muito aqui no blog sobe alguns deles, como os Tokay, os Sauternes, os Late Harvest e até mesmo sobre o Aurora, que você mencionou, e que é realmente muito bom.

Ou seja - estamos totalmente de acordo !

Abraços, apareça por aqui mais vezes !

Anônimo disse...

Pois é gente,
sou de Teutônia/RS, produzo meu próprio vinho, sei que não é melhor que um chileno, mas de uma coisa lhes garanto: "É CEM POR CENTO PURO",
produzo para consumo próprio 270 garrafas anuais, dentre cabernet s., merlot e bordo.
Se quiserem provar, é so vir no porão de minha casa, creio que não se decepcionarão

obrigado, e abraços

Klima disse...

Eu nao gosto de bebidas ...estava em caracas, mas como nao tinha outra coisa que nao fosse etiqueta negra e agua, bebi um pouco de vinho suave sangue de boi,importado do brasil, un lujo lá, mas baratissimo em sao paulo, infelizmente gostei porque o sabor nao era muito forte, portanto me ajude com un nome de un vinho chileno suave parecido ... obrigado e parabens pela explicaçao

Klima disse...

nao gosto muito de alcool, estava em caracas e como nao tinha nada alem de etiqueta negra e agua de coco, experimentei um pouco de vinho suave sangue de boi, importado do brasil, um lujo por la, mas baratissimo em sao paulo e infelizmente gostei do sabor,me recomenda um similar chileno y muchisimas gracias amigo ... wilkat2004@hotmail.com

Anônimo disse...

Muito esclarecedor sua resenha, todavia fiquei arrasada, por descobrir que tive o paladar moldado pelo "suquinho" nacional e agora tenho grande dificuldade em apreciar um vinho de qualidade por parecer-me muito seco :(

Anônimo disse...

Olá, eu estou aprendendo a beber vinhos e tenho muitas duvidas. O sabor de alguns que experimentei feitos com uvas Carménère tinham um sabor bem adstringente...muito amargo. Gosto de bebidas mais adocicadas e gostaria da indicação de alguns vinhos mais "suaves". Obrigada.

Nivaldo Sanches disse...

Dois comentários "Anônimos" entraram no blog por estes dias ... É pena não saber o nome das pessoas que estão comentando -mas vamos tentar responder, mesmo assim.

Quase todos nós, brazucas, começamos a beber vinho a partir dos nossos famosos "vinhos suaves", em geral produzidos no Rio Grande do Sul ou aqui em São Paulo, na região de São Roque. É normal que nosso paladar fique acostumado com esses vinhos, e "estranhe" um pouco os vinhos chamados de "secos", em geral produzidos com as variedades internacionais - cabernet sauvignon, carmenère, merlot ...

Se vocês estão realmente interessados em "treinar" o paladar para esses vinhos, um bom começo podem ser os vinhos das uvas merlot e pinot noir. São vinhos que, em geral, carregam menos taninos - exatamente esse sabor adstringente e seco que marcam os vinhos chamados varietais. A suvas merlot e pinot noir, menos tânicas, podem ser um bom ponto de partida. Mas, acima, de tudo, lembrem-se - o importante mesmo é extrair prazer do ato de bebericar o vinhozinho de cada dia ... Se vocês têm esse prazer com os famosos vinhos suaves brasileiros, relaxem e aproveitem seu prazer !!
Jamais permitam que seu prazer seja prejudicado pelos conceito supostamente "sérios" dos "entendidos", como este humilde blogueiro !
Um grande abraço a vocês !

Vanessa disse...

Existe vinho "suave" produzido a partir da uva Cabernet Sauvignon???

Nivaldo Sanches disse...

Olá, Vanessa !

Bem, na verdade, os chamados "vinhos suaves" brasileiros são, em sua maioria, produzidos com as famosas uvas não viníferas. Eu não conheço nenhum vinho marcado como "suave" que tenha sido produzido com cabernet sauvignon - pode ser que exista, no Rio Grande do Sul, mas eu pessoalmente nunca vi. Em geral, esses vinhos são marcados como "secos";

Prove algum dos bons cabernet sauvignons, mesmo sendo "secos" - você pode se surpreender !

Unknown disse...

Meu caro, gosto muito de vinho e estou aprendendo aos poucos. Dentre os tintos (merlot, tannat, etc...) qual o mais fácil de beber, entendi suas explicações mas gostaria de saber o mais suave dentre os secos..
Entendeu...rsrs

Unknown disse...

Meu caro, gosto muito de vinho e estou aprendendo aos poucos. Dentre os tintos (merlot, tannat, etc...) qual o mais fácil de beber, entendi suas explicações mas gostaria de saber o mais suave dentre os secos..
Entendeu...rsrs

Nivaldo Sanches disse...

Olá, Edson Oliveira, obrigado por seu comentário !

Bem, eu acho que para bebedores "principiantes", a melhor sugestão seria iniciar com vinhos de uvas mais suaves, sem muitos taninos, e que possam parecer mais "macias" na boca. Eu recomendo tentar com os vinhos de uva merlot ou pinot noir, que são talvez mais "fáceis" de beber. Deixe para depois os malbec, cabernet sauvignon e tannat (principalmente tannat !).

Uma outra possibilidade seria começar com alguns vinhos italianos, como os Primitivo, produzidos na Puglia, ou os Nero d'Avola, produzidos na Sicília.

Acima de tudo, lembre-se sempre que o que é REALMENTE importante é você sentir prazer no ato de bebericar o seu vinho ... Não dê muita bola para o que dizem os "entendidos", como eu mesmo, e siga o seu próprio paladar !

Abraços

Unknown disse...

SENSACIONAL!!!Acho de muito bom gosto o seu comentário sobre saborear o que gosta.Certamente tem que ser prazeroso acima de tudo.Dei  preferência para o tannat pelos inumeros benefícios à saúde, porém, ele é muito forte...rsrsComprei hj o merlot e depois te conto como foi.Um forte abraço e muito obrigado pela ajuda.


Sucesso sempre...

Unknown disse...

Estou a viver em França e gostava de uma sugestão de vinho que mais se assemelha a suco de uva ... ou seja, algo que co siga sentir o sabor da uva e não só álcool

Gildo Alves disse...

Achei muito interessante esse post, e também os comentários. Comecei a beber vinho a pouco tempo, e sempre gostei de bebidas mais "adocicadas", por isso prefiro os ditos "vinhos suaves", experimentei um cabernet sauvignon da região de Mendoza, e não gostei, já o vinho do Porto achei bem legal, porém o preço é meio salgado. Gostaria de saber qual o vinho dito "fino" mais doce no sabor, e se tem algum vinho do porto que seja mais barato, obrigado.

PS.: Achei interessante seu comentário dizendo que o que mais vale é o prazer de beber o vinho.

Nivaldo Sanches disse...

Olá, Gildo, muito obrigado pelos comentários - fico feliz que você tenha se interessado pelo blog !

Bem, se você gosta de vinhos mais "suaves", sugiro que você tente provar algum vinho da uva Pinot Noir - eles não são propriamente "suaves", mas são menos carregados nos taninos, que são substâncias da casca da uva que fazem o vinho ficar mais "áspero". O problema é que eles não são muito baratos, não ... Uma outra opção, que pode sair mais em conta, são os vinhos produzidos no sul da Itália, com as uvas Nero d'Avola ou com a uva Primitivo. Você pode encontrar alguns rótulos em supermercados ou em lojas especializadas.

Sobre o vinho do Porto - ele é mesmo delicioso ... Alguns dos mais baratos que você pode encontrar nos supermercados de SP (não sei onde você está ...) são da marca Messias, que saem por cerca de 60/65 reais.

Uma outra opção interessante, já que você curte o vinho do Porto, são os vinhos da Madeira. Eles são semelhantes ao Porto em termos de processo de produção, e costumam ser um pouquinho mais baratos, embora sejam mais difíceis de encontrar.

Espero ter ajudado, e continue seguindo o lema do blog : o que realmente importa é que você tenha prazer com o que está bebendo !

Abraços

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