E vamos nós, Tereza e eu, mais uma vez, dar vazão a esse nosso irresistível instinto científico : qual o vinho que harmoniza bem com moqueca de peixe à baiana ?
A moqueca, todo mundo conhece - bom peixe fresco, cebolas, tomates, pimentões, azeite de dendê, leite de coco, coentro ... Dá água na boca, só de escrever sobre isso : a gente quase chega a sentir os aromas !
Há quem diga - e não sem razão - que uma cervejinha gelada talvez seja a melhor combinação para escoltar uma moqueca. Mas - ai de nós ! - a gente vive querendo beber vinho ... O negócio é ir tentando ...
Na verdade, já fizemos boas harmonizações com vinhos brancos da uva chardonnay (é o que a boa literatura sobre vinhos recomenda). Também já tentamos umas coisas que não deram muito certo - torrontés, riesling, gewürztraminer.
Mas a ciência não pode parar ! Vamos nós, como se fossemos Pierre e Marie Curie redivivos, prosseguir em nossos experimentos em prol dos conhecimentos !
Optamos, desta vez, por um vinho bem diferente : um riesling, sim, mas um riesling australiano. Foi o The Dry Dam Riesling d'Arenberg 2011. O d'Arenberg é um produtor australiano de mais de cem anos, que tem duas marcas registradas : os nomes engraçadinhos de seus vinhos, e as tentativas (bem-sucedidas, ao meu ver) de produzir na Austrália, no Vale do McLaren, vinhos típicos da França. Já comentei aqui no blog um dos meus preferidos de lá, o The Stump Jump. Se você ficou curioso, leia aqui.
The Dry Dam tem esse nome pelo fato de, segundo o produtor, as primeiras vinhas terem sido plantadas ao lado de um açude que jamais se encheu de água - ou seja, um dry dam.
O vinho tem um aroma floral marcante, com notas cítricas. De coloração muito clara, com leves reflexos amarelados, na boca ele se apresentou intenso e marcante - um vinho original, pra dizer o mínimo. Assim que a garrafa foi aberta, os sabores e aromas minerais sobressaíam. Depois de algum tempo, esses aromas mais duros amaciaram, e predominância eram os florais. Interessante como, ao longo da noite, ele foi se modificando : no final do jantar, ele estava quase doce, parecendo um vinho de sobremesa ... Muito curioso !
E harmonizou com a moqueca ? Bem, a gente chegou a conclusão de que estava apenas razoável ... O melhor momento foi mesmo quando os aromas florais se sobrepunham, mas deixando perceber, lá no fundo, aquela coisa mineral - um troço a que alguns autores se referem como "pedra-de-isqueiro". A combinação e o bom equilíbrio entre esses dois extremos ajudou a harmonização com a moqueca - que, a propósito, estava deliciosa !
Enfim, parece que a harmonização perfeita da moqueca é mesmo com os velhos e bons chardonnay ... ou você prefere a sua com uma cervejinha ?
quinta-feira, 2 de maio de 2013
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11 comentários:
chardonnay com madeira ou sem ?
Alexandre, na minha opinião, chardonnay SEM madeira ... Acho que a madeira mascara demais a fruta e, no caso da moqueca, vai se sobrepor a todos os outros sabores. Eu tentaria sem madeira ..
Grande abraço !
Azeite de dende? Leite de coco? Você está falando de peixada, não de moqueca.
Olá, seu nome não apareceu na lista, Anônimo ...
Bem, não sou nenhum especialista, mas se a gente bota "moqueca" no Google, aparecem dezenas de receitas com muitas variações, mas quase todas levam azeite de dendê e leite de coco. Há uma variação, a chamada moqueca capixaba, que não leva dendê, e leva um corante/tempero chamado urucum ... O que você chama de moqueca ? Compartilhe com a gente !
Abraços !
Nivaldo, tenho uma sugestão, que já testei.
Tente um branco da região de Beira Interior - Portugal.
Um abraço
Antonietto
Sugestão:
Um branco da região de Beira Interior, Portugal.
Um abraço
Antonietto
Boa ideia, Antonietto, já provei bons brancos da Beira, mas nunca com moqueca ... Vou tentar, prometo !
Obrigado pela dica.
Ontem fiz um jantar para amigos, e o prato adivinha? Moqueca Baiana, servi o vinho Amalaya Blanco 2012 e achei o resultado excelente! Marisol
Olá, Marisol, obrigado pelo comentário ! O Amalaya Blanco é um vinho argentino que tem uma combinação bastante original - a velha e boa riesling, originária da Europa Central, com a torrontés, essa uva enigmática com a qual os argentinos andam produzindo vinhos muitíssimos agradáveis. Vou seguir sua sugestão e arriscar, uma hora dessas. Afinal, o nome "Amalaya" significa, em linguagem indígena local, "esperança de um milagre" ... Quem sabe o milagre em questão não é exatamente a harmonização perfeita com moqueca ?!?
Eu vou comer moqueca amanhã e tentarei os seguintes: pecorino, roussanne, rhône branco e um branco italiano (chardonnay com ribolla). vamos ver...
Ótimo, Pri, obrigado por seu comentário ! É uma excelente seleção de vinhos brancos - conte pra gente, depois, como foi sua experiência. Sobre a ribolla : há algum tempo, provei um delicioso vinho branco da Eslovênia, chamado Marjam Simcic, feito de uma uva chamada rebula - é a mesma ribolla gialla da Itália, aliás proveniente de uma região que faz fronteira com a Eslovênia. Não experimente este vinho com a moqueca, mas com comida japonesa, e a combinação foi excelente !!!
Abraços, volte sempre !
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