Há, no mundo dos vinhos, um conceito bem
manjado – quando a gente está falando de vinhos do Velho Mundo (França, Espanha,
Portugal, Itália, etc.), o que vale conhecer é o tipo de vinho (Chianti,
Barolo, Primitivo…) ou a região produtora (Borgonha, Rioja, Alentejo …)
Já quando a gente está falando dos vinhos
do Novo Mundo (Chile, Argentina, África do Sul, Nova Zelândia, Austrália,
etc.), o que conta é a uva declarada no rótulo (cabernet sauvignon, chardonnay,
malbec, etc.)
O pessoal de Bordeaux, por exemplo, nem
pensa em registrar nos seus rótulos que seus vinhos são feitos com cabernet
sauvignon, merlot e otras cositas más. Da mesma forma, o pessoal do Douro, jamais
registra nos seus rótulos aqueles nomes curiosos das uvas que eles usam por lá
: touriga nacional, tinto cão, tinta roriz.
Porque será que é assim ?
Bem, há, de cara, uma explicação histórica
para isso. Os vinhos da Europa, em geral, são produzidos por lá há séculos - e ficaram mundialmente conhecidos exatamente
por suas denominações originais. São os Bordeaux e os Borgonhas, os Douros e os
Alentejos, os Chiantis e os Barolos, os Riojas e os Ribera del Duero …
Para produzir essas maravilhas, cada
família de produtores tinha, há gerações e gerações, a sua própria formula mágica
– uma base de cabernet sauvignon, um tanto de merlot, um nadinha de petit
verdot – e o Bordeaux estava pronto !
Quando começaram as migrações europeias em
direção ao chamado Novo Mundo, os agricultores que migravam tratavam de levar
suas mudazinhas de videiras, para produzir seus vinhos nas novas terras. Eles
podiam levar as videiras – mas não podiam levar na bagagem o conjunto do
terroir e das centenárias tradições vinícolas de suas regiões natais …
Eles se viraram como puderam. Nem todas as
uvas europeias se davam bem nas terras do Novo Mundo – e isso dificultava a
produção dos vinhos como eles estavam acostumados. Eles trataram de plantar as
cepas que realmente vingavam nas novas terras – e faziam seus vinhos com o que
era possível.
Daí, o surgimento, no Novo Mundo, dos
chamados vinhos varietais – aqueles feitos com apenas UMA variedade de uvas :
merlot, cabernet sauvignon, chardonnay, malbec, sauvignon blanc …
Mas há também uma outra razão, de origem mais
– digamos – marqueteira. Quando os caras trataram de vender seus vinhos no mercado
internacional, eles não dispunham de “nomes fortes” como Chianti, Rioja,
Borgonha para ostentar nos seus rótulos. Vamos e venhamos – se eles tratassem
de colocar no rótulo, em destaque, nomes como Mendoza, Maipo, Stellenbosch e
outros do tipo, ninguém ia comprar aquelas coisas esquisitas …
A saída, claro, foi imprimir, em grandiosas
letras douradas, “MERLOT” , “MALBEC”, “CHARDONNAY”, ou fosse lá o que fosse que
eles estivessem usando …
Com o tempo, essa passou a ser uma especie
de marca registrada – os vinhos do Novo Mundo são, até hoje, principalmente identificados
como varietais, ao passo que os vinhos do Velho Mundo são principalmente identificados
pelos seus nomes – ou regiões – tradicionais.
É isso aí !