sexta-feira, 23 de junho de 2017

Sua Majestade, a pinot noir



Toda reverência é pouca para falarmos dessa grandiosa uva ! Para escrever este post, por exemplo, eu coloquei meu smoking e minha black-tie

Sim, pois estamos falando de uma uva que tem a marca da nobreza. Frágil e delicada, ela exige, para ser cultivada, condições climáticas muito específicas – há de ser uma região fria e seca. Sua casca, muito fina, é extremamente sensível às pragas e aos insetos que podem florescer em locais mais úmidos e mais quentes – sim, sim, exatamente como a pele sensível de uma pálida princesinha criada a Toddy dentro das muralhas de seu castelo …

A pinot noir prefere solos calcários, através dos quais ela possa lançar suas raízes em grandes profundidades para buscar seus preciosos nutrientes.

Essas frescuras da pinot noir fez com que, por muito tempo, ela fosse plantada apenas na região da Borgonha, na França – onde ela se originou, há cerca de dois mil anos. Só nos anos 80 e 90 do século XX sua produção foi levada para algumas outras áreas do mundo, graças aos esforços da tecnologia.

O vinho gerado a partir da pinot noir é quase inconfundível no olhar – é um vinho rosado, translúcido, bem clarinho – chega, às vezes, a lembrar um vinho rosé. Isso se deve à baixa presença, na casca da uva, das substâncias chamadas antocianinas – os pigmentos que dão aos vinhos sua cor de … bem, de vinho.

Mas a cor engana o incauto bebedor – você olha a taça, e supõe que vá provar um vinho suavíssimo. Ao primeiro gole, você se surpreende – o vinho é potente e pleno de sabores, marcante e absolutamente único.

Os grandes borgonhas, feitos exclusivamente com pinot noir, harmonizam perfeitamente com carnes suculentas como o boeuf bourguignon, com seus legumes e bacons. Harmoniza também com queijos cremosos como o brie e o camembert, com cogumelos, com trufas. Pessoalmente, eu gosto de pinot noir mesmo para alguns peixes de sabor mais marcante, como atum e mesmo bacalhau. Há quem diga que um bom borgonha harmoniza até com tapa na orelha …

E temos aí outra característica – eu ia dizer outra frescura – da pinot noir : ela não costuma ser boa para cortes, ou seja, para ser misturada com outras uvas. Sua elegância e sua delicadeza seria certamente contaminada ou mascarada pela presença de outras uvas. Pois é, a nobreza não se mistura com a ralé …

A não ser … bem, sim, há, de fato, um lugar onde a pinot noir concede ser misturada a outras pobres uvinhas … É a região de Champagne, também na França. Lá, a pinot noir se deixa mesclar à chardonnay e à pinot meunier – mas o motivo dessa condescendência é também nobre : esse blend vai gerar, simplesmente, os fabulosos champagnes franceses.

Pena que os vinhos da Bourgogne, onde a pinot noir é soberana, sejam TÃO caros pra nós, pobres brazucas

O jeito é ir de garrafinhas produzidas em outros locais – a Nova Zelândia produz bons vinhos dessa uva, e também no Chile e na Argentina (em menor escala) ela anda se dando bem.

Mas não se enganem – os pinot noir desses países do Novo Mundo são bons, mas ainda não se comparam aos da Borgonha.

Sua Majestade não se rende tão facilmente !







quarta-feira, 7 de junho de 2017

Excelente lugar, ótima comida ... e alguns vinhos

No último final de semana, a nossa BIP (Busca Incansável do Prazer) nos levou, ao lado de amigos queridos, a um belo cantinho da sempre bela Serra da Mantiqueira – o Restaurante Entre Vilas, próximo à cidade de São Bento do Sapucaí.

Os arredores são belíssimos – o verde e as imponentes montanhas da Mantiqueira, emoldurados, como estavam no sábado, por um céu tão azul que chegava a parecer artificial …

O restaurante é agradável, o pessoal de serviço é simpático, o proprietário e chef (Rodrigo Veraldi) é simpaticíssimo – e a comida é ótima, como mencionei lá no título do post. A proposta é mesmo de slow-food : você passa a tarde toda por lá, comendo diversos pratos, e espiando, sem pressa, a paisagem ao redor.

Definitivamente, é um lugar que vale a pena ser visitado, num fim-de-semana, para quem gosta de fugir de Sampa de vez em quando. Há até quem faça o famoso bate-e-volta, indo até lá só para almoçar e retornando no fim do dia. Pessoalmente, acho meio cansativo – foi uma delícia dormir por lá mesmo, numa bela pousada a 3 km de distância, e ainda desfrutar da manhã de domingo no mato.

Porém – ai, porém, como no samba do grande Paulinho da Viola …

Minha solene recomendação é que, pra acompanhar o bom almoço, você vá mesmo de cervejas, refrigerantes, sucos, essas coisas …

O Entre Vilas funciona também como vinícola, e serve no seu cardápio os vinhos produzidos por ali mesmo, na própria Mantiqueira – e, neste pormenor, a experiência não foi nada boa, não ...

Demos início aos trabalhos com um rosé feito da uva syrah, chamado Vento, safra de 2017. O vinho já tinha uma coloração um tanto estranha, avermelhada demais, parecendo artificial. Havia uma certa borra no vinho, também bastante estranha em se tratando de um rosé novíssimo. Aroma, nenhum. Na boca, nada de acidez, e um sabor residual de … groselha ! Não a fruta, mas a velha Groselha Vitaminada Milani – acho que todo mundo lembra do sabor, né ? Não cheguei a beber minha taça toda.



Passamos depois aos tintos – o vinho seguinte foi um tinto de cabernet franc, chamado Montesa. O visual até que prometia, com seus reflexos violáceos bem marcantes. No nariz, a mesma ausência de qualquer fragrância, e na boca, a mesma falta total de acidez. Um vinho desequilibrado, chatinho, quase sem sabor.


A terceira garrafa foi do chamado Obsession, um blend de cabernet sauvignon e cabernet franc (em proporção de 80 % e 20 % respectivamente, segundo o proprietário). Este apresentava um aroma um pouquinho mais pronunciado- mas, mais uma vez, acidez zero e sabores muito, muito sutis – quase imperceptíveis, diria eu …

Acabou que o melhor vinho do dia foi a garrafa seguinte, o Vinho da Estância, um blend de cabernet sauvignon, tannat e tempranillo – que não é produzido lá, e sim em Dom Pedrito, na Campanha Gaúcha, pela Vinícola Guatambu.

Como se não bastasse, os vinhos são bem caros – o rosé custava 110 reais, o cabernet franc custava 130 reais, e o blend 150 reais. Definitivamente, pouca qualidade para muito preço …


Resumo da ópera : visite o Entre Vila com seu grupo de amigos, divirta-se com o passeio em si, aproveite a boa comida e a simpatia do pessoal – mas deixe o vinho pra lá …


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