Toda reverência é pouca para falarmos dessa
grandiosa uva ! Para escrever este post, por exemplo, eu coloquei meu smoking e
minha black-tie …
Sim, pois estamos falando de uma uva que
tem a marca da nobreza. Frágil e delicada, ela exige, para ser cultivada,
condições climáticas muito específicas – há de ser uma região fria e seca. Sua
casca, muito fina, é extremamente sensível às pragas e aos insetos que podem
florescer em locais mais úmidos e mais quentes – sim, sim, exatamente como a
pele sensível de uma pálida princesinha criada a Toddy dentro das muralhas de
seu castelo …
A pinot noir prefere solos calcários,
através dos quais ela possa lançar suas raízes em grandes profundidades para
buscar seus preciosos nutrientes.
Essas frescuras da pinot noir fez com
que, por muito tempo, ela fosse plantada apenas na região da Borgonha, na
França – onde ela se originou, há cerca de dois mil anos. Só nos anos 80 e 90
do século XX sua produção foi levada para algumas outras áreas do mundo, graças
aos esforços da tecnologia.
O vinho gerado a partir da pinot noir é quase
inconfundível no olhar – é um vinho rosado, translúcido, bem clarinho – chega,
às vezes, a lembrar um vinho rosé. Isso se deve à baixa presença, na casca da
uva, das substâncias chamadas antocianinas – os pigmentos que dão aos vinhos
sua cor de … bem, de vinho.
Mas a cor engana o incauto bebedor – você olha
a taça, e supõe que vá provar um vinho suavíssimo. Ao primeiro gole, você se
surpreende – o vinho é potente e pleno de sabores, marcante e absolutamente
único.
Os grandes borgonhas, feitos exclusivamente
com pinot noir, harmonizam perfeitamente com carnes suculentas como o boeuf
bourguignon, com seus legumes e bacons. Harmoniza também com queijos cremosos
como o brie e o camembert, com cogumelos, com trufas. Pessoalmente, eu gosto de
pinot noir mesmo para alguns peixes de sabor mais marcante, como atum e mesmo
bacalhau. Há quem diga que um bom borgonha harmoniza até com tapa na orelha …
E temos aí outra característica – eu ia
dizer outra frescura – da pinot noir : ela não costuma ser boa para cortes,
ou seja, para ser misturada com outras uvas. Sua elegância e sua delicadeza
seria certamente contaminada ou mascarada pela presença de outras uvas. Pois é,
a nobreza não se mistura com a ralé …
A não ser … bem, sim, há, de fato, um lugar
onde a pinot noir concede ser misturada a outras pobres uvinhas … É a região de
Champagne, também na França. Lá, a pinot noir se deixa mesclar à chardonnay e à
pinot meunier – mas o motivo dessa condescendência é também nobre : esse blend
vai gerar, simplesmente, os fabulosos champagnes franceses.
Pena que os vinhos da Bourgogne, onde a
pinot noir é soberana, sejam TÃO caros pra nós, pobres brazucas …
O jeito é ir de garrafinhas produzidas em
outros locais – a Nova Zelândia produz bons vinhos dessa uva, e também no Chile
e na Argentina (em menor escala) ela anda se dando bem.
Mas não se enganem – os pinot noir desses
países do Novo Mundo são bons, mas ainda não se comparam aos da Borgonha.
Sua Majestade não se rende tão facilmente !