terça-feira, 16 de agosto de 2011

O aroma apurado do garçon

Siena, na Toscana - a bela Piazza del Campo



Há alguns anos, estávamos, Tereza e eu, flanando pela Toscana, desfrutando daqueles cenários maravilhosos, conhecendo as encantadoras cidadezinhas medievais - e, obviamente, bebendo vinhos.

Uma noite, estávamos em Siena, e decidimos jantar em um restaurante chamado Osteria Le Logge, no coração da linda cidade.

Escolhemos os pratos, e decidimos beber um Brunello di Montalcino Argiano 1999 - um dos grandes vinhos que tomamos nessa viagem. Estando por lá, na Itália, dá pra encarar o Brunello, que sai por no máximo 30 euros - a mesma garrafa sairia, aqui no Brasil, por cerca de 250 ou 300 reais.

Para quem não conhece, o Brunello di Montalcino é o mitológico vinho da Toscana, feito com uvas sangiovese plantadas ao redor da cidade de Montalcino. Apesar de ser produzido por lá desde o século XIX, foi por volta dos anos 70 e 80 que o vinho se tornou famoso - e caríssimo - mundialmente.

Muito bem, lá vem o garçom (um rapazola de vinte e poucos anos) com nossa garrafinha de Brunello. Ele me mostra o rótulo, eu aprovo - como manda o figurino - e ele se põe a abrir a garrafa. Ao sacar a rolha o rapaz faz uma careta. Aproxima a rolha do nariz, dá uma fungadinha, pede licença e se retira, com a garrafa na mão - para nosso completo pasmo ...

Dali a pouco ele retorna, com outra garrafa, e nos explica o que aconteceu : ele sentiu, na garrafa e na rolha, um aroma estranho. Ficou cismado e foi procurar, segundo ele, uma pessoa "mais experiente", lá dentro, que confirmou - aquele vinho não estava bom. Portanto, lá estava ele, com uma segunda garrafa nas mãos. Esta foi aberta, mereceu a aprovação dele e a minha, e bebemos nosso Brunello alegremente.

Mas ficou, para nós dois, a dúvida eterna : como será que estava aquela outra garrafa, a que ele retirou ? Será que nós - tão entendidos ! - teríamos percebido com a mesma agilidade o que o jovem garçom percebeu numa rápida cafungada ? Será que teríamos mesmo notado o problema ?

Até hoje a gente se recrimina - devíamos ter mandado ele deixar as duas garrafas ... É, sim, senhor, não tem pobrema - nós vamos beber a boa e depois vamos beber a estragada, pódexar ...


11 comentários:

Pablo disse...

Você imagina essa situação aqui na nossa cidade? Já tive discusões com algum garçom por eu não aceitar o vinho que ele mesmo ofereceu para experientar (como manda o "figurino")
Sempre acabo me perguntando, a ceremonia é só "pour la gallerie"? ou de fato temos direito a rejeitar algo que simplesmente não da? (assunto ja debatido no passado neste blog )

Anônimo disse...

Entendo vocês perfeitamente... Seria no mínimo um aprendizado provar daquela que foi considerada como inadequada...

Nivaldo Sanches disse...

Olha, Pablo, pra dizer a verdade, acho que nunca passei por uma situação (no Brasil ou fora) em que eu recusei o vinho e o garçom discutiu ... Nas poucas vezes em que recusei, o pessoal do restaurante foi solícito em substituir. Não sei se dei sorte - ou se meu nariz não é tão bom como eu gostaria, e os caras me enganam com freqüência, sei lá ... risos ...

Nivaldo Sanches disse...

Pois é, meu amigo anônimo, seria um aprendizado - ou então, em se tratando de um Brunello, a gente ia dar um jeito de beber mesmo estragadinho ... risos ....

Abraços !

Pablo disse...

passei por essa experiencia logo que cheguei no Brasil no "Bar das Artes".
Vinho estragado acontece, de fato semana passada abri um Nieto Senetiner 2008 e estava estragado, realmente impossível. Joguei o conteúdo todo no ralo da pia com muita dor, como todo bom bebedor de vinho sente nesse momento...

Nivaldo Sanches disse...

Em casa dói muito mais, claro, já que morremos com o prejuízo ... risos ...

Duro é quando se trata de um vinho especial, caro, que foi guardado por alguma razão ...

Abraços !

MondoVinho disse...

Nivaldo, olha a coincidência: ontem aconteceu o mesmo comigo e também com um Brunello (Val di suga, Angelini)! Mas em ordem invertida: eu que identifiquei logo na primeira cafungada que o vinho estava oxidado, chamei o sommelier e ele confirmou a minha avaliação e mandou trocar rapidinho a garrafa...
Ah, estes brunellos! Se não podemos nem confiar mais neles qual será o destino da humanidade, hein? rsrsr ;-)
Grande abraço, meu amigo!

Nivaldo Sanches disse...

É isso mesmo, Mario, o mundo está perdido, tudo que é sólido se desmancha no ar ... até o Brunellos andam estragando ... que será de nós ?!?

É o Apocalipse !

Evelyn Fligeri disse...

KKKKKKKKKKKK... nem tenho o que comentar!! Eu também queria provar o Brunello estragadinho...
Beijo

Walther disse...

Caros amigos blogueiros e Nivaldão,
Na única vez em que fui à Toscana, especificamente em Siena, tive o prazer imenso de conhecer a famosa Enoteca di Siena, onde se pode degustar uma enorme variedade de vinhos a preços muito bons. Estando por lá, não deixem de ir!

Nivaldo Sanches disse...

Essa dica é realmente ótima, Walther ! Também estivemos na Enoteca di Siena, uma vez, e pudemos provar por lá umas coisinhas que, fora dali, ficam caríssimas, como um Sassicaia, por exemplo ...
E o serviço é legal, o lugar é lindo, a cidade é encantadora ...

Abraços

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