quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Peixes e mais peixes em Campinas

Os anfitriões

No sábado passado, estivemos em Campinas, na casa de nossos queridos amigos Cláudia e Walther. Temos feito muitas degustações e harmonizações com eles - às vezes aqui em Sampa, às vezes lá em Campinas. Como sempre, comemos muito bem, rimos muito, nos divertimos - e bebemos muito vinho, é óbvio ...

Nosso jantar consistiu basicamente de peixes, em diversas apresentações.

O festim teve início com uma rodada de ótimos sushis - na verdade, eram hossomaki, aqueles sushizinhos tradicionais enrolados com a alga por fora. Existe uma eterna discussão sobre qual o vinho adequado para acompanhar sushis. Há quem prefira vinhos brancos mais ácidos (como sauvignon blanc ou riesling), há quem prefira os chardonnay mais clássicos - e há quem diga pra gente esquecer o vinho e ir mesmo de um bom saquê.

Nossos anfitriões, sempre sábios, optaram por uma saída clássica, incapaz de desagradar os mais exigentes consumidores : champagne ...  

Batemos uma boa garrafinha de Champagne Montaudon Brut. A Montaudon é uma vinícola que fica no coração da região francesa de Champagne, e produz seus vinhos espumantes por lá desde o início do século XIX.  Este vinho que bebemos, feito com pinot noir, chardonnay e pinot meunier,  tinha muito frescor e equilíbrio, com aromas de frutas e um final prolongado. Combinou muito bem com os sushis.

Depois, partimos para uma anchova grelhada, acompanhada de vagens sautée - delicioso ! Aqui, o vinho escolhido foi um Yellow Tail Chardonnay 2010, um australiano que tem estado muito presente nas prateleiras das lojas aqui em São Paulo. Este vinho é produzido em Riverina, New South Wales, pela vinícola Casella. Pra quem não conhece a história, o tal do "rabo-amarelo" abalou o mercado americano alguns anos atrás, e é até hoje um dos vinhos mais vendidos no mundo. A proposta deles, tanto nos EUA como aqui, é fazer um vinho honesto, bem-feito, barato, fácil de beber e capaz de atrair um mercado imenso formado por jovens que habitualmente preferem beber cerveja. Já provei o shiraz e o chardonnay, ambos numa faixa de preços de 30/35 reais - vale a pena experimentar, garanto.

Tereza, sempre chateada diante de boa comida e bons vinhos ...
Mas havia ainda um terceiro prato, um saumon en papillote - aquele salmão que é assado no forno embrulhado em alumínio, junto com tenros raminhos de brócolis e couve-flor e pedacinhos de cenoura. Bacana, né ?

E aí veio a dúvida - continuar no vinho branco ou migrar discretamente para os tintos ?

Optamos pela segunda : um Viñamar Pinot Noir 2010, um chileno produzido no Valle de Casablanca. Pessoalmente, gosto muito de harmonizar peixes com pinot noir (quando nada, pra contrariar a velha regra do "vinho branco com peixe").

Depois do jantar, como ainda tínhamos sede (!!), deu tempo de finalizar com um um bom e leal Luigi Bosca Pinot Noir 2010.

Resumo da ópera - foi tudo ótimo, como sempre, é claro ...

A próxima será em Sampa !

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Aniversário de casamento merece um grande vinho, não ?



Merece, merece, sim ...

Inda mais quando se trata de um aniversário como este que Tereza e eu fizemos ontem - completamos 21 anos de muita união, amor, companheirismo, solidariedade, cumplicidade ... Quem diria que já lá vão 21 anos !

Quando estivemos em Mendoza pela última vez, em março deste ano (com aquela divertidíssima turma : Guillermina, Adalberto, Adriana, Sebastian, Cláudia, Chico), uma das melhores visitas que fizemos foi à Viña Cobos. Fomos recebidos de maneira muito gentil e profissional - e bebemos vinhos realmente excelentes ...

Trouxemos de lá duas garrafinhas do maravilhoso Cobos Malbec 2007, um vinho que pode chegar fácil, fácil aos 600 reais nas lojas de Sampa. Lá, nos custou doloridos 240 reais.

Pois decidimos que, para comemorar nosso aniversário de casamento, nada melhor do que abrir uma garrafa de Cobos (a segunda, já que a primeira desperdiçamos em uma apressadíssima e frustrada combinação com bacalhau que deu completamente errado).

Quando visitamos a Viña Cobos, perguntamos que tipo de harmonização eles recomendavam para o seu vinho Cobos, o top de linha. A resposta foi singela - nenhuma. A sugestão era que o Cobos fosse tomado sozinho, sem nenhum acompanhamento, como um vinho de meditação, para que toda sua riqueza pudesse ser convenientemente apreciada ... É mole ?!?

Pois nós decidimos, ontem, seguir a recomendação deles. Bem, quase isso. Já que teríamos que comer alguma coisa, decidimos apenas comprar uns queijinhos, uns frios e uns pãezinhos especiais - e dedicar nossa atenção toda para o vinho.

Meus amigos, foi ótimo ! O Cobos Malbec 2007 é um vinho que levou 99 pontos do famoso Robert Parker, o tal americano que é hoje a maior autoridade mundial em vinhos. Eu não costumo levar muito a sério essas pontuações - mas tenho que admitir que, neste caso, o velho RP está coberto de razão.

É um malbec de aroma muito intenso, que começa com uma explosão de fruta e depois vai revelando maiores complexidades : tabaco, café, defumado. Na boca, o danado é elegante, macio, estruturado - delicioso. São 15 graus de álcool, mas garanto - a gente não sente nem no nariz nem na boca.

Enfim, bebemos, comemoramos, meditamos (como sugeriu o pessoal da vinícola ...) - e desconfio que estamos prontinhos para, pelo menos, mais 21 anos !

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Amigos argentinos, bacalhau à espanhola, vinhos portugueses

O bacalhau e as batatinhas

Sábado foi dia de bacalhau - e um delicioso bacalhau (acho que era à espanhola) : postas altas, tenras, com muito azeite, alho, cebolas, grão-de-bico e pimentões vermelhos.

O peixe, tocado pela ponta do garfo, se desmanchava em lascas brancas e macias - só de lembrar, me vêm lágrimas à boca ...

A artista foi a Guillermina, nossa querida amiga argentina, e estávamos em um grupo de sete pessoas : Adalberto e Gui (os donos da casa), Adriana e Sebastian, Tereza e eu - e Don Rodolfo presidindo os trabalhos. Ah, sim : o Luca também estava por lá, mas entediado com o chatíssimo papo dos adultos preferiu ficar no seu quarto jogando video-game ...

Os vinhos foram portugueses - por coincidência (ou falta de imaginação ?) tínhamos todos dado uma passadinha na Adega Alentejana, bela casa de vinhos portugueses aqui em Moema, em São Paulo. Visitem o site (http://www.alentejana.com.br/) e, se puderem, a própria loja - vale a pena pela variedade, qualidade e preço dos vinhos portugueses (na maioria alentejanos) e pela simpatia da Virgínia, que recebe a gente sempre com um sorriso acolhedor.




Demos início aos trabalhos da noite com um Paulo Laureano Premium Tinto 2008, um bom alentejano feito com as castas típicas : alicante bouschet, aragonez e trincadeira. Um vinho redondo e equilibrado, com a madeira presente mas discreta. Aromas de frutas negras com um toque de torrado ou de defumado - muito bom ! Acompanhou muito bem um delicioso queijinho da Serra da Estrela, de comer de colher - e, se possível, ajoelhado ...

Depois, partimos para um Adega de Borba Tinto 2009 - um vinho jovem e suave, feito com as mesmas uvas, mas sem passagem por madeira. Pareceu-me um vinho um pouco inferior ao anterior. Gostoso, mas leve demais para a opulência da comida. Um bom vinho para o dia-a-dia, talvez, sem grande brilho.



Em seguida, o grande vinho da noite : o Tapada do Fidalgo Reserva Tinto 2008. De novo, as uvas clássicas do Alentejo : alicante bouschet, aragonez e trincadeira. Com doze meses de barrica, este vinho escoltou com muita dignidade nosso bacalhau. Ótima persistência e intensidade de sabores, taninos elegantes, estruturado e potente.

Um ótimo vinho, para uma ótima comida, em ótima companhia - podia ser melhor ?!?




Ah, esquecia de mencionar as divinas batatinhas, fritas de uma maneira especial que não sei descrever - só lembro que o método foi sugerido por um amigo do Sebastian, a quem registro aqui meu eterno agradecimento !

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Fraldinha na mostarda

Sábado, Tereza estava inspiradíssima !

Imaginem vocês que o nosso jantarzinho doméstico teve o seguinte cardápio :

  • Entrada de mozzarella de búfala com tomatinhos secos.
  • Fraldinha assada na mostarda.
  • Vagens salteadas com pimenta calabresa.
  • Arroz branco. 
Não acreditam ? Pois eu tenho foto pra provar :


Estava ótimo ! A tal fraldinha - receita sugerida pelo meu cunhado Ricardo - fica marinando por algum tempo em um molho feito de mostarda, mel, alho, limão, molho inglês e sei lá mais o quê. Depois, vai ao forno por uma hora, envolta em papel alumínio, e depois mais alguns minutos sem o papel - para dourar. Ficou extremamente macia e saborosa !

Bem, e o vinho ?

Para a entradinha de tomates secos e mozzarella de búfala, optamos por uma meia-garrafa de Côtes du Rhône Abel Pinchard 2010. Os vinhos Côtes du Rhône formam uma AOC (Appellation d'Origine Controlée) que se localiza no sudeste da França, na região da Provence. Este Abel Pinchard é feito com um corte de uvas grenache, syrah, mourvèdre e cinsault. É apenas um Côtes du Rhône genérico - isto é, não está associado a nenhuma das regiões produtoras específicas. Em outras palavras, um vinho simples e honesto. Pelos menos de 20 reais que paguei nesta meia-garrafinha, tenho que admitir que ele me surpreendeu positivamente. Aromas florais e de frutas vermelhas, e na boca um corpo equilibrado e saboroso, embora de pouca persistência. Combinou razoavelmente com a entrada.

Já para o prato principal - a bela fraldinha - a escolha foi por um vinho mais "sério" : um sempre confiável Rutini Cabernet Malbec 2008. Nada como um bom malbec e cabernet argentino, discretamente amadeirado e frutado, para acompanhar carnes ! Para mim, de forma geral, os Rutinis são sempre bons vinhos. Não posso me lembrar de uma única vez em que eu tenha tomado um deles e me decepcionado. 


E certamente não foi desta vez que me decepcionei com o Rutini - pelo contrário ! O vinho combinou maravilhosamente com a fraldinha - obtivemos uma daquelas harmonizações perfeitas, mágicas, em que o sabor resultante é superior aos sabores isolados do vinho e da comida.

A gente gosta de dizer que foi uma harmonização daquelas em que 2 + 2 = 5 ... Sim, sim, sacrifica-se a aritmética em favor do paladar, o que é que há ?!?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Bom jantar e bons vinhos no paraíso da alta burguesia paulistana

Ontem, feriado nacional, tentamos ir ao cinema no belo e caríssimo Shopping Cidade Jardim, aqui na Zona Sul de São Paulo, um dos mais recentes templos de compras da alta burguesia paulistana. Não conseguimos ir ao cinema (os ingressos já estavam esgotados) e o que nos restou foi passear pelos corredores do shopping - e nos divertirmos (ou lamentarmos) com os preços amalucados expostos nas vitrines ... Um casaquinho Chanel custava 17.000 reais, uma bolsa Montblanc custava 5.000 reais, e por aí afora.

Há uma piada que circula na cidade desde a abertura deste shopping : parece que aqui só é possível comprar alguma coisa quando se chega à Livraria da Vila, onde pelo menos os livros cabem no bolso dos pobres mortais ...

No final da noite, jantamos no Empório Central, um misto de restaurante e empório que vende vinhos e guloseimas importados.

O jantar foi ótimo, e os preços até que razoáveis - pelo menos, quando comparados aos preços das demais lojas do shopping.

Pato desossado com mousseline de carmenère
Começamos com umas torradinhas cobertas com codornas e cogumelos, e partimos depois para os pratos principais. Tereza atacou valentemente um pato desossado acompanhado de uma mousseline à base de vinho carmenère - delicioso ! Eu fui de ravioli de queijo brie e alcachofras, sobre medalhões de filé - igualmente delicioso !
Ravioli de brie e alcachofras sobre medalhões de filé
Acompanhamos a comilança com um belo Koonunga Hills Shiraz Cabernet 2008, um vinho produzido pela Penfolds, na região do Barossa Valley, na Austrália. A Penfolds é um dos maiores produtores do país, e oferece ao mercado uma ampla variedade de vinhos de diversos preços e características. Este Koonunga Hills estava suave e redondo : a shiraz contribui com a fruta e os característicos aromas de pimenta e especiarias, e a cabernet entra com a estrutura e os taninos delicados. Combinou maravilhosamente com meus medalhões de filé, mas não tão bem com o pato da Tereza - talvez por conta do molho de carmenère com toques adocicados de figos.


Ainda encaramos sobremesas - Tereza foi de cartola, o tradicional prato nordestino de queijos e bananas, e eu fui de chocolates belgas. Para acompanhar, uma raridade : descobrimos que o restaurante dispunha de uma excelente oferta de vinhos de sobremesa em taças : sauternes, banyuls, vin santo, tokay ...

Derrubamos uma tacinha de Tokay Aszu 3 puttonyos Oremus 2002 (Tereza), e outra de Banyuls M. Chapoutier 2007 (eu). Apesar de uma certa desconfiança de nossa parte (como os vinhos de sobremesa são servidos em taças, vindos de garrafas abertas, é comum que eles estejam oxidados e envelhecidos), os vinhos estavam excelentes, frescos e bem-conservados.

Cartola e Tokay
Chocolate belga e Banyuls

Foram ótimas combinações, que finalizaram um ótimo jantar - e fizeram até com que a gente esquecesse os precinhos modestos expostos nas vitrines do shopping ...

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