segunda-feira, 12 de março de 2012

Bordeaux - o relato de quem esteve lá



Meus amigos Michelle e Ricardo cumpriram, semanas atrás, um duro sacrifício : visitaram a região de Bordeaux, no sudoeste francês, e passaram alguns dias por lá, visitando vinícolas e – evidentemente ! – bebericando uns vinhozinhos ...

Michelle, que é uma leitora e uma incentivadora deste blog desde o princípio, enviou-me algumas informações, dicas e impressões sobre a viagem – que eu passo a compartilhar com vocês :

Chegamos a Bordeaux sexta à noite (por volta das 10 horas) e, como em toda cidade pequena da Europa, os restaurantes já estavam fechados ! (Já fica aqui a primeira dica: vá jantar por volta das 8:30, no máximo às 9 se quiser encontrar alguma cozinha aberta). Ficamos num hotel nos arredores de Saint Émilion (a 30 minutos de Bordeaux, de carro) por recomendação de amigos. O lugar é realmente lindo, mas hoje eu escolheria ficar num hotel no centro de Bordeaux, uma cidade maior, com mais opções de restaurantes e com gente andando na rua ...

A primeira visita foi ao Château Smith Haut Lafitte, na região de Martillac. O lugar é bonito, e o complexo inclui o vinhedo, um hotel e dois restaurantes (um deles tem uma estrela no conceituadíssimo Guia Michelin). Você pode almoçar no restaurante, mas eles não oferecem o serviço de harmonização dos vinhos - apenas recomendam um que possa combinar mais com o pedido. A visita foi em grupo e durou cerca de 20 minutos, sem muita emoção. O guia nos levou pelas adegas, dando uma explicação muito geral do processo. Passamos pelas adegas dos barris de primeiro e segundo anos e logo fomos tomar uma tacinha do branco e do tinto produzidos por eles, da safra de 2008. Como já conhecíamos o vinho não foi nada novo, e o guia também não deu nenhuma explicação sobre as características do vinho. Na verdade foi mais como um prêmio, ao final da visita,  do que como uma real degustação. No final da visita passamos pela adega subterrânea, com a coleção de garrafas desde 1800 e bolinha e na saída passamos pela lojinha para comprar algumas garrafas! As safras consideradas melhores são 2006, 2007 e 2009 e tem um bom custo beneficio (40-45 euros a garrafa).

A segunda visita foi ao Château Margaux, na região de Margaux. O tratamento foi bem diferente - a visita foi somente para nós, com uma guia super-simpática (Emily) nos explicando vários detalhes do processo e respondendo às mil perguntas que fazíamos. Visitamos o vinhedo e as adegas, já que a parte do Château (a casa em si) é propriedade privada da dona da marca.  Aprendemos que eles produzem parte dos barris que usam, e pudemos ver em ação o senhor que está lá há 40 anos fazendo os barris. Ele aprendeu a técnica com o pai e vai se aposentar este ano, mas, infelizmente, não tem na família ninguém para herdar o cargo - então já está treinando outra pessoa. Os tanques usados para a fermentação do vinho são todos de madeira, mas a guia nos informou que estão fazendo testes para começar a usar novos tanques, de aço inox. Perguntamos se não afetava o sabor do vinho e ela explicou que, como os tanques de madeira são usados em média por 30-60 anos, no final eles já não contribuem mais com nenhum gosto nem aroma ao vinho... Além disso, com os tanques de aço inox o controle de temperatura fica mais fácil. No final da visita fizemos uma “degustação” horizontal : provamos um Margaux e um Pavillon Rouge (segunda linha do Château) da safra de 2008. Também não tivemos explicação sobre características do vinho e para o meu paladar o Pavillon Rouge era mais gostoso (e muito mais acessível $$) do que o Margaux ! O Pavillon Rouge até que tem um custo razoável (150-180 euros, dependendo da safra) – em se tratando de um vinho do Château Margaux, é claro ... Eles não vendem vinho, nem têm restaurante na vinícola.

Observação deste blogueiro : ah, nada como desfrutar dos grandes vinhos : a Michelle já está desprezando, de saída, nada mais nada menos do que um Château Margaux !

A terceira visita foi ao Château Lafite Rotschild, na região de Pauillac. Esta foi a minha preferida! Tivemos um guia super-simpático (Nicholas) que trabalha no Château como relações públicas, degustador e até como supervisor de adega, na época da colheita. Como todo produtor de Bordeaux, este Château também tem duas adegas (para os barris do primeiro e segundo ano) - mas eles foram os primeiros a projetarem a segunda adega em formato circular. No meio da adega há uma área - como se fosse um palco -, onde são feitos os trabalhos necessários no barril. Com a disposição em círculo, o trabalhador tem todos os barris na mesma distância do “palco” e fica mais fácil controlar quais barris já foram trabalhados. Demos sorte, porque pegamos os trabalhadores fazendo o processo de racking nos barris – abrindo um por um da adega de segundo ano para ver como estava o nível de sedimento. Esse processo de racking leva um mês para ser concluído, e tem que ser repetido a cada três meses. Além disso, também estavam colocando três claras de ovo em cada barril para ajudar a retirar os sedimentos. Perguntamos o que eles faziam com a gema dos ovos : eles guardam e produzem um doce típico local ! O Nicholas nos comentou que por volta de maio/junho, quando já venderam a safra, e a adega de segundo ano fica vazia, eles fazem concertos na adega redonda (que tem uma acústica muito boa) seguida de degustação! Se alguém estiver por lá nessa época do ano, é uma dica legal. Diferente dos outros Châteaux, aqui eles produzem 100% dos barris utilizados. No final, o Nicholas trouxe uma garrafa de Lafite-Rotschild da safra de 1995 e encheu (encheu mesmo!) 3 taças -  e ficamos batendo papo, provando o vinho e observando o pessoal na adega. Mas mesmo depois disso, a minha parte preferida da visita foi quando passamos pela adega privada do Baron de Rotschild (aqui também tem o Château/casa privado dele) com 35.000 garrafas de todas as safras deles e dos outros Châteaux amigos ! Tudo o que eu queria era uma mala bem grande e meia horinha lá dentro .... Miseravelmente, aqui no Château Lafite Rotschild os preços - tanto da primeira como da segunda linhas - são muito altos, inflacionados pela alta demanda dos chineses. (Segunda linha : 500 euros a garrafa !).

Observação deste blogueiro – esse trecho sobre as três taças de Lafite Rotschild 1995 bem cheias são de matar de inveja qualquer mortal, né ??

No último dia, passeamos pela região de Saint Émilion e passamos pelos Châteaux Figeac, Canon e Angelus. Não conseguimos visitar nenhum deles (todos exigem  reserva com muita antecedência), mas tiramos fotos lindas do lugar! 


Michelle, feliz da vida, com seu Pontet-Canet

A Michelle ainda comenta que, na hora de comprar vinhos, é importante pesquisar, pois há enormes diferenças de preços de um local para o outro. Eles compraram umas boas garrafinhas na Comptoir des Vignobles. Vinhos que eles andaram bebendo por lá, além daqueles que foram degustados nas vinícolas : Château du Tertre 2005 (gostaram), Château Marzelle (não gostaram muito) e um Les Haut de Pontet-Canet, que levou algum tempo para abrir -e aí ficou delicioso.

Dica final – e preciosa ! – da Michelle : tente descobrir as segundas e terceiras linhas do maiores produtores – os vinhedos são os mesmos e o processo de produção quase sempre é igual. Somente muda a uva, ou a % de cada tipo de uva usada, mas com certeza são muito bons também!  

Michelle e Ricardo, nós, humildes admiradores, agradecemos profundamente o texto e as dicas !

Ricardo, visivelmente com sede ...

2 comentários:

Sheila disse...

O post foi super útil para mim, pois estarei em Bordeaux por quatro dias, de 16 a 20/5.
Obrigada por compartilhar as informações.

Nivaldo Sanches disse...

Que ótimo, Sheila, fico muito feliz em ter podido contribuir, de alguma forma, para essa sua viagem que promete ser espetacular ...
E que tal se, na volta, você me mandasse um mailzinho contando o que viu / viveu / bebeu por lá, e a gente publicasse aqui no blog, para ajudar outras pessoas interessadas ?

Beijos, boa viagem !

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