quinta-feira, 24 de maio de 2012
Linguiças portuguesas e vinho italiano
Mais um belo risotto perpetrado pela Tereza - ela está se tornando uma verdadeira Alessandro Segato na versão feminina ...
Desta vez, foi um risotto com um mix de deliciosas linguicinhas portuguesas - ficou excepcional, podem acreditar em mim !
Uma das linguiças usadas era picante, o que deu ao prato um sabor todo especial e bem marcante.
Defrontamo-nos, então, com o problema que sempre se nos depara nessa hora - qual o vinho a ser bebido com tal iguaria ? Ah, que angústia !
Optamos por um vinho diferente - e diferente, aqui, vai no sentido de que era um vinho que nunca tínhamos bebido. Era um Is Solinas Isola dei Nuraghi 2006, da vinícola Argiolas, da região da Sardenha. Trata-se de um IGT (Indicazione Geografica Tipica), que, nesta safra de 2006, foi chamado de soberbo e de outstanding pelo titio Robert Parker - é mole ?
O vinho é feito à base da uva carignano (muito comum na Sardenha), com um toque de 5 % de outra uva autóctone da região chamada bovale da Sardenha. Não falei lá atrás que era um vinho diferente ?
O charme começa pelo belo visual, rubi brilhante com reflexos violetas que fazem a gente pensar em um vinho mais novo - mas era um 2006, já com seis anos de garrafa, portanto. No nariz, aroma de frutas em compota, e notas que remetem a especiarias (talvez canela?). O vinho passa algum tempo em barricas de carvalho, o que lhe acrescentava aromas de tostado e de baunilha.Na boca, um vinho macio, gostoso, com um típico sabor dos bons vinhos regionais da Itália. A propósito, essa marca regional é exatamente o que nos encanta nos bons vinhos italianos.
Esta garrafinha foi comprada na importadora Vinci, por cerca de 120 reais.
Combinou maravilhosamente com o risotto, realçando o sabor apimentado das linguicinhas portuguesas.
Mais uma vez, confirmamos que, quando se trata de harmonizações, vale a pena experimentar e arriscar um pouquinho, misturando procedências diferentes.
Enfim, outro grande jantar em casa - e, como sempre, fomos dormir felizes e contentinhos ...
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Jantar harmonizado com vinhos da Rutini
Semana passada, estivemos em um jantar especial, promovido pela importadora Zahil e pelo restaurante Eau, aqui em São Paulo.
O menu foi criado em conjunto pelos chefs Mauro Colagreco e Laurent Hervé. O primeiro é o chef de um restaurante chamado Mirazur, quase na fronteira entre França e Itália, que tem duas estrelas do famoso Guia Michelin e acaba de ser incluído na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo - aquela mesma lista que incluiu o D.O.M., do Alex Atala. Quanto ao Laurent Hervé, ele é o chef do próprio restaurante Eau, no hotel Hyatt, aqui no Brooklin.
A Zahil entrou com os bem conhecidos - e muito bons ! - vinhos argentinos da Rutini, produzidos na região de Mendoza. O evento todo foi muito bem organizado, e nós pudemos nos entregar com entusiasmo a este nosso grande prazer : comer bem, beber bem e filosofar longamente sobre aromas, harmonizações, bouquets e congêneres ... Ah, como padecemos !
A coisa começou com um peixe-espada defumado acompanhado de pinhas, repolho roxo, manga e caju. Para beber, um Rutini Sauvignon Blanc 2011. Não foi um vinho que nos encantou - a coloração amarelo palha, o aroma muito suave, o sabor um pouco mais doce do que eu esperava para um sauvignon blanc me desapontaram um pouquinho. Depois de algum tempo no copo, o vinho chegou a amargar um pouco na garganta.
Depois, partimos para um tartare do mar, com creme de échalottes e algas, escoltado por um Rutini Chardonnay 2010. Aqui, a coisa melhorou bastante : o vinho era dourado, e recendia a frutas, flores, mel. Depois de algum tempo no copo, começamos a sentir aromas de amêndoas tostadas. A combinação foi excelente com as tenríssimas vieiras e camarões do prato.
O mesmo chardonnay acompanhou muito bem o prato seguinte - um magnífico confit de robalo, com espuma de batatas e alho-poró. Só de lembrar me vêm lágrimas à boca ...
O prato principal foi uma costela braseada, guarnecida de couve-flor, açaí e castanha-do-Pará - e, pra beber, tivemos a imensa satisfação de degustar dois vinhos muito bons. Começamos com um Rutini Malbec 2009, a melhor expressão das vinícolas argentinas, com seus aromas de caça e de frutas, em camadas. Harmonizou muitíssimo bem com a costela. Em seguida, veio um Rutini Antologia XXVII, um belíssimo corte de malbec, cabernet franc e petit verdot. Aroma intenso - você sentia o vinho mesmo longe da taça -, sabor delicioso, combinando a fruta e a madeira com elegância. Tereza e eu discordamos - ela preferiu o Malbec, eu gostei mais do Antologia, mas garanto que não sobrou nada nas nossas tacinhas, nem de um, nem do outro ...
Finalizamos o festim com um sorvete de queijo azul com atemóia (a velha fruta-do-conde), e depois uma sopinha de maçãs verdes e um admirável, quase etéreo canelone de coentro. O vinho selecionado foi um Rutini Vin Doux Naturel 2007, feito com uvas sémillon e verdicchio atacadas pela Botrytis cinerea, com um bom equilíbrio entre açúcar e acidez.
Enquanto isso, o Santos de Neymar e Ganso fazia 8 a 0 nos bolivianos - ou seja, cada um se diverte como lhe dá prazer, certo ?
O menu foi criado em conjunto pelos chefs Mauro Colagreco e Laurent Hervé. O primeiro é o chef de um restaurante chamado Mirazur, quase na fronteira entre França e Itália, que tem duas estrelas do famoso Guia Michelin e acaba de ser incluído na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo - aquela mesma lista que incluiu o D.O.M., do Alex Atala. Quanto ao Laurent Hervé, ele é o chef do próprio restaurante Eau, no hotel Hyatt, aqui no Brooklin.
A Zahil entrou com os bem conhecidos - e muito bons ! - vinhos argentinos da Rutini, produzidos na região de Mendoza. O evento todo foi muito bem organizado, e nós pudemos nos entregar com entusiasmo a este nosso grande prazer : comer bem, beber bem e filosofar longamente sobre aromas, harmonizações, bouquets e congêneres ... Ah, como padecemos !
A coisa começou com um peixe-espada defumado acompanhado de pinhas, repolho roxo, manga e caju. Para beber, um Rutini Sauvignon Blanc 2011. Não foi um vinho que nos encantou - a coloração amarelo palha, o aroma muito suave, o sabor um pouco mais doce do que eu esperava para um sauvignon blanc me desapontaram um pouquinho. Depois de algum tempo no copo, o vinho chegou a amargar um pouco na garganta.
Depois, partimos para um tartare do mar, com creme de échalottes e algas, escoltado por um Rutini Chardonnay 2010. Aqui, a coisa melhorou bastante : o vinho era dourado, e recendia a frutas, flores, mel. Depois de algum tempo no copo, começamos a sentir aromas de amêndoas tostadas. A combinação foi excelente com as tenríssimas vieiras e camarões do prato.
O mesmo chardonnay acompanhou muito bem o prato seguinte - um magnífico confit de robalo, com espuma de batatas e alho-poró. Só de lembrar me vêm lágrimas à boca ...
O prato principal foi uma costela braseada, guarnecida de couve-flor, açaí e castanha-do-Pará - e, pra beber, tivemos a imensa satisfação de degustar dois vinhos muito bons. Começamos com um Rutini Malbec 2009, a melhor expressão das vinícolas argentinas, com seus aromas de caça e de frutas, em camadas. Harmonizou muitíssimo bem com a costela. Em seguida, veio um Rutini Antologia XXVII, um belíssimo corte de malbec, cabernet franc e petit verdot. Aroma intenso - você sentia o vinho mesmo longe da taça -, sabor delicioso, combinando a fruta e a madeira com elegância. Tereza e eu discordamos - ela preferiu o Malbec, eu gostei mais do Antologia, mas garanto que não sobrou nada nas nossas tacinhas, nem de um, nem do outro ...
Finalizamos o festim com um sorvete de queijo azul com atemóia (a velha fruta-do-conde), e depois uma sopinha de maçãs verdes e um admirável, quase etéreo canelone de coentro. O vinho selecionado foi um Rutini Vin Doux Naturel 2007, feito com uvas sémillon e verdicchio atacadas pela Botrytis cinerea, com um bom equilíbrio entre açúcar e acidez.
Enquanto isso, o Santos de Neymar e Ganso fazia 8 a 0 nos bolivianos - ou seja, cada um se diverte como lhe dá prazer, certo ?
quarta-feira, 9 de maio de 2012
O vinho que veio do frio
Há uns dez anos, passei uma semana na cidade de Vancouver, Canadá, em uma reunião de trabalho. Uma noite, depois do jantar, eu e meu bom amigo Jan Grabowski nos sentamos no bar do hotel. Como bons cachaceiros, pedimos ao barman que nos servisse alguma bebida típica do país. O rapaz a princípio pareceu se atrapalhar um pouco. Foi até a estante de bebidas, olhou pra cá e pra lá, com um ar meio perdido - e acabou retornando com uma garrafa de icewine, bebida que não conhecíamos. Bem, o resultado é que Jan e eu não só adoramos o tal do icewine como quase secamos a garrafinha, dose após dose ...
Pois agora, recentemente, meu querido amigo João Carlos, leitor e apoiador deste blog desde o início, me pede que escreva um post sobre o icewine.
E o que é, afinal, o tal do icewine ? É simplesmente um vinho delicioso, de sobremesa, feito a partir de uvas congeladas pelo frio enquanto ainda estão pendentes no vinhedo. Com a água congelada no interior da uva, a fruta concentra seu teor de açúcar e - bingo ! - nasce um vinho doce natural que tem alto teor de açúcar e uma bela acidez.
Esse que tomei por lá - e depois tratei de trazer uma garrafinha na mala - era feito de cabernet sauvignon, mas o vinho pode ser produzido a partir de uma ampla gama de cepas, principalmente brancas (riesling, gewürztraminer, chenin blac) mas também tintas (como a cabernet sauvignon que provei, ou a cabernet franc ou ainda merlot).
O "vinho do gelo" é hoje produzido em vários países do mundo : Canadá, Austrália, Estados Unidos, França, Hungria, Alemanha e Áustria (onde ele ganha o nome de eiswein). É uma bebida especialíssima, que requer um processo de produção bem particular, desde a videira. Se o frio, em um ano específico, não foi o suficiente, a uva simplesmente não congela. Por outro lado, se ficar frio demais, às vezes não é possível extrair o sumo da fruta para a fermentação.
Os países mais rigorosos na produção do icewine exigem que a uva seja congelada na videira pelo frio natural. Em outros locais (como no estado do Oregon, nos Estados Unidos), a legislação permite o congelamento artificial, gerando o vinho que os americanos chamam de icebox wines.
Em resumo - trata-se de um excelente vinho de sobremesa, comparável aos Sauternes e aos Tokaj, e aos nossos late harvest da América do Sul, produzidos com uvas mais amadurecidas do que o habitual.
Recentemente, alguns produtores brasileiros (como a vinícola Pericó) começaram a produzir o icewine por aqui - mais especificamente, em São Joaquim, Santa Catarina. Ainda não tive oportunidade de provar o brasileiro - mas estou curiosíssimo, confesso ...
Pois agora, recentemente, meu querido amigo João Carlos, leitor e apoiador deste blog desde o início, me pede que escreva um post sobre o icewine.
E o que é, afinal, o tal do icewine ? É simplesmente um vinho delicioso, de sobremesa, feito a partir de uvas congeladas pelo frio enquanto ainda estão pendentes no vinhedo. Com a água congelada no interior da uva, a fruta concentra seu teor de açúcar e - bingo ! - nasce um vinho doce natural que tem alto teor de açúcar e uma bela acidez.
Esse que tomei por lá - e depois tratei de trazer uma garrafinha na mala - era feito de cabernet sauvignon, mas o vinho pode ser produzido a partir de uma ampla gama de cepas, principalmente brancas (riesling, gewürztraminer, chenin blac) mas também tintas (como a cabernet sauvignon que provei, ou a cabernet franc ou ainda merlot).
O "vinho do gelo" é hoje produzido em vários países do mundo : Canadá, Austrália, Estados Unidos, França, Hungria, Alemanha e Áustria (onde ele ganha o nome de eiswein). É uma bebida especialíssima, que requer um processo de produção bem particular, desde a videira. Se o frio, em um ano específico, não foi o suficiente, a uva simplesmente não congela. Por outro lado, se ficar frio demais, às vezes não é possível extrair o sumo da fruta para a fermentação.
Os países mais rigorosos na produção do icewine exigem que a uva seja congelada na videira pelo frio natural. Em outros locais (como no estado do Oregon, nos Estados Unidos), a legislação permite o congelamento artificial, gerando o vinho que os americanos chamam de icebox wines.
Em resumo - trata-se de um excelente vinho de sobremesa, comparável aos Sauternes e aos Tokaj, e aos nossos late harvest da América do Sul, produzidos com uvas mais amadurecidas do que o habitual.
Recentemente, alguns produtores brasileiros (como a vinícola Pericó) começaram a produzir o icewine por aqui - mais especificamente, em São Joaquim, Santa Catarina. Ainda não tive oportunidade de provar o brasileiro - mas estou curiosíssimo, confesso ...
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Imersão em vinhos brasileiros
Quem costuma ler este blog sabe que eu não morro de amores pelos vinhos brasucas ... Sempre digo que, na minha opinião, nossas vinícolas produzem ótimos espumantes, alguns brancos interessantes e tintos que nunca me encantaram muito.
Muito bem - neste último feriadão, Tereza e eu visitamos de novo um hotel que havíamos conhecido anos atrás : a Fazenda Capoava, em Itu, bem pertinho de São Paulo. É um hotel charmoso, que utiliza como sede a casa-grande da velha fazenda que existe por lá desde 1750.
Chegamos lá na sexta-feira à noite, e fomos direto para o jantar - onde descobrimos que a carta de vinhos do hotel foi recentemente re-elaborada pela sommelière Sônia Denicol, e conta exclusivamente com vinhos brasileiros. Passamos quatro dias, portanto, explorando a carta e conhecendo um pouco mais alguns rótulos brasileiros não muito divulgados no nosso mercado.
E o que foi que achamos desses vinhos ? Vejam aí abaixo (e vou listá-los a partir do que achei mais fraquinho).
Começo então a falar do Angheben Pinot Noir 2010, produzido lá em Bento Gonçalves, no coração do Vale dos Vinhedos. Certamente há, por parte da Angheben, uma certa audácia em arriscar-se com uma uva tão delicada e de difícil cultivo - mas os resultados são decepcionantes. O vinho me pareceu sem personalidade, com aromas e sabores tênues demais. Este vinho não passa por madeira - outra decisão audaciosa, em se tratando de pinot noir - e isso talvez contribua para que os aromas sejam tão voláteis. Definitivamente, não nos seduziu. Ele pode ser encontrado no mercado por cerca de 40 reais.
Falo agora do Elos 2008, da Lídio Carraro, também produzido no Vale dos Vinhedos. Este vinho é um corte de cabernet sauvignon e malbec (eles fazem também um Elos com corte de tannat e touriga nacional que não cheguei a provar). Este já era um vinho mais respeitável, se posso usar o termo. Encorpado, com aroma muito frutado e bom potencial gastronômico. Só achei que os taninos estavam amargando um pouco na garganta ... Encontrei à venda na Internet por cerca de 45 reais.
A seguir, comento o Innominabile, da Villagio Grando, produzido na inesperada cidade de Herciliópolis, em Santa Catarina. O vinho é um corte de seis uvas e tem uma bossa diferente - o rótulo não declara a safra, já que cepas diferentes podem vir de safras diferentes. Este vinho foi para nós uma surpresa interessante, já que conhecemos pouquíssimo da produção de Santa Catarina. Com seis meses de barrica, ele tinha uma boa mescla de fruta e madeira, e um sabor prolongado. Preço ? Por volta de 50 reais, que me parece exagerado.
O último vinho foi a surpresa mais agradável da visita : o Vallontano Merlot 2007, também do Vale dos Vinhedos. Mesmo não sendo grandes apreciadores de merlot, Tereza e eu concluímos que este foi o vinho que mais nos agradou nesta "imersão". Aromas de flores e de frutos negros, que evoluíam para mostrar notas mais densas dadas pela madeira - tabaco, talvez. Os taninos eram bem mais macios, e o vinho agradou. E outra surpresa - é o mais baratinho dos quatro que bebemos por lá, por volta de 35 reais na net.
Será que nosso paladar ficou obscurecido por um possível preconceito quanto aos vinhos locais ? Não descarto essa hipótese, confesso - não é fácil se livrar de idéias pré-concebidas. Ainda mais em um momento como este, quando ando louco de raiva com os produtores nacionais que querem arrancar do governo uma absurda e anacrônica reserva de mercado para os seus produtos ...
Enfim, a experiência sem dúvida foi interessante pra dizer o mínimo !
Muito bem - neste último feriadão, Tereza e eu visitamos de novo um hotel que havíamos conhecido anos atrás : a Fazenda Capoava, em Itu, bem pertinho de São Paulo. É um hotel charmoso, que utiliza como sede a casa-grande da velha fazenda que existe por lá desde 1750.
Chegamos lá na sexta-feira à noite, e fomos direto para o jantar - onde descobrimos que a carta de vinhos do hotel foi recentemente re-elaborada pela sommelière Sônia Denicol, e conta exclusivamente com vinhos brasileiros. Passamos quatro dias, portanto, explorando a carta e conhecendo um pouco mais alguns rótulos brasileiros não muito divulgados no nosso mercado.
E o que foi que achamos desses vinhos ? Vejam aí abaixo (e vou listá-los a partir do que achei mais fraquinho).
Começo então a falar do Angheben Pinot Noir 2010, produzido lá em Bento Gonçalves, no coração do Vale dos Vinhedos. Certamente há, por parte da Angheben, uma certa audácia em arriscar-se com uma uva tão delicada e de difícil cultivo - mas os resultados são decepcionantes. O vinho me pareceu sem personalidade, com aromas e sabores tênues demais. Este vinho não passa por madeira - outra decisão audaciosa, em se tratando de pinot noir - e isso talvez contribua para que os aromas sejam tão voláteis. Definitivamente, não nos seduziu. Ele pode ser encontrado no mercado por cerca de 40 reais.
Falo agora do Elos 2008, da Lídio Carraro, também produzido no Vale dos Vinhedos. Este vinho é um corte de cabernet sauvignon e malbec (eles fazem também um Elos com corte de tannat e touriga nacional que não cheguei a provar). Este já era um vinho mais respeitável, se posso usar o termo. Encorpado, com aroma muito frutado e bom potencial gastronômico. Só achei que os taninos estavam amargando um pouco na garganta ... Encontrei à venda na Internet por cerca de 45 reais.
A seguir, comento o Innominabile, da Villagio Grando, produzido na inesperada cidade de Herciliópolis, em Santa Catarina. O vinho é um corte de seis uvas e tem uma bossa diferente - o rótulo não declara a safra, já que cepas diferentes podem vir de safras diferentes. Este vinho foi para nós uma surpresa interessante, já que conhecemos pouquíssimo da produção de Santa Catarina. Com seis meses de barrica, ele tinha uma boa mescla de fruta e madeira, e um sabor prolongado. Preço ? Por volta de 50 reais, que me parece exagerado.
O último vinho foi a surpresa mais agradável da visita : o Vallontano Merlot 2007, também do Vale dos Vinhedos. Mesmo não sendo grandes apreciadores de merlot, Tereza e eu concluímos que este foi o vinho que mais nos agradou nesta "imersão". Aromas de flores e de frutos negros, que evoluíam para mostrar notas mais densas dadas pela madeira - tabaco, talvez. Os taninos eram bem mais macios, e o vinho agradou. E outra surpresa - é o mais baratinho dos quatro que bebemos por lá, por volta de 35 reais na net.
Será que nosso paladar ficou obscurecido por um possível preconceito quanto aos vinhos locais ? Não descarto essa hipótese, confesso - não é fácil se livrar de idéias pré-concebidas. Ainda mais em um momento como este, quando ando louco de raiva com os produtores nacionais que querem arrancar do governo uma absurda e anacrônica reserva de mercado para os seus produtos ...
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Ah, o mundo dos Borgonhas ...
Você já viu a cena em muitos filmes antigos - antes de ser fuzilado, o sujeito tem direito a um último pedido, em geral uma taça de uma bebida clássica : um vinho, um conhaque, um rum, sei lá ...
Muito bem : saiba você, estimado leitor, estimadíssima leitora, que no mínimo nove entre dez apreciadores de vinho, se tivessem que escolher uma última tacinha antes de enfrentar o pelotão de fuzilamento, escolheriam um Borgonha - de preferência, claro, um Romanée-Conti, o mais simbólico e mitológico dos vinhos franceses.
E por qual razão ? Bem, não é muito fácil explicar. A Borgonha, localizada na região centro-leste da França, produz essas maravilhas pelo menos desde o século VII. Estão localizados na região alguns dos vinhedos mais conhecidos e famosos do mundo : Gevrey-Chambertin, Vougeot, Nuits-St-Georges, Vosne-Romanée, Chassagne-Montrachet, Meursault e tantos, tantos outros ! A uva soberana dos tintos da região é a pinot noir, - uma uva delicada, de cultivo difícil. Enfim, a verdade é que os Borgonha possuem uma mística, uma fantasia toda própria.
Semana passada, nesta duríssima vida de blogueiro de vinhos, fui convidado a participar de uma degustação de Borgonhas, promovida pela Zahil, uma das boas casa importadoras aqui de Sampa. Provamos os vinhos produzidos pela vinícola Roux Père & Fils, que produz seus vinhos por lá desde o final do século XIX. A degustação envolveu três brancos e três tintos.
Os Brancos
Começamos com um Bourgogne Chardonnay 2010, um Borgonha genérico (isto é, feito com uvas colhidas em vinhedos não identificados). Um vinho frutado, que não passa por madeira, com boa acidez, e qualidade acima da média para sua faixa de preço (88 reais).
Depois, atacamos um Saint Aubin La Pucelle 2009. Este já é um vinho bem superior ao anterior (inclusive no preço, é claro : 197 reais), com ótimo equilíbrio entre a fruta e a madeira - pro meu gosto, o melhor dos brancos provados (inclusive na famosa relação custo x benefício).
Finalizamos com um belo Meursault 2007, com aroma a frutas secas (amêndoas, talvez ?) e um toque mineral bem interessante, contrastando com uma certa untuosidade da chardonnay. Este já é da categoria dos bem caros, 373 reais a garrafinha ...
Os Tintos
Como nos brancos, o início foi com um genérico, um Bourgogne Rouge 2010. Linda coloração violácea bem clarinha, típica da pinot noir. Por 88 reais, um bom vinho até para beber como aperitivo, num final de tarde quente.
O segundo tinto foi um Gevrey Chambertin 2008. Já mais distante da fruta do primeiro vinho, aqui a gente já sente a presença mais marcante da madeira. Pareceu-me um pouco tânico, e desconfio que ainda vai melhorar, dentro de mais algum tempo. É um vinho bem caro (307 reais), vindo de uma das denominações mais conhecidas da Borgonha (Gevrey-Chambertin)
A brincadeira toda acabou com um delicioso Chambolle Musigny 2006. Este, pro meu gosto, o melhor vinho da tarde, disparado. Aromas complexos, misturando amêndoas ou nozes com notas de tabaco. Corpo equilibrado, com taninos macios e uma longa permanência na boca. Chato é o precinho dele, de 375 reais.
Enfim, meus amigos, saí de lá me sentindo absolutamente pronto para enfrentar, senão o pelotão de fuzilamento, pelo menos o trânsito infernal da cidade na hora de voltar pra casa ...
Muito bem : saiba você, estimado leitor, estimadíssima leitora, que no mínimo nove entre dez apreciadores de vinho, se tivessem que escolher uma última tacinha antes de enfrentar o pelotão de fuzilamento, escolheriam um Borgonha - de preferência, claro, um Romanée-Conti, o mais simbólico e mitológico dos vinhos franceses.
E por qual razão ? Bem, não é muito fácil explicar. A Borgonha, localizada na região centro-leste da França, produz essas maravilhas pelo menos desde o século VII. Estão localizados na região alguns dos vinhedos mais conhecidos e famosos do mundo : Gevrey-Chambertin, Vougeot, Nuits-St-Georges, Vosne-Romanée, Chassagne-Montrachet, Meursault e tantos, tantos outros ! A uva soberana dos tintos da região é a pinot noir, - uma uva delicada, de cultivo difícil. Enfim, a verdade é que os Borgonha possuem uma mística, uma fantasia toda própria.
Semana passada, nesta duríssima vida de blogueiro de vinhos, fui convidado a participar de uma degustação de Borgonhas, promovida pela Zahil, uma das boas casa importadoras aqui de Sampa. Provamos os vinhos produzidos pela vinícola Roux Père & Fils, que produz seus vinhos por lá desde o final do século XIX. A degustação envolveu três brancos e três tintos.
Os Brancos
Começamos com um Bourgogne Chardonnay 2010, um Borgonha genérico (isto é, feito com uvas colhidas em vinhedos não identificados). Um vinho frutado, que não passa por madeira, com boa acidez, e qualidade acima da média para sua faixa de preço (88 reais).
Depois, atacamos um Saint Aubin La Pucelle 2009. Este já é um vinho bem superior ao anterior (inclusive no preço, é claro : 197 reais), com ótimo equilíbrio entre a fruta e a madeira - pro meu gosto, o melhor dos brancos provados (inclusive na famosa relação custo x benefício).
Finalizamos com um belo Meursault 2007, com aroma a frutas secas (amêndoas, talvez ?) e um toque mineral bem interessante, contrastando com uma certa untuosidade da chardonnay. Este já é da categoria dos bem caros, 373 reais a garrafinha ...
Os Tintos
Como nos brancos, o início foi com um genérico, um Bourgogne Rouge 2010. Linda coloração violácea bem clarinha, típica da pinot noir. Por 88 reais, um bom vinho até para beber como aperitivo, num final de tarde quente.
O segundo tinto foi um Gevrey Chambertin 2008. Já mais distante da fruta do primeiro vinho, aqui a gente já sente a presença mais marcante da madeira. Pareceu-me um pouco tânico, e desconfio que ainda vai melhorar, dentro de mais algum tempo. É um vinho bem caro (307 reais), vindo de uma das denominações mais conhecidas da Borgonha (Gevrey-Chambertin)
A brincadeira toda acabou com um delicioso Chambolle Musigny 2006. Este, pro meu gosto, o melhor vinho da tarde, disparado. Aromas complexos, misturando amêndoas ou nozes com notas de tabaco. Corpo equilibrado, com taninos macios e uma longa permanência na boca. Chato é o precinho dele, de 375 reais.
Enfim, meus amigos, saí de lá me sentindo absolutamente pronto para enfrentar, senão o pelotão de fuzilamento, pelo menos o trânsito infernal da cidade na hora de voltar pra casa ...
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