Tinta-de-escrever, amor-não-me-deixes, bastardinho,
olho-de-sapo, carrega-burros, esgana-raposas, coração-de-galo, donzelinho,
esgana-cão, padeira, pilongo, rabo-de-ovelha, pé-de-perdiz, Zé-do-telheiro ...
Boal-cachudo, chapeludo, borrado-das-moscas, carão-de-moça,
dedo-de-dama, esganoso, rabigato, folgasão, olho-de-lebre, marquinhas,
pé-comprido, pêra-de-bode ...
Sim, meus amigos, esses são alguns dos curiosíssimos e pouco
conhecidos nomes de algumas uvas portuguesas.
Os portugueses, sempre ciosos de sua cultura centenária,
produzem a imensa maioria dos seus vinhos com as chamadas uvas autóctones – são aquelas castas originárias de Portugal, e que
(com raras e honrosas exceções) não são produzidas em outros locais. São mais
de 300 cepas diferentes, e elas realmente dominam a ampla produção dos vinhos
portugueses, embora hoje em dia já haja alguns produtores aventurando-se com ótimos
resultados nas cepas mais manjadas : syrah, cabernet sauvignon, algum merlot.
Vamos dar uma olhadinha nas cepas autóctones mais populares,
começando pelas tintas, muito mais utilizadas do que as brancas :
- Aragonés ou Tinta Roriz – esta é uma que é produzida também fora de Portugal – na Espanha, onde recebe o mais conhecido nome de tempranillo. Produzem vinhos frutados e macios, e são muito usadas nos belos vinhos do Douro (inclusive nos refinados Porto) e nos do Dão, um pouco inferiores.
- Baga – é a rainha da região da Bairrada, cujos vinhos vêm melhorando de qualidade nos últimos tempos, por conta de bons produtores como Luis Pato e Caves São João, entre outros.
- Castelão – também chamada de periquita, é a uva que gera os vinhos da Estremadura, que ainda não estão entre os grandes do país. O vinho Periquita, muito conhecido aqui no mercado brazuca, é feito de castelão.
- Touriga Nacional e Touriga Franca – também entram no mix de cepas permitidas nos vinhos do Douro e do Dão.
- Trincadeira – uva de região do Alentejo, onde bons produtores como Esporão e Cartuxa produzem vinhos macios, fáceis de beber – e que vêm ganhando adeptos e mercados pelo mundo afora.
E agora, algumas brancas :
- Alvarinho – a principal uva dos famosos vinhos verdes do norte de Portugal, refrescantes e algo rascantes, que combinam maravilhosamente com frutos do mar (provei uma vez, com uma deliciosa paella, na casa da Guillermina - só de lembrar, me vêm lágrimas à boca ...). Os vinhos verdes, em regiões um pouco mais ao sul, também são produzidos com as variedades loureiro e trajadura.
- Encruzado – a uva branca típica da região do Dão, inferiores aos tintos.
- Antão Vaz, Arinto, Fernão Pires – uvas da região de Portugal Central (Estremadura, Bucelas, Ribatejo), produzem vinhos secos e frutados, com boa acidez.
- Moscatel – talvez, a mais famosa das uvas brancas portuguesas, que produz maravilhosos vinhos doces, de coloração âmbar e aromas de caramelo.
- Malvasia, Sercial, Verdelho – uvas brancas da ilha da Madeira, usadas exatamente no célebre vinho Madeira – que já foi muito famoso mundo afora, depois perdeu muito do seu charme e vem, mais recentemente, sendo “re-descoberto” pelos consumidores mais novatos – entre os quais se inclui este humilde blogueiro.
4 comentários:
Oi Nivaldo
Puxa, os nomes das uvas conseguem ser ainda mais engraçados do que os dos vinhos, que eu já adorava. Aliás, que tal fazer uma segunda parte a esse post com os clássicos quinta da bacalhôa, pera-manca e outros tantos que tenho certeza que vc deve descobrir na rede e, melhor ainda e em breve, em campo.
Bjks
Silvia
É verdade, Silvia, os lusos são criativos nos nomes das uvas e dos vinhos ...
Sim, é uma ótima sugestão ! Vou escrever algo sobre os vinhos portugueses, a seguir, com o foco nos tipos de vinhos e - naturalmente - nos grandes rótulos ...
Quando voltar de lá, então, farei sem dúvida uma série de "Crônicas Lusitanas" - não perca !!
Beijos
Grande Nivaldo - muito legal conhecer os nomes das uvas, pois sempre que tomo um vinho português fico sem noção com relação às uvas, tão dominado que sou pelas uvas básicas (cabernet, merlot e etc) que sou.
Mas o que me chamou atenção no seu post foi o toque poético "me veio lágrimas à boca". Genial.
O importante mesmo, plagiando você, é que nunca venha lágrimas ao fígado - risos
Sandro
É isso aí, Sandro, é sempre bom lembrar que devemos beber com moderação, pro fígado aguentar bem por mais algumas (várias !) décadas ...
Abraços
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