A região toda é formada por uma faixa de terra de pouco mais de 80 km de extensão, com menos de 20 km de largura - você cruza a região toda, de carro, em uma hora, se não parar em nenhuma das cidadezinhas ou vilarejos.
E isso seria, obviamente, uma tolice sem tamanho - o grande charme de passear pela Alsácia está precisamente em desfrutar, com muita calma, sem pressa, cada um dos lindos vilarejos que a compõem, caminhando pelas ruas estreitas e sinuosas, contemplando as casinhas feitas quase sempre com aquela estrutura de madeira aparente (eles chamam esse estilo de colombage), bebericando, aqui e ali, os vinhos brancos que fazem a fama da região.
Tereza, diante da célebre colombage |
As cidades de Estraburgo, ao norte (a capital da Alsácia), e de Colmar, ao sul, praticamente delimitam os extremos da região. No meio, dezenas de vilarejos encantadores, com nomes meio difíceis de pronunciar : Obernai, Selestat, Dambach-La-Ville, Ribeauvillé, Riquewihr, Eguisheim - este último é o preferido da Tereza ! Todos são semelhantes, e todos estavam incrivelmente enfeitados de flores por todas as partes. Em muitas delas, podemos avistar simpáticas cegonhas aboletadas em seus ninhos, no alto das torres.
Todas as cidades encontram-se literalmente cercadas pelos vinhedos, que vêm até a borda das ruazinhas medievais.
Quanto às uvas, planta-se por lá muita gewürztraminer, muita pinot gris (a mesma pinot grigio dos italianos), uma curiosa pinot auxerrois e, acima de tudo, a rainha da Alsácia - a riesling, que ocupa quase 25 % de todo o território.
Ao longo da região, cerca de 40 vinhedos recebem a classificação de Grand Cru - ou seja, são considerados vinhedos especiais, produzindo vinhos de qualidade superior. É claro que, como em qualquer lugar do mundo, essa classificação por si não garante que o vinho a ser bebido será ótimo - é apenas uma indicação que se trata de um terroir com características diferenciadas.
De forma geral, não bebemos nada que nos tenha encantado - vinhos bons, sem dúvida, e capazes de harmonizações excelentes com os pratos da culinária local - mas nenhum que nos tenha arrancado suspiros emocionados ...
Uma dessas boas harmonizações (e que foi também surpreendente, para nós) aconteceu na bela cidade de Colmar, no restaurante chamado Le Caveau de St. Pierre. Comemos o famoso chucrute alsaciano, pratos enormes e de sabor acentuado, com até 8 tipos de carnes diferentes : porco, frango, linguiças, salsichas ... Para beber, elegemos um Riesling Grand Cru Saering Domaines Schlumberger 2010. Ao provar o vinho, ele nos pareceu adocicado demais - e duvidamos muito que ele realmente harmonizasse com comida tão - digamos - poderosa ...
Surpresa ! Foi uma combinação ótima, contrastando os sabores, e com a acidez do vinho realçando e valorizando a comida. Vale, como sempre, a velha regra : sempre que possível, combine a comida e os vinhos próprios da região. Afinal, eles vêm aprimorando essa harmonização há alguns séculos ...
Enfim - uma região linda, chegando a ser deslumbrante em alguns pontos específicos, abastecida com vinhos bons sem ser magníficos. Exatamente o oposto do que vimos / bebemos na Borgonha ...