Nunca consegui entender muito bem a
classificação oficial dos vinhos da Borgonha. Fui “obrigado” a viajar até lá
para compreender melhor essa complicação toda (ah, quantos sacrifícios sou
forçado a fazer para satisfazer a curiosidade de meus milhares de leitores …)
A Borgonha não é uma região especialmente
bonita para ser visitada como turista – exceção feita à bela cidade de Beaune e
à belíssima e riquíssima cidade de Dijon. A rota dos vinhedos propriamente dita
não tem nada de especialmente bonita.
Já os vinhos … ah, os vinhos da Borgonha !!
Só o fato de a gente ir rodando de carro pela estradinha e passando pelos
mitológicos vinhedos e cidadezinhas (Montrachet, Nuits-Saint-Georges,
Gevrey-Chambertin, Chassagne-Montrachet, Aloxe-Corton, Vosge-Romanée, Meursault
…) já vale a viagem, para o pessoal que curte vinhos como Tereza e eu.
Mas, sim, a classificação !
Bem, a Borgonha é retalhada em alguns
milhares de pequeninos vinhedos, que formam aquilo que os autores mais antigos
(como o Saul Gavão) chamavam de mosaico borguinhão.
Os vinhos produzidos nesses vinhedos são
classificados em quatro categorias :
- Os mais comuns são produzidos com as uvas plantadas nos vinhedos da planície – são os chamados genéricos, que trazem no rótulo apenas Bourgogne ou, no máximo, Bourgogne Pinot Noir. São bons vinhos, mas vinhos comuns – são os mais fáceis de serem encontrados por aqui, no Brasil, e não são muito caros.
- A seguir, vêm os vinhos mais típicos, ainda dos vinhedos da planície. Eles são chamados de village, e trazem no rótulo o nome da cidade onde estão localizados : Gevrey-Chambertin, Aloxe-Corton, Nuits-Saint-George, Givry, Puligny-Montrachet, e assim por diante. Às vezes, os seus rótulos também trazem o nome de um vinhedo específico, abaixo do nome da village. Já são bons vinhos, e já são também vinhos um pouco mais caros.
- A terceira classificação abrange os vinhos produzidos a partir dos vinhedos que estão no início da encosta das colinas. Eles são chamados de 1er Cru, que é uma classificação superior, atribuída a um vinhedo específico. Na village de Gevrey-Chambertin, por exemplo, há 24 vinhedos que mereceram esta classificação. São vinhos, em geral, excelentes, e beeeeeem caros, ao redor de 50/60 euros. Mesmo por lá, na própria região, definitivamente não são vinhos pra todo dia …
- A quarta classificação – o top dos tops – inclui os vinhos provenientes dos vinhedos que estão mais no alto, no meio da encosta. Por receberem melhor insolação, e por conta do terreno, alguns desses vinhedos recebem a classificação máxima : são os Grand Crus. São os vinhos mitológicos, maravilhosos – e caríssimos ! Custam, em geral, acima de 100 euros, e podem chegar a 300, 400 euros facilmente. Imaginem o preço com que chegam ao Brasil ! Na village de Gevrey-Chambertin, apenas 14 vinhedos são considerados Grand Crus. Em toda a Borgonha, apenas cerca de 40 vinhedos merecem esta classificação.
Essa classificação se reproduz, mais ou menos,
em cada uma das cerca de 20 cidadezinhas, ou villages que se estendem a
partir de Dijon, em direção ao sul.
Bom, isso foi o que eu consegui
compreender. Não vou botar minha mão no fogo para garantir que esteja tudo certinho
– correções de gente mais bem informada do que eu serão muitíssimo bem-vindas !
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