terça-feira, 25 de julho de 2017

CHI -CHI – CHI !! LE – LE – LE !! CHILE ! CHILE ! CHILE !

E viva o Chile !

Sim, sim, nestes dias desta semana, minha vontade é repetir a torto e a direito o famoso grito de guerra da  torcida chilena, como no título deste post.

Isso porque, no último final de semana, estivemos na casa de nossos queridos amigos Carol e Ivan, com suas sempre adoráveis filhotas – a doce e angelical Maria Eduarda e a espevitadinha Helena.

Caso este : eles estiveram passeando, em férias, pelo Chile, e trouxeram de lá deliciosas garrafinhas de belíssimos vinhos chilenos – e tiveram a ainda mais deliciosa ideia de nos convidar, à Tereza e a mim, para degustar essas preciosidades.

Foi um festim bárbaro, acreditem em mim !

Para comer, uma porção de gostosuras – queijos, bruschettas, embutidos, geleias, patês, damascos …

Para beber – ah, para beber …

Demos início aos trabalhos com nada mais, nada menos do que um Don Melchor Cabernet Sauvignon 2013, o vinho top da vinícola Concha y Toro, um dos melhores do Chile e – vale acrescentar – do mundo. Afinal, em sua versão de 2014, ele levou impressionantes 98 pontos lá na escala de nosso dileto coleguinha Robert Parker. A Concha y Toro é, provavelmente, a vinícola chilena mais conhecida ao redor do mundo, e fica no Valle Central – bem pertinho de Santiago.


Na verdade, apesar do nome, o vinho leva 91 % de cabermet sauvignon mesclados com 9 % de cabernet franc. Produzido com uvas de vinhedos de mais de 30 anos, o vinho estava fantástico. Macio e elegante, combinando os aromas da madeira com aromas frescos de erva e de frutas vermelhas.

A farra pantagruélica avançou, em seguida, para um Gran Bosque Private Reserve 2013, também de cabernet sauvignon, produzido pela vinícola Casas del Bosque, no Valle de Casablanca. Este eu não conhecia, e foi um enorme prazer ser apresentado a ele (não sei se a recíproca foi verdadeira).


O vinho recendia a madeira e frutas negras, e na boca apresentava taninos marcantes mas muito elegantes, sem nada de amargor.

O terceiro vinho (na minha opinião, o melhor da noite) foi o magnífico Lota 2010, da vinícola Cousiño Macul. Fundada na metade do século XIX, a vinícola permanece até hoje nas mãos da mesma família que lhe deu origem.


O Lota é feito com a mescla clássica de cabernet sauvignon e merlot, vindas de vinhedos plantados no Valle del Maipo. No nariz, chamavam a atenção os aromas de frutas negras como ameixas ou amoras, mesclando-se aos aromas terciários gentilmente fornecidos pelos 18 meses em carvalho : algo como couro ou tabaco. Na boca, um vinho de alta acidez, frutado e elegante. Combinou maravilhosamente com os salaminhos e linguicinhas que estávamos degustando …

O final da festa foi com uma garrafa de EPU 2014, que é o segundo vinho da mitológica vinícola Almaviva, uma joint-venture entre os chilenos da Concha y Toro e os franceses da Baron de Rotschild. Aliás, parece que o nome EPU vem da antiga língua do povo mapuche, e quer dizer, precisamente, “número dois”.


Belíssimo vinho, um blend de cabernet sauvignon, carmenère, merlot e cabernet franc. Aromas de frutas vermelhas e de caramelo, com taninos discretos e notas frutadas na boca.

Enfim, foi um belo passeio pelo que há de melhor nas botellas chilenas. 

Carol, Maria Eduarda, Helena, Ivan – contem com nossa eterna gratidão por tão maravilhoso passeio !

terça-feira, 11 de julho de 2017

É um pássaro? É um avião? Não! É o Supertoscano!

Pois é, esse negócio de “supertoscano” parece coisa de história em quadrinhos (ou filme) de super-heróis, né ?

Você talvez já tenha ouvido, aqui e ali, esse termo – os tais vinhos chamados de “supertoscanos” … Que significa isso ?

Bem, o que acontece é que nos anos 60 a Itália decidiu criar classificações formais para seus vinhos – as classificações top foram (e são até hoje) as DOC (Denominazione de Origine Controllata) e as DOCG (Denominazione de Origine Controllata e Garantita). São assim classificados, por exemplo, os Barolo, os Brunello di Montalcino, os Chianti Classico

Pela lei, os vinhos que podem utilizar essas classificações devem utilizar apenas uvas italianas autóctones (originárias da própria Itália), como a sangiovese, a nebbiolo, a trebbiano, etc.

Mas alguns italianos são meio turrões, a gente sabe como é …

Pois foi graças a um ou dois desses italianos turrões que a gente hoje pode falar sobre (e principalmente beber !) os tais supertoscanos. Benditos turrões !!

No final dos anos 60, o Marquês della Rocchetta resolveu produzir um vinho, bem no coração da Toscana, apenas com uvas francesas – ele usou cabernet sauvignon e cabernet franc. Deu ao vinho o nome de Sassicaia.


Outro italiano turrão, o marquês Piero Antinori, decidiu então seguir o exemplo do seu patrício. Ele mudou o Chianti que sua família produzia a séculos, também na Toscana. Ao invés de usar apenas a clássica uva sangiovese, o Antinori começou a mesclar seu vinho com cabernet sauvignon e cabernet franc – e criou o vinho chamado de Tignanello.

Como o Sassicaia e o Tignanello usavam uvas não-italianas, eles não puderam ser classificados no topo da pirâmide, como DOC ou DOCG. Tiveram que se contentar com a classificação mais baixa da lei, na época – a simples vino de tavola (vinho de mesa).

A coisa começou a ficar realmente séria nos anos 90, quando Robert Parker (o mais famoso crítico mundial de vinhos) deu ao Sassicaia, em uma degustação às cegas, a nota máxima atingível : 100 pontos.

E agora ? A Itália passava a ter um vinho considerado de ótima qualidade, cobrava por esse vinho um preço compatível com essa qualidade (ou seja, caríssimo) – e o vinho não era considerado top nas classificações oficiais …

Em outros países do mundo, isso talvez fosse considerado um problemão. Na Itália, não foi assim, é claro … Os dois vinhos deram origem a um sem número de novos rótulos (Guada Al Tasso, Ser Giovetto, Solaia, Ornellaia, e um imenso etc.). Os americanos começaram a chamar esses vinhos de … adivinhe ! Sim, sim, são os supertoscanos !

São vinhos excelentes e caros, e continuam não sendo classificados como DOC nem DOCG. A maioria deles, hoje em dia, é classificada como IGT (Indicazione Geografica Tipica), uma categoria apenas intermediária.

Mas eles nem ligam !!

E nós, humildes bebedores, ligamos menos ainda …
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