A definição aí do título foi dada pela Tereza, e me pareceu perfeita !
Para comemorar meu aniversário, visitamos um novo bar em São Paulo, chamado Bardega - o slogan deles explica o nome esquisito : é uma adega que virou bar ...
A razão para o nome e para o slogan : o bar dispõe de doze máquinas Enomatic - aquelas maquininhas engenhosas que preservam até 8 garrafas de vinho abertas, e que servem de forma automatizada doses de 30, 60 ou de 120 ml do vinho selecionado. Você insere na máquina um cartãozinho com chip, seleciona o vinho e o tamanho da dose, e o preço é lançado no cartão. No final da noite, paga-se tudo de uma vez.
Além das maquininhas, o Bardega tem também uma boa e bem abastecida adega, mas a brincadeira legal é mesmo servir-se diretamente nas Enomatic. E isso, por duas razões : a primeira é que você pode, numa só noite, provar diversos vinhos, comparar sabores e aromas, avaliar as vantagens e desvantagens deste vinho sobre aquele outro, e assim por diante. A segunda vantagem, evidentemente, é que você pode se dar ao luxo de provar (ao menos provar ...) alguns daqueles vinhos icônicos, que permeiam as fantasias de todos os apreciadores, e que costumam ficar muito longe das possibilidades dos bolsos de gente como nós, pobres mortais comuns, que não somos capazes de desembolsar cifras de 4 dígitos numa garrafinha de vinho ...
Daí a boa sacada da Tereza : o Bardega é precisamente isso - um parque de diversões para gente que gosta de vinhos.
Não seria possível, em outro lugar, provar, numa mesma noite, coisas como :
- Château Teissier Saint-Emillion Grand Cru 2007, de Bordeaux
- Crozes Hermitage Allain Graillot 2008, das Côtes du Rhône
- Château Cesseras Minervois - La Livinière 2006, do Languedoc-Roussillon
- Château de La Gardine Châteneuf-du-Pape 2008, também Côtes du Rhône
- Amarone della Valpolicella Speri 2007, do Veneto
- Brunello di Montalcino Plan delle Vigne 2007, do Antinori, na Toscana
Tudo em pequenas doses (em geral, elegíamos as doses de 60 ml, selecionávamos uma para cada um de nós dois, e ficávamos - é claro ! - bicando na taça do outro).
Para fechar este pantagruélico festival, elegemos a chave de ouro : o Château d'Yquem Lur Saluces 1997, o mitológico vinho produzido em Sauternes, na região de Bordeaux, com as famosas uvas botrytizadas - isto é, uvas atacadas por um fungo, Botrytis Cinerea, que perfura a casca da uva, a faz perder água e, portanto, concentra o seu teor de açúcar.
O preço desse vinho é quase tão mitológico quanto sua qualidade - pagamos 140 reais por uma dose de 60 ml, que repartimos avaramente entre nós dois.
Dois amigos, também blogueiros, tinham cantado essa bola para nós e falado maravilhas do vinho - a Evelyn Fligeri, do blog Taças e Rolhas, e o Mario Trano, do blog MondoVinho. Recomendo fortemente a leitura dos dois posts, já que eu não tenho nem de longe a mesma competência que eles para descrever as sensações de provar o Château d'Yquem.
Limito-me a dizer que ficamos fascinados - trata-se, definitivamente, de um vinho especialíssimo. A cor é encantadora, dourada, com reflexos laterais de ouro velho. O aroma é de uma complexidade inacreditável : a cada giradinha da taça, você descobre uma nova camada, uma nota diferente, uma coisinha qualquer que não havia percebido antes : mel, flores, amêndoas, canela, manteiga ... Na boca, a mesma complexidade e variedade, acrescidas de uma permanência que eu - confesso ! - jamais havia visto em nenhum outro vinho. Ficávamos minutos a fio sentindo na boca os sabores de cada gole, embevecidos.
Vale o preço de cerca de 1.500 reais a garrafa ? Bem, isso, claro, depende do seu bolso - mas que o vinho é muito superior, lá isso é.
Parafraseando Gonçalves Dias : Meninos, eu bebi !
Momento histórico : Tereza dá um gole na Mitologia |