Se você, distinto leitor, aprazível leitora, gosta de vinho
do Porto, não se esqueça deste nome : Dona
Antonia Adelaide Ferreira.
Dona Antonia, também conhecida como Ferreirinha, viveu na região do Douro durante o século XIX. Ficou
viúva quando ainda era muito novinha, aos 33 anos, e dedicou-se de corpo e alma
aos seus amados terrenos no Douro, onde produzia cereais, amêndoas, azeitonas –e, of course, uvas viníferas.
Definitivamente uma mulher à frente do seu tempo, Dona Antonia
era uma negociante dura e astuta. Aplicou-se em produzir seus vinhos do Porto
dentro das mais perfeitas e acuradas técnicas, tanto no plantio e colheita das
uvas como no seu processamento. Para isso foi buscar novas técnicas em outros
países da Europa, como a Inglaterra. Lutou contra sucessivos governos que não
davam lá muita bola para a produção do vinho – e lutou ferozmente contra a
praga da filoxera, que ameaçava devastar toda a produção de uvas da Europa.
Ainda encontrou forças para ajudar vários pequenos
produtores da região, durante as sucessivas crises econômicas que varreram o
país durante o século.
Quando morreu, em 1896, aos 85 anos, era riquíssima, dona de
um império comercial – e respeitada como uma verdadeira Rainha do Porto.
A casa-símbolo da família de Dona Antonia, a conhecidíssima Casa Ferreira, que produz maravilhosos
vinhos do Porto, hoje já não faz parte das propriedade dos herdeiros – foi
comprada, tempos atrás, pela Sogrape,
a grande empresa vinícola portuguesa.
Por outro lado, um ramo da família, descendente direto da
famosa matriarca, criou uma vinícola chamada Quinta do Vallado – que visitamos,
durante este nosso giro por terras lusitanas
Na Quinta do Vallado, um zeloso trabalhador local seleciona as uvas |
A Quinta do Vallado é uma vinícola de porte médio. A visita
lá foi OK – nem tão calorosa como nas pequenas Quinta da Seara d’Ordens e
Quinta do Marrocos, mas também não tão impessoal como na Sandeman.
A sala das barricas |
Um dos atrativos da Vallado é a bela sala de barricas, que
foi construída, ela mesma, no formato de uma meia-barrica.
Provamos por lá dois vinhos de mesa, ambos da D.O.C. Douro, e um vinho do Porto :
- Vallado Tinto 2010 – é o vinho de entrada da vinícola, para os tintos. As cepas usadas envolvem uma curiosidade : 20% de touriga franca, 25% de touriga nacional, 20% de tinta roriz, 5% de sousão. Até aí, tudo bem : essas são as uvas clássicas do Douro. Mas ainda faltam 20% ... Estes restantes 20% vêm do que eles chamam de vinhas velhas – são vinhas de mais de 70 anos, e há entre as videiras, diversas cepas misturadas, que são vinificadas em conjunto. Eles chamam isso de blend field – ou seja, a mistura feita no próprio campo. É um bom vinho, redondo, trazendo frutas vermelhas ao nariz e com um sabor persistente.
- Vallado Branco 2011 – também o vinho de entrada, para os brancos. É produzido com aquelas uvas portuguesas clássicas de nomes impagáveis : rabigato, verdelho, arinto, viosinho. Um vinho de bom frescor, com notas cítricas e um toque levemente mineral.
- Quinta do Vallado Porto Tawny 10 anos – Este, um Porto delicioso, com uma linda coloração alourada, aromas de frutas secas e caramelos, e um levíssimo defumado. Foi o melhor vinho que provamos lá, disparado !
Ah, bendita Dona Antonia, quanto lhe devemos !!!
Flagramos uma descendente direta da Dona Antonia em momento de relax ... |
2 comentários:
Fala Nivaldo, bendito seja o deus Baco.
A sensação de visitar estas vinícolas na Europa é a de estar no paraíso. Parece que todos os problemas desaparecem, principalmente após fazer diversas degustações...
Abraço,
Sandro
É verdade, Sandro : enquanto você está lá, provando os vinhos, conversando com o enólogo, fuçando nas parreiras, visitando as barricas - você não lembra que tem a prestação do carro pra pagar, ou que deu pau naquele sistema chave da empresa onde você trabalha, ou que o seu time caiu pra segunda divisão ... risos ....
Bendito Baco !
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