terça-feira, 29 de junho de 2010
A Copa dos Copos - Parte 9
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Afinal, todos os vinhos são bons ?!?
Claro que não ... Suponho que a memória seletiva que a gente traz embutida me leva a fazer comentários, na maioria das vezes, sobre o que tomei e gostei ... Mas como eu gosto muito de experimentar coisas diferentes, volta-e-meia acabo provando vinhos dos quais não gosto tanto.
Vamos então falar sobre um vinho do qual não gostei.
Sexta-feira fomos jantar no restaurante Ici Bistrô, do chef Benny Novak, aqui em São Paulo, no bairro da Consolação. Decidimos comer carne (um filé a poivre para mim, e uma costela bovina para a Tereza), e experimentar um vinho diferente.
Pedimos um Madiran - trata-se de um vinho francês, produzido no sudoeste da França. O Madiran é produzido à base da uva tannat, que se tansformou, no final do século XX, na uva emblemática do Uruguai.
A tannat produz vinhos muito tânicos, densos, de coloração escura. O nosso Madiran chamava-se Odé d'Aydie, produzido pelo Château d'Aydie. Não negava a raça dos tannat : era escuro e denso, e muito, mas MUITO tânico.
A garrafa que tomamos era de 2004. É possível que, com mais alguns anos de repouso, ele venha a melhorar. Neste momento, o vinho estava realmente difícil de beber. Os taninos pouco amadurecidos têm um efeito desagradável - tornam-se amargos no fundo da língua ... Você engole o vinho, e o sabor que fica na boca é o sabor amargo dos taninos fortes.
Mesmo com as carnes gordurosas e potentes que comemos, o vinho definitivamente não harmonizou.
Fica, então, mais este aprendizado. Para o nosso gosto específico (meu e da Tereza), o Madiran não cai bem.
Evidentemente, isso não quer dizer que ele não cairá bem para você ... Porque não experimenta e me conta depois ?
Vinhos na churrascaria
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Geraldo e a nossa sopinha dos dias de inverno
Qual o lar brasileiro que não consome sopa ? Em que casa não se tem o hábito de, nas noites frias do inverno paulistano, tomar uma cálida sopa - de cebola, de palmito, de queijo, de abóbora-com-carne-seca, de pacotinho ?
Por alguma misteriosa razão, a sopa, onipresente nas nossas casas desde sempre, não é um prato considerado "bacana" - raros são os restaurantes que as oferecem.
Não importa. Basta chegarem os primeiros dias do inverno - como esses que temos tido em São Paulo nas últimas semanas - e a sopa impera em todos os lares.
Meu grande amigo Geraldo, leitor do nosso blog, sugere um post harmonizando vinhos com as sopas. Ótima idéia, que passo a executar imediatamente.
Tomamos hoje uma sopa de ervilhas. Simplíssima : uma lata de ervilhas de boa qualidade, alho, cebola, e uma parte de um desses pacotinhos de sopa de ervilha que são encontrados em qualquer supermercado. A sopa ficou gostosa, cremosa - e foi enriquecida por croûtons em saquinhos, comprados no mesmo supermercado.
Escolhemos um vinho da uva cabernet franc - um vinho encorpado, mas mais suave e mais leve que a cabernet sauvignon (a partir da qual, aliás, ela é originada). O eleito foi um argentino, Viñas de Narvaez, honesto e barato - infelizmente, não muito fácil de ser encontrado.
Resultado - uma delícia ! A leve aspereza do vinho combina bem com a untuosidade da sopa (isso é o que os especialistas chamam de harmonização por contraste). Umas gotinhas de tabasco adicionadas à sopa davam ao prato um toque extra, muito bem equilibrado pelos sabores de fruta do vinho.
Experimentem, e depois me contem o que acharam.
A Copa dos Copos - Parte 8
terça-feira, 22 de junho de 2010
Itália - bons vinhos, bons preços
Antes de mais nada, vou repetir duas observações :
1 - a lista é dos vinhos que EU tomei e gostei, o que não quer dizer que VOCÊ vá tomar e gostar. E são apenas sugestões, certamente haverá dezenas de outras marcas e tipos de vinhos nas prateleiras e no seu conhecimento pessoal.
2 - desconfie sempre de vinhos europeus com preços MUITO baixos ...
Vamos lá. Vinhos até 50 reais :
- Orvieto Masseria Trajone - branco
- Frascati Superior Masseria Trajone - branco
- Pinot Grigio Villa Jolanda - branco
- Barbera d'Asti Villa Jolanda - tinto
- Nero d'Avola Baglio del Sole - tinto
- Valpolicella Bolla - tinto
- Barbera d'Asti Le Orme - tinto
Vinhos entre 50 e 100 reais :
- Soave Classico Guerrieri Rizzardi - branco
- Greco di Tufo Benito Ferrara - branco
- Bardolino Guerrieri Rizzardi - tinto
- Valpolicella Guerrieri Rizzardi - tinto
- Dolcetto d'Alba La Chiesa - tinto
- Rosso di Montalcino Piccini - tinto
- Chianti Colli Senesi Tosca - tinto
- Chianti Classico Castelo Dalbola - tinto
Em cores diferentes, estão os meus preferidos nessas faixas de preço.
No caso dos vinhos italianos, além de ficar de olho no tipo de vinho que está sendo comprado (Chianti, Soave, Barbera d'Asti, etc.) é muito importante ficar atento também ao produtor. Os vinhos do Veneto, por exemplo (Bardolino, Valpolicella) são bastante populares e baratos. Claro que não são maravilhosos, mas podem representar uma boa combinação de custo e benefício - se forem escolhidos bons produtores, como Bolla e Guerrieri Rizzardi.Há alguns produtores de Bardolino e Valpolicella que são muito comuns nos nossos supermercados, e são beeeeeeem baratinhos ... fuja deles, por favor ! Refiro-me a nomes como Valdorella, Falconi, Montresor, Zonin.
Contribuições à minha lista serão pra lá de bem vindas, garanto !!
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Fondue & vinho especial - é o Dia dos Namorados !
quinta-feira, 17 de junho de 2010
A Copa dos Copos - Parte 7
quarta-feira, 16 de junho de 2010
A Copa dos Copos e a Copa do Mundo
O tal do "mercado", fortemente influenciado pelo gosto dos americanos, estaria caminhando lentamente para a produção de vinhos iguais, que pudessem satisfazer esse gosto pelos vinhos potentes e cheios de madeira.
Os mais pessimistas dizem que, no longo prazo, essa onda tenderia a acabar com os maravilhosos vinhos produzidos na Europa - cada país com suas características próprias, com suas uvas específicas, com suas técnicas centenárias.
Em algumas décadas, estaríamos todos condenados a beber os mesmos e monótonos cabernet sauvignon, merlot e chardonnay amadeirados e com forte graduação alcoólica.
Parece muito pessimista, né ?
Mas chega a dar um arrepio na espinha o que a gente está vendo na Copa do Mundo de futebol. Parece que todo mundo joga igual, não há brilho, não há destaques individuais, não há goleadas. O que importa acima de tudo é não perder. Depois, se der, a gente tenta ganhar. Meu amigo Fabio Vagner escreveu belíssimo texto sobre este tema no seu blog In the Jungle - leia aqui.
Será que o mundo do futebol, tão globalizado e mercantilizado, está antecipando algo que vai mesmo ocorrer no mundo dos vinhos ? Brrrrrrrr......
Encerro com o grande Carlos Drummond de Andrade :
"Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta muito para atingirmos um nível razoável de cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto."
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Como escolher um vinho italiano na prateleira ?
A legislação italiana classifica os vinhos em quatro tipos, do mais sofisticado ao mais simples :
- Denominazione di Origine Controllata e Garantita (DOCG)
- Denominazione di Origine Controllata (DOC)
- Indicazione Geografica Tipica (IGT)
- Vino da Tavola (VdT)
Uma dessas quatro abreviaturas deve estar presente no rótulo do vinho.
Em tese, os DOCG são os vinhos que são produzidos com mais cuidados e com maior qualidade – e evidentemente são mais caros. Mas em se tratando de Itália, as regras infelizmente não são lá muito rígidas.
Existem na Itália cerca de 30 DOCG’s. Algumas das mais conhecidas no Brasil são Barolo, Barbaresco, Brunello di Montalcino, Chianti Classico, Asti. Estes vinhos têm que ter sido produzidos com cepas de uvas específicas, e em determinadas quantidades, de acordo com o tamanho da propriedade. Todas as garrafas de vinhos DOCG são identificadas com um selo ao redor do gargalo, distribuído pelo governo. É um selo rosa para os vinhos tintos, e verde claro para os brancos.
A seguir vêm os DOC. São mais de 150 regiões demarcadas na Itália, e a legislação já é um pouco menos rigorosa.
Veja uma relação completa das DOCG italianas aqui, e uma relação das DOC aqui.
Os IGT deveriam representar apenas vinhos regionais, sem grande importância, e os VdT seriam a grande produção de vinhos de mesa do dia-a-dia – ainda menos importantes.
Só que estamos na Itália, e por aqui as coisas nunca são assim tão simples ...
Alguns produtores, ao longo do tempo, se revoltaram e desistiram de seguir a legislação ao pé da letra. Por exemplo : na Toscana, a legislação diz que só podem ser DOCG ou DOC vinhos feitos com uvas italianas, como a sangiovese ou a canaiolo. Eles não estão autorizados a misturar cepas francesas, como cabernet sauvignon ou merlot. Pois bem – alguns produtores decidiram continuar a mesclar seus vinhos com cepas francesas, mesmo que, com isso, não pudessem ter direito a uma DOC ou DOCG. Assim, surgiram, os chamados “supertoscanos” : vinhos caríssimos, de excelente qualidade, mas que são classificados como IGT. Alguns nomes de vinhos que têm essa característica : Tignanello, Sassicaia, Sassoaloro, Guado Al Tasso.
Por outro lado, em algumas regiões foram criados os chamados consorzios – são associações dos melhores e mais conceituados produtores, que criam regras ainda mais rígidas que as do governo para os seus vinhos. É o caso, por exemplo, do Galo Nero, o consorzio de produção do Chianti Classico. Algumas marcas de Chianti Classico têm o selo cor-de-rosa do governo e tem um outro selo, que ostenta um simpático galinho negro – é uma garantia adicional de qualidade. Nem todo produtor faz parte do consorzio, mas é claro que os que fazem parte são mais selecionados.
Isso tudo quer dizer que a escolha de um vinho italiano é ainda mais complicada do que a de um vinho espanhol ou francês. Além da classificação acima, é bom ficar de olho no nome do produtor – um produtor de renome ajuda muito a ter certeza da qualidade do vinho.
Ou seja, mais do que nunca, em se tratando de italianos, o negócio é beber e decidir – gostei ou não gostei ?
Ah, sim – imediatamente depois de chegar a essa conclusão, favor correr pro computador e contar pra gente !!
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Degustação, uma arte para poucos - será mesmo ?
Você não acreditou no que eu disse nesse primeiro parágrafo, né ?
Pois fez muito bem !
A degustação de vinhos deve ser um prazer, muito mais do que um truque de prestidigitação.
Claro, existem pessoas no mundo que têm um olfato ou um paladar extremamente desenvolvido e treinado, e que são capazes de fazer essas coisas. Gente como Robert Parker, o americano que hoje é o todo-poderoso criador e destruidor de mitos do mundo dos vinhos.
Mas você e eu não somos Robert Parker ... Será que essa nossa "incapacidade" nos relega ao plano dos "caras que não entendem de vinho", dos sujeitos que estão impedidos por alguma lei de fazer suas degustações ?
É claro que não ! Parafraseando o poeta maranhense Ferreira Gullar, eu digo que o vinho, como a crase, não foi feito para humilhar ninguém. Degustar um vinho não quer dizer ter poderes excepcionais e ser capaz de fazer as adivinhações mágicas do primeiro parágrafo deste texto.
Degustar um vinho deve ser, antes de tudo, um exercício de prazer. Nós, que não somos profissionais do mundo do vinho, não temos nenhum compromisso de ficar acertando adivinhações às cegas. Isso é coisa de profissional - ou então, dos famosos enochatos.
Tereza e eu brincamos, às vezes, de fazer degustações às cegas. Em geral, fazemos essas brincadeiras com amigos, como o Walther e a Cláudia. Os resultados, envergonho-me de dizer em público, têm sido pífios ... Acertamos aqui e ali, erramos na maior parte das vezes. O mais importante é que nos divertimos, trocamos experiências, bebemos, comemos, jogamos conversa fora.
A degustação, para nós, é isso - a arte de jogar conversa fora. O supremo prazer de tentar descobrir aromas e sabores inesperados, de tentar entender porque alguns sentem cheiro de "tabaco" onde eu só sinto cheiro de "madeira", e porque alguns vinhos devem ter aroma de "frutas vermelhas" enquanto outro apresenta "notas de frutas negras" - alguém aí sente cores com o nariz ?
Enfim, vamos deixar de frescuras - o prazer do vinho está em bebê-lo e em confraternizar com os bons amigos, não em fazer mágicas de salão.
Portanto, relaxe - você não é o único que não sabe qual é o aroma de "grama recém-cortada". Beba seu vinho, tente descobrir se ele lhe dá prazer e tente memorizar os aromas e sabores que está encontrando. Se não tiver muito sucesso, relaxe mais - e beba mais um gole.
Como dizia um professor meu da ABS, o vinho foi feito é pra gente beber !
O resto, deixemos para os Robert Parker e para os enochatos de plantão.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Um livro interessante associando vinho e História
É um relato muito interessante que junta o tema essencial do nosso blog - o vinho, é claro - com um aspecto pouco conhecido da Segunda Guerra Mundial.
Depois da invasão alemã na França, os nazistas trataram de apoderar-se de muitos dos tesouros existentes em território francês. Eles levaram para a Alemanha quadros, esculturas, jóias, peças históricas - e vinhos.
Seu foco, como não podia deixar de ser, eram os grandes tesouros de vinhos de Bordeaux, as grandes adegas dos produtores que armazenavam milhares e milhares de garrafas de vinhos de excelente qualidade e de preços altíssimos. Muitas delas foram realmente levadas para Berlim.
Os produtores trataram de salvar seus tesouros como era possível. Alguns deles passaram noites e noites trocando os bons vinhos de suas garrafas originais para outras de vinhos mais comuns. Outros começaram a "envelhecer" artificialmente garrafas recém-produzidas, espalhando sobre elas poeira e teias de aranha compradas de firmas que limpavam tapetes ...
São episódios interessantes, às vezes engraçados, às vezes patéticos, às vezes heróicos - e formam um quadro amplo de como foi o processo de invasão e a surda resistência dos franceses em defesa de seu patrimônio.
Leitura leve e agradável, que tem o mérito de lançar uma nova luz sobre um episódio histórico (a Segunda Guerra Mundial) já tão conhecido e tantas vezes esmiuçado.