terça-feira, 29 de junho de 2010

A Copa dos Copos - Parte 9


Enquanto o Mundial de futebol acaba de ter definidas as partidas das suas quartas-de-final, nossa empolgante Copa dos Copos ainda tem duas partidas das oitavas-de-final em andamento.

A penúltima delas é um jogo que quase nem precisa ser realizado ... Afinal, entre Itália e Dinamarca não dá pra esperar grandes zebras quando se fala de vinhos, não é ?

A pobre Dinamarca entra em campo com alguns pequenos vinhedos nas regiões de Jutland e Lolland, e seu tímido destaque é o espumante produzido em Skaeresogard - os dinamarqueses têm um certo orgulho deste vinho, por conta de umas premiações internacionais meio desconhecidas ...

Já a Itália ... Ah, a Itália ! Quem pode conter seu ataque formado pelas maravilhas do Piemonte - Barolo, Barbaresco e Barbera d'Alba ? Como neutralizar seu meio-de-campo toscano poderosíssimo, que toca a bola com maestria, entre os pés de Brunello di Montalcino, Chianti Classico e Vin Santo ?

Será que dá pra tocar tarantela com as vuvuzelas ? Sim, meus amigos, a Itália passa fácil pela Dinamarca e está garantidíssima nas quartas-de-final da Copa dos Copos !

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Afinal, todos os vinhos são bons ?!?

Relendo meus próprios posts, me dei conta de um fato interessante - na grande maioria deles, eu falo bem dos vinhos que tomei ... Que mistério é esse ? Será possível que todos são bons ?

Claro que não ... Suponho que a memória seletiva que a gente traz embutida me leva a fazer comentários, na maioria das vezes, sobre o que tomei e gostei ... Mas como eu gosto muito de experimentar coisas diferentes, volta-e-meia acabo provando vinhos dos quais não gosto tanto.

Vamos então falar sobre um vinho do qual não gostei.

Sexta-feira fomos jantar no restaurante Ici Bistrô, do chef Benny Novak, aqui em São Paulo, no bairro da Consolação. Decidimos comer carne (um filé a poivre para mim, e uma costela bovina para a Tereza), e experimentar um vinho diferente.

Pedimos um Madiran - trata-se de um vinho francês, produzido no sudoeste da França. O Madiran é produzido à base da uva tannat, que se tansformou, no final do século XX, na uva emblemática do Uruguai.

A tannat produz vinhos muito tânicos, densos, de coloração escura. O nosso Madiran chamava-se Odé d'Aydie, produzido pelo Château d'Aydie. Não negava a raça dos tannat : era escuro e denso, e muito, mas MUITO tânico.

A garrafa que tomamos era de 2004. É possível que, com mais alguns anos de repouso, ele venha a melhorar. Neste momento, o vinho estava realmente difícil de beber. Os taninos pouco amadurecidos têm um efeito desagradável - tornam-se amargos no fundo da língua ... Você engole o vinho, e o sabor que fica na boca é o sabor amargo dos taninos fortes.

Mesmo com as carnes gordurosas e potentes que comemos, o vinho definitivamente não harmonizou.

Fica, então, mais este aprendizado. Para o nosso gosto específico (meu e da Tereza), o Madiran não cai bem.

Evidentemente, isso não quer dizer que ele não cairá bem para você ... Porque não experimenta e me conta depois ?

Vinhos na churrascaria


Alguns leitores do nosso blog têm me perguntado sobre vinhos que combinam com churrasco. O leque de opções é bem grande - há vários tipos de vinhos que combinam com as carnes grelhadas, vai depender muito do gosto, da data, do estilo - e do bolso, claro ! - de cada um.


Ontem, domingão, bons jogos da Copa do Mundo pra ver na TV - dia talhado para churrasco. Só que, além disso, era o aniversário do Ricardo, irmão da Tereza, o que justificava uma churrascaria mais caprichada, e um vinho um pouquinho melhor.

Para nós, churrascaria caprichada em São Paulo tem nome : a campeã é mesmo o velho Fogo de Chão da avenida Santo Amaro. As carnes são ótimas, os complementos são ótimos, o lugar é bonito, o serviço é absolutamente impecável. Ok, Ok, não é barato - nada é perfeito ...

Como se tudo isso não bastasse, a carta de vinhos é fantástica. A variedade é muito grande, há centenas de escolhas possíveis, e você ainda pode, se quiser, visitar a bela adega climatizada que eles têm logo na entrada do restaurante. É só pedir ao garçon. Os preços ? Bem, não são baratinhos, mas também não chegam a ser daqueles lugares em que a gente se sente assaltado em plena luz do dia ...

Tomamos um belíssimo Chianti Classico Brolio, da vinícola italiana Ricasoli. O vinho estava delicioso, equilibrando bem os aromas de frutas frescas com taninos elegantes que não "amarravam". Na boca, as fatias fininhas de picanha ao ponto quase se derretiam em contato com o vinho.

Foi um vinho muito bom para acompanhar o aniversário do Ricardo - principalmente porque ele não bebe nada de álcool, cabendo a mim e à Tereza a dura tarefa de esvaziar a garrafinha de Chianti ...

Acabada a primeira garrafa, ainda tínhamos sede - mas como bem sabem a Tatiana e o marido dela, não se encontram meias-garrafas com muita facilidade no nosso mercado. Tivemos que trocar de vinho. O escolhido para a meia-garrafinha (dentro das limitadas possibilidades do cardápio) foi um Catena, um malbec argentino. É um bom vinho, que já tomamos outras vezes - mas desta vez, por conta da comparação com o belo Chianti que tínhamos acabado de tomar, ele ficou sem graça e não casou bem com a carne ... que pena !

Assim, que fique registrado - o Chianti Classico pode ser uma bela combinação para o seu churrasco. Há muitas e muitas outras opções - voltarei a falar delas em futuros posts.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Geraldo e a nossa sopinha dos dias de inverno

Sopa, sopa, sopinha ...

Qual o lar brasileiro que não consome sopa ? Em que casa não se tem o hábito de, nas noites frias do inverno paulistano, tomar uma cálida sopa - de cebola, de palmito, de queijo, de abóbora-com-carne-seca, de pacotinho ?

Por alguma misteriosa razão, a sopa, onipresente nas nossas casas desde sempre, não é um prato considerado "bacana" - raros são os restaurantes que as oferecem.

Não importa. Basta chegarem os primeiros dias do inverno - como esses que temos tido em São Paulo nas últimas semanas - e a sopa impera em todos os lares.

Meu grande amigo Geraldo, leitor do nosso blog, sugere um post harmonizando vinhos com as sopas. Ótima idéia, que passo a executar imediatamente.

Tomamos hoje uma sopa de ervilhas. Simplíssima : uma lata de ervilhas de boa qualidade, alho, cebola, e uma parte de um desses pacotinhos de sopa de ervilha que são encontrados em qualquer supermercado. A sopa ficou gostosa, cremosa - e foi enriquecida por croûtons em saquinhos, comprados no mesmo supermercado.

Escolhemos um vinho da uva cabernet franc - um vinho encorpado, mas mais suave e mais leve que a cabernet sauvignon (a partir da qual, aliás, ela é originada). O eleito foi um argentino, Viñas de Narvaez, honesto e barato - infelizmente, não muito fácil de ser encontrado.

Resultado - uma delícia ! A leve aspereza do vinho combina bem com a untuosidade da sopa (isso é o que os especialistas chamam de harmonização por contraste). Umas gotinhas de tabasco adicionadas à sopa davam ao prato um toque extra, muito bem equilibrado pelos sabores de fruta do vinho.

Experimentem, e depois me contem o que acharam.

A Copa dos Copos - Parte 8



Vamos lá, é bola rolando nas oitavas-de-final da nossa Copa dos Copos - e não é a Jabulani ...

A partida de hoje é duríssima - nada mais, nada menos do que Portugal e Chile ! É jogo pra cardíaco, diria o chatíssimo Galvão Bueno.

O Chile começa o jogo se lançando inteiro ao ataque, baseado na juventude e no vigor de seus excelentes vinhos - Caliterra, Los Boldos, Lapostolle, Concha y Toro, Errazúriz, Ventisquero.





O meio-de-campo chileno é excepcional, um dos melhores do mundo, formando com Almaviva, Don Melchor e Caballo Loco.







E no comando do ataque, lidera o francês naturalizado chileno Carmenère - ah, esse francesinho que conseguiu se tornar o símbolo maior dos vinhos do Chile !

Mas o adversário é Portugal - e Portugal sabe como poucos manejar sua enorme experiência de 1.500 anos de produção de vinho.

A defesa é absolutamente soberana, com Dão, Estremadura, Bairrada, Ribatejo (que está mudando de nome para Tejo).

No meio-do-campo, os vinhos verdes têm seus admiradores, e eles abusam das uvas com nomes tradicionais : Touriga Nacional, Tinto Cão, Trajadura, Alvarinho, Alfrocheiro, Maria Gomes, Rabo de Ovelha, Antão Vaz ...





O ataque, arrasador, forma com Alentejo pela direita (ah, os vinhos do Alentejo!), Douro pela esquerda e, para completar, o demolidor, irresistível centro-avante - o Vinho do Porto ...





É quase para chorar, é para silenciar as vuvuzelas alucinadas, mas não tem jeito - o Chile é derrotado e cai fora da Copa dos Copos .. Merecia ir mais longe, mas o grande vencedor de hoje é mesmo Portugal.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Itália - bons vinhos, bons preços

Como fiz alguns dias atrás com os vinhos espanhóis, vou mencionar hoje alguns vinhos italianos que podem ser encontrados em supermercados ou em lojas em São Paulo, a preços razoáveis.

Antes de mais nada, vou repetir duas observações :

1 - a lista é dos vinhos que EU tomei e gostei, o que não quer dizer que VOCÊ vá tomar e gostar. E são apenas sugestões, certamente haverá dezenas de outras marcas e tipos de vinhos nas prateleiras e no seu conhecimento pessoal.

2 - desconfie sempre de vinhos europeus com preços MUITO baixos ...

Vamos lá. Vinhos até 50 reais :

  • Orvieto Masseria Trajone - branco
  • Frascati Superior Masseria Trajone - branco
  • Pinot Grigio Villa Jolanda - branco
  • Barbera d'Asti Villa Jolanda - tinto
  • Nero d'Avola Baglio del Sole - tinto
  • Valpolicella Bolla - tinto
  • Barbera d'Asti Le Orme - tinto

Vinhos entre 50 e 100 reais :

  • Soave Classico Guerrieri Rizzardi - branco
  • Greco di Tufo Benito Ferrara - branco
  • Bardolino Guerrieri Rizzardi - tinto
  • Valpolicella Guerrieri Rizzardi - tinto
  • Dolcetto d'Alba La Chiesa - tinto
  • Rosso di Montalcino Piccini - tinto
  • Chianti Colli Senesi Tosca - tinto
  • Chianti Classico Castelo Dalbola - tinto

Em cores diferentes, estão os meus preferidos nessas faixas de preço.

No caso dos vinhos italianos, além de ficar de olho no tipo de vinho que está sendo comprado (Chianti, Soave, Barbera d'Asti, etc.) é muito importante ficar atento também ao produtor. Os vinhos do Veneto, por exemplo (Bardolino, Valpolicella) são bastante populares e baratos. Claro que não são maravilhosos, mas podem representar uma boa combinação de custo e benefício - se forem escolhidos bons produtores, como Bolla e Guerrieri Rizzardi.

Há alguns produtores de Bardolino e Valpolicella que são muito comuns nos nossos supermercados, e são beeeeeeem baratinhos ... fuja deles, por favor ! Refiro-me a nomes como Valdorella, Falconi, Montresor, Zonin.

Contribuições à minha lista serão pra lá de bem vindas, garanto !!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Fondue & vinho especial - é o Dia dos Namorados !


Há anos, Tereza e eu decidimos ficar em casa no Dia dos Namorados. Nessa data, os restaurantes em São Paulo ficam insuportáveis - todo mundo resolve sair pra comemorar ...


Como tínhamos em casa nossos amigos Angela e Fábio na data precisa do Dia dos Namorados, adiamos nossa "comemoração" particular para uma data mais propícia - ela aconteceu ontem, quinta-feira, dia 17 de junho.

Fizemos um fondue de queijo, com batatinhas e cebolinhas, que ficou uma delícia. Como a data era especial, tomamos a liberdade de fugir ao espírito original deste blog (vinhos acessíveis) e decidimos experimentar um vinho especial, trazido do free shop - um Caballo Loco, mitológico vinho chileno considerado vinho de autor.

E o que vem a ser um vinho de autor ? É um pouco garantia de qualidade, um pouco golpe de marketing. O Caballo Loco, por exemplo, não identifica as uvas de que é feito (dá pra sentir que a base é cabernet sauvignon, e a literatura informa que há também cabernet franc, merlot e carmenère) e nem a safra, já que o produtor mistura um pouco da safra anterior na produção do vinho. Ele é identificado por uma numeração sequencial, ano a ano. Este que bebemos, por exemplo, é o Caballo Loco Número 11 - o que indica que a safra deve ser de 2006, com mescla de vinhos da safra de 2005. O produtor é a Valdivieso, do Chile, cujo proprietário, Jorge Coderch, tinha exatamente o apelido de Caballo Loco.

Os resultados ? Excelentes ...

O vinho é aveludado, complexo, rico em aromas diferentes, com bastante álcool (são 14,5 graus) e sabores marcantes. O casamento com os sabores também marcantes do queijo e das cebolinhas ficou muito gostoso ...

Enfim, uma bela celebração de Dia dos Namorados - na foto, dá pra ver a satisfação da Tereza empunhando a nossa garrafinha, pela qual pagamos algo ao redor de USD 100 no free shop.
Ok, Ok, concordo - não é mesmo um vinho pra todo dia ...

Mas de vez em quando, a gente merece, ou não merece ?!?

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A Copa dos Copos - Parte 7


Em paralelo ao campeonato mundial de futebol, segue a pleno vapor a nossa Copa dos Copos, que já está na fase das oitavas-de-final.


A partida de hoje é entre Holanda e Nova Zelândia, jogo no qual os especialistas definitivamente não esperam nenhuma grande zebra.


Afinal, a Holanda, que no futebol produziu enormidades como Cruyjff, Neeskens, Van Basten, Rijkaard e Bergkamp, na produção de vinhos jamais se destacou ... As terras planas e baixas demais, com muito pouco sol durante todo o ano, não são propícias a grandes experiências vinícolas. Sua produção se resume a uns poucos vinhos brancos na região de Gelderland - e isso é tudo.


Já a Nova Zelândia ... Ah, a Nova Zelândia !


Os maravilhosos sauvignon blanc da região de Marlborough, excelente combinação para os ceviches peruanos ! Os deliciosos pinot noir de Wairarapa e de Otago Central ! Correndo pelos flancos do gramado, você ainda vai encontrar ótimos chardonnay, riesling e até gewürztraminer.


É, amigos ouvintes, a zebra fica de fora - Nova Zelândia é a classificada de hoje. Não há vuvuzela que seja capaz de mudar este resultado !


quarta-feira, 16 de junho de 2010

A Copa dos Copos e a Copa do Mundo

Há tempos se fala, no mundo dos vinhos, que a produção mundial caminha para uma chatíssima uniformidade.
O tal do "mercado", fortemente influenciado pelo gosto dos americanos, estaria caminhando lentamente para a produção de vinhos iguais, que pudessem satisfazer esse gosto pelos vinhos potentes e cheios de madeira.
Os mais pessimistas dizem que, no longo prazo, essa onda tenderia a acabar com os maravilhosos vinhos produzidos na Europa - cada país com suas características próprias, com suas uvas específicas, com suas técnicas centenárias.
Em algumas décadas, estaríamos todos condenados a beber os mesmos e monótonos cabernet sauvignon, merlot e chardonnay amadeirados e com forte graduação alcoólica.
Parece muito pessimista, né ?
Mas chega a dar um arrepio na espinha o que a gente está vendo na Copa do Mundo de futebol. Parece que todo mundo joga igual, não há brilho, não há destaques individuais, não há goleadas. O que importa acima de tudo é não perder. Depois, se der, a gente tenta ganhar. Meu amigo Fabio Vagner escreveu belíssimo texto sobre este tema no seu blog In the Jungle - leia aqui.
Será que o mundo do futebol, tão globalizado e mercantilizado, está antecipando algo que vai mesmo ocorrer no mundo dos vinhos ? Brrrrrrrr......

Encerro com o grande Carlos Drummond de Andrade :

"Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta muito para atingirmos um nível razoável de cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto."

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Como escolher um vinho italiano na prateleira ?

Alguns dias atrás, falei aqui sobre os rótulos dos vinhos espanhóis, e as informações que podem ajudar a gente a escolher uma garrafinha na prateleira. Vou fazer o mesmo agora com os vinhos da Itália - já que na Copa do Mundo do futebol acaba de começar o primeiro jogo da seleção italiana.

A legislação italiana classifica os vinhos em quatro tipos, do mais sofisticado ao mais simples :
  • Denominazione di Origine Controllata e Garantita (DOCG)
  • Denominazione di Origine Controllata (DOC)
  • Indicazione Geografica Tipica (IGT)
  • Vino da Tavola (VdT)


Uma dessas quatro abreviaturas deve estar presente no rótulo do vinho.
Em tese, os DOCG são os vinhos que são produzidos com mais cuidados e com maior qualidade – e evidentemente são mais caros. Mas em se tratando de Itália, as regras infelizmente não são lá muito rígidas.


Existem na Itália cerca de 30 DOCG’s. Algumas das mais conhecidas no Brasil são Barolo, Barbaresco, Brunello di Montalcino, Chianti Classico, Asti. Estes vinhos têm que ter sido produzidos com cepas de uvas específicas, e em determinadas quantidades, de acordo com o tamanho da propriedade. Todas as garrafas de vinhos DOCG são identificadas com um selo ao redor do gargalo, distribuído pelo governo. É um selo rosa para os vinhos tintos, e verde claro para os brancos.


A seguir vêm os DOC. São mais de 150 regiões demarcadas na Itália, e a legislação já é um pouco menos rigorosa.

Veja uma relação completa das DOCG italianas aqui, e uma relação das DOC aqui.


Os IGT deveriam representar apenas vinhos regionais, sem grande importância, e os VdT seriam a grande produção de vinhos de mesa do dia-a-dia – ainda menos importantes.


Só que estamos na Itália, e por aqui as coisas nunca são assim tão simples ...


Alguns produtores, ao longo do tempo, se revoltaram e desistiram de seguir a legislação ao pé da letra. Por exemplo : na Toscana, a legislação diz que só podem ser DOCG ou DOC vinhos feitos com uvas italianas, como a sangiovese ou a canaiolo. Eles não estão autorizados a misturar cepas francesas, como cabernet sauvignon ou merlot. Pois bem – alguns produtores decidiram continuar a mesclar seus vinhos com cepas francesas, mesmo que, com isso, não pudessem ter direito a uma DOC ou DOCG. Assim, surgiram, os chamados “supertoscanos” : vinhos caríssimos, de excelente qualidade, mas que são classificados como IGT. Alguns nomes de vinhos que têm essa característica : Tignanello, Sassicaia, Sassoaloro, Guado Al Tasso.


Por outro lado, em algumas regiões foram criados os chamados consorzios – são associações dos melhores e mais conceituados produtores, que criam regras ainda mais rígidas que as do governo para os seus vinhos. É o caso, por exemplo, do Galo Nero, o consorzio de produção do Chianti Classico. Algumas marcas de Chianti Classico têm o selo cor-de-rosa do governo e tem um outro selo, que ostenta um simpático galinho negro – é uma garantia adicional de qualidade. Nem todo produtor faz parte do consorzio, mas é claro que os que fazem parte são mais selecionados.

Isso tudo quer dizer que a escolha de um vinho italiano é ainda mais complicada do que a de um vinho espanhol ou francês. Além da classificação acima, é bom ficar de olho no nome do produtor – um produtor de renome ajuda muito a ter certeza da qualidade do vinho.


Ou seja, mais do que nunca, em se tratando de italianos, o negócio é beber e decidir – gostei ou não gostei ?


Ah, sim – imediatamente depois de chegar a essa conclusão, favor correr pro computador e contar pra gente !!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Degustação, uma arte para poucos - será mesmo ?

Meus amigos, hoje em dia, basta eu dar um pequeno gole em uma taça de vinho e já sou capaz de dizer, com precisão, qual o tipo de uva utilizado, qual a região produtora e de qual país o vinho é originado. Com um pouco de sorte, posso dizer o nome do produtor e a safra da qual aquela garrafa se originou.

Você não acreditou no que eu disse nesse primeiro parágrafo, né ?

Pois fez muito bem !

A degustação de vinhos deve ser um prazer, muito mais do que um truque de prestidigitação.

Claro, existem pessoas no mundo que têm um olfato ou um paladar extremamente desenvolvido e treinado, e que são capazes de fazer essas coisas. Gente como Robert Parker, o americano que hoje é o todo-poderoso criador e destruidor de mitos do mundo dos vinhos.

Mas você e eu não somos Robert Parker ... Será que essa nossa "incapacidade" nos relega ao plano dos "caras que não entendem de vinho", dos sujeitos que estão impedidos por alguma lei de fazer suas degustações ?

É claro que não ! Parafraseando o poeta maranhense Ferreira Gullar, eu digo que o vinho, como a crase, não foi feito para humilhar ninguém. Degustar um vinho não quer dizer ter poderes excepcionais e ser capaz de fazer as adivinhações mágicas do primeiro parágrafo deste texto.

Degustar um vinho deve ser, antes de tudo, um exercício de prazer. Nós, que não somos profissionais do mundo do vinho, não temos nenhum compromisso de ficar acertando adivinhações às cegas. Isso é coisa de profissional - ou então, dos famosos enochatos.

Tereza e eu brincamos, às vezes, de fazer degustações às cegas. Em geral, fazemos essas brincadeiras com amigos, como o Walther e a Cláudia. Os resultados, envergonho-me de dizer em público, têm sido pífios ... Acertamos aqui e ali, erramos na maior parte das vezes. O mais importante é que nos divertimos, trocamos experiências, bebemos, comemos, jogamos conversa fora.

A degustação, para nós, é isso - a arte de jogar conversa fora. O supremo prazer de tentar descobrir aromas e sabores inesperados, de tentar entender porque alguns sentem cheiro de "tabaco" onde eu só sinto cheiro de "madeira", e porque alguns vinhos devem ter aroma de "frutas vermelhas" enquanto outro apresenta "notas de frutas negras" - alguém aí sente cores com o nariz ?

Enfim, vamos deixar de frescuras - o prazer do vinho está em bebê-lo e em confraternizar com os bons amigos, não em fazer mágicas de salão.

Portanto, relaxe - você não é o único que não sabe qual é o aroma de "grama recém-cortada". Beba seu vinho, tente descobrir se ele lhe dá prazer e tente memorizar os aromas e sabores que está encontrando. Se não tiver muito sucesso, relaxe mais - e beba mais um gole.

Como dizia um professor meu da ABS, o vinho foi feito é pra gente beber !

O resto, deixemos para os Robert Parker e para os enochatos de plantão.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Um livro interessante associando vinho e História


O livro é Vinho & Guerra, dos jornalistas franceses Don e Petie Kladstrup. Foi editado em português pelo editor Jorge Zahar.

É um relato muito interessante que junta o tema essencial do nosso blog - o vinho, é claro - com um aspecto pouco conhecido da Segunda Guerra Mundial.

Depois da invasão alemã na França, os nazistas trataram de apoderar-se de muitos dos tesouros existentes em território francês. Eles levaram para a Alemanha quadros, esculturas, jóias, peças históricas - e vinhos.

Seu foco, como não podia deixar de ser, eram os grandes tesouros de vinhos de Bordeaux, as grandes adegas dos produtores que armazenavam milhares e milhares de garrafas de vinhos de excelente qualidade e de preços altíssimos. Muitas delas foram realmente levadas para Berlim.

Os produtores trataram de salvar seus tesouros como era possível. Alguns deles passaram noites e noites trocando os bons vinhos de suas garrafas originais para outras de vinhos mais comuns. Outros começaram a "envelhecer" artificialmente garrafas recém-produzidas, espalhando sobre elas poeira e teias de aranha compradas de firmas que limpavam tapetes ...

São episódios interessantes, às vezes engraçados, às vezes patéticos, às vezes heróicos - e formam um quadro amplo de como foi o processo de invasão e a surda resistência dos franceses em defesa de seu patrimônio.

Leitura leve e agradável, que tem o mérito de lançar uma nova luz sobre um episódio histórico (a Segunda Guerra Mundial) já tão conhecido e tantas vezes esmiuçado.

terça-feira, 8 de junho de 2010

A Copa dos Copos - Parte 6



E segue a nossa Copa dos Copos ...

Oitavas-de-final em andamento, e o jogo da vez é entre Alemanha e Eslovênia - partida bem mais fácil, como se nota ...



A Eslovênia produz vinhos há mais de 2.400 anos. Entra na nossa Copa com o peso da tradição - mas seu plantel atual desanima um pouco os torcedores ... Timidamente, ela tenta atacar com seu tintos encorpados produzidos em Primorje, perto da costa do mar Adriático, e com seus brancos armáticos do Podravje, no centro da Europa. O time tem um atacante-surpresa : o respeitável ice wine do Posavje, produzidos com uvas congeladas - mas não dá pra encarar, vamos e venhamos.


A Alemanha reina soberana e tranquila. Tradição ela também tem, e sua indústria vinícola é hoje beeeem mais competitiva do que a do adversário de hoje. Seus vinhos brancos da uva riesling, produzidos na região do Mosel ou do Reno são imbatíveis. Seu centroavante tem nome impronunciável - é o grande Trockenbeerenauslesen, vinho doce feito com uvas atacadas por Botrytis Cinerea. Até os tintos de pinot noir da região de Baden fazem bonito.




É claro que jamais ocorreu ao técnico da Alemanha convocar o medonho "vinho branco da garrafa azul" que - sabe-se lá por que - fez certo sucesso no Brasil há alguns anos.

A Alemanha dá de lavada, e garante fácil, fácil sua classificação para as quartas-de-final da nossa Copa dos Copos.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A Copa dos Copos - Parte 5


Aqui vamos nós, para mais uma peleja das oitavas-de-final da nossa Copa dos Copos - e que peleja, senhores ouvintes ! Enfrentam-se hoje, nada mais, nada menos que dois dos mais poderosos participantes da nossa Copa - Argentina e África do Sul !

Os africanos, tradicionais praticantes do futebol-força, vêm a campo com seus tintos encorpados - Pinotage, Shiraz e Cabernet Sauvignon, e com seus amadeirados brancos Chenin Blanc e Colombard.

los hermanitos argentinos, que nos encantam os olhos com a arte dos Maradonas e Messis da vida, na Copa dos Copos também nos encantam o paladar com seus maravilhosos Malbec e Pinot Noir, e suas sempre deliciosas inovações como as uvas Torrontés e Bonarda.

E agora ? Que esperar desse confronto disputadíssimo ?

A Argentina sai na frente, marcando golaços inesquecíveis com seus atacantes originários da região de Mendoza : Lujan de Cuyo, Maipu, Valle de Uco.

Mas os africanos reagem à altura, com as áreas vinícolas de Stellenbosch e Paarl, ao redor da Cidade do Cabo. E ameaçam virar o jogo, com seus ainda novatos mas firmes produtores de Olifants River e Swartland.

O jogo parece ainda indefinido - mas os surpreendentes argentinos viram a mesa e as taças, com uma saraivada de ataques incontroláveis disparados desde a Patagônia, Salta, La Rioja ...
Mais um grande espetáculo, mais um grande produtor que fica pelo caminho - e mais uma potência classificada para as quartas-de-final - a Argentina

Bola pra frente !
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