Começar um post sobre vinho parodiando Noel Rosa é o máximo, fala a verdade ...
Meus amigos Vânia e Gerson, lá de Goiânia, me perguntam sobre as taças apropriadas para beber vinho - será que faz diferença ? Isto é, o modelo da taça pode interferir no sabor do vinho ? Estranho, né ?
Estranho - mas, em um certo nível, real. Há duas vertentes principais que explicam esse troço que parece tão estranho, à primeira vista.
A primeira delas (mais subjetiva) é que a experiência sensorial que a gente vive ao beber um bom vinho passa pelo conjunto dos nossos sentidos. Evidentemente, a gente cheira e saboreia o vinho - mas o primeiro impacto é o visual. E a apreciação visual já começa a impressionar - positiva ou negativamente - os nossos sentidos, de forma a "ajudar" a formar a opinião. É como na história da gastronomia, aquele segredinho que os japoneses conhecem tão bem : a gente começa a comer com os olhos ...
A outra razão é muito mais objetiva : com os avanços científicos e tecnológicos, hoje em dia já é possível fabricar taças que "exploram" da melhor forma possível as características de cada vinho - vinhos mais tânicos ou mais suaves, vinhos mais ou menos encorpados - pra não falar das coisas mais óbvias : brancos, tintos, rosados, fortificados, doces ...
Se a gente fuçar um pouco na Internet, descobre que há taças especialmente desenhadas para cada um desses tipos de vinho. Li em algum lugar que o famoso fabricante Riedel, da Áustria, tem mais de 400 modelos de taças - um para cada tipo de vinho ou de uva do mundo ...
Então a gente tem que ter dúzias e mais dúzias de diferentes taças, para os diferentes vinhos ? Não, claro que isso não é necessário, a não ser que você tenha muita grana para torrar ... Eu, pessoalmente, prefiro reservar a grana para os vinhos ...
Então, o fundamental é ter dois tipos de taças - exatamente com a Vania já está pensando em fazer.
Uma delas é reservada para os espumantes. Esses, realmente, merecem uma taça específica, a famosa flûte , que significa flauta, em francês. É aquela tacinha comprida e fina, com haste, cujo principal papel é fazer com que a perlage do espumante fique mais concentrada e dure mais tempo. Perlage, você sabe, são as famosas bolhinhas que fazem do espumante um vinho absolutamente diferenciado ...
O outro tipo pode ser uma taça muito conhecida como taça ISO, ou taça de degustação. Elas podem ser encontradas tanto em vidro como em cristal, e são produzidas hoje em dia por praticamente qualquer fabricante de taças. Estas taças são taças coringa, que podem tranquilamente ser usadas para qualquer tipo de vinho.
Há também variantes da taça ISO que mantém o formato básico, mas são maiores, mais bonitas, talvez mais elegantes - suprem perfeitamente esse mesmo papel.
Condições mínimas para as taças - tanto as flûte quanto as ISO :
- devem ser de cristal ou de vidro fino - nada daquelas bordas grossas e pesadas que se chocam contra os lábios. Esqueça os copos de requeijão, por favor ...
- devem ter o corpo afunilado, arredondado em baixo e com a boca mais estreita, para melhor canalizar os aromas do vinho em direção ao rosto do cachace.... digo, do degustador.
- devem ter haste, o famoso pezinho, para que o calor da mão não interfira na temperatura da bebida.
- devem ser transparentes, sem cores, sem desenhos nem gravações que afetem a visão do precioso líquido no seu interior ...
- devem ser lavadas com muita água corrente e um mínimo de detergente líquido, para que não fiquem resquícios.
Estas são as medidas oficiais da taça ISO, para quem se interessa por regulamentos |