quinta-feira, 11 de maio de 2017

Bebendo vinho como Astérix

Em ânforas ! Sim, há inúmeras evidências arqueológicas de que os antigos romanos produziam e armazenavam seus vinhos em ânforas de cerâmica. Mais tarde, como se sabe, as ânforas eram furtadas por Astérix e Obelix e devidamente esvaziadas durante os jantares pantagruélicos na pequena aldeia gaulesa …

Mas em outras pequenas aldeias pelo mundo – mais precisamente, na bela região do Alentejo, em Portugal, a tradição de produzir vinhos em ânforas de cerâmica foi, de alguma forma, preservada. É comum, ao que parece, que famílias produzam seus vinhos domésticos usando velhas ânforas de cerâmica presentes na família há gerações. Vejam a história neste site, bem interessante – é só clicar aqui. Se quiserem ver uma animação sobre como o vinho de talha é produzido, cliquem aqui.

Está lá no Alentejo a vinícola Herdade do Esporão, uma das maiores e mais importantes do país. Eles produzem grandes vinhos, como o Esporão Reserva, o Quinta dos Murças, e vários outros rótulos. Alguns anos atrás, o pessoal da Herdade do Esporão decidiu fazer uma aposta no mínimo curiosa : trazer para dentro de sua grande vinícola, de porte industrial, a velha e doméstica tradição alentejana do vinho em ânforas.

As ânforas da Herdade do Esporão

Nos últimos anos, eles têm produzido cerca de 3.000 garrafas por ano desse curioso vinho, chamado por eles de Vinho de Talha. Foram construídas grandes ânforas de cerâmica, com o mesmo material e com as mesmas técnicas das ancestrais ânforas caseiras, e a fermentação das uvas ocorre dentro delas.

O vinho feito nessas ânforas – ou talhas - tem uma série de características próprias, que fazem dele praticamente um vinho orgânico : são utilizadas apenas leveduras indígenas (naturais), e não aquelas produzidas em laboratórios, e são utilizados, segundo a vinícola,  pouquíssimos produtos químicos.

O resultado desse processo vem sendo engarrafado em dois rótulos distintos : o Vinho de Talha Vinhas Velhas e o Vinho de Talha Moreto.


O Vinhas Velhas é produzido com as uvas tradicionais do Alentejo (aragonez, castelão, moreto e trincadeira), mas plantadas em antigos vinhedos que tem suas origens meio obscurecidas pelo tempo.


O Moreto é produzido apenas com a uva moreto, mais uma das uvas autóctones da região.

Meus queridos amigos Antonio, Denise e Edu estiveram, mês passado, visitando a vinícola, e trouxeram de lá algumas garrafinhas desse curioso vinho.

E que tal o vinho ?

Bem, a verdade é que o vinho está mais para curioso do que para ótimo …

Na taça, o vinho lembra, surpreendentemente, um Borgonha – tonalidades violetas bem vivas e uma transparência quase total, bem diferente do que a gente está acostumado em matéria de vinhos alentejanos.

O olfato, bem discreto, guarda traços de frutas e flores.

Na boca – miseravelmente ! – parece um vinho um tanto aguado, com pouca acidez, sabores discretíssimos, e permanência quase nenhuma. De forma geral, não agradou a nenhum de nós, no grupo que fez a degustação. E não é nada barato – cada garrafa custou cerca de 22 euros lá na vinícola …

Eu diria que essa, provavelmente,  é a razão pela qual os nossos bravos gauleses gostavam mais da poção mágica do druida Panoramix do que dos vinhos roubados dos romanos …







Enfim – ficam aqui as informações como curiosidade, neste sempre rico e criativo universo dos vinhos.



2 comentários:

Anônimo disse...

E no caso do Obelix, ele curtia mesmo era comer javali e encher os romanos de porrada, kkkkk. Difícil imaginar como se pode manter a qualidade do vinho em tais recipientes. Com tantos recursos modernos para armazenamento, fico imaginando que naquela época o vinho devia avinagrar (existe esta palavra?) muito rapidamente.

Pena que o Tintim não era de beber e o Capitão Haddock não costumava a se embriagar com vinho, senão gostaria de ouvir menção a eles nos próximos posts. Sou fã incondicional do Tintim, mesmo que haja inúmeras críticas ao posicionamento moral e político de seu autor.

Sandro Delgado

Nivaldo Sanches disse...

Pois é, meu caro amigo Sandro, nem o Tintin nem o Capitão Haddock, que eu saiba, eram chegados em vinho ... acho que o Capitão preferia mesmo um destilado. Quem sabe os policias impagáveis Dupont e Dupond fossem apreciadores de vinho ???

E eu também acho que, a despeito das posições políticas ou ideológicas, o Hergé era um PUTA mestre dos quadrinhos ! Até hoje leio e releio as aventuras do Tintin, e jamais me cansarei de admirar a qualidade do Hergé - seja no traço preciso e inovador, seja nos enredos mirabolantes. Um mestre, sem dúvida, nenhuma !

Quanto ao vinho da ânfora ... bem, como você leu lá no texto do blog, o vinho que eu provei definitivamente não me seduziu. Mas eu tenho um grande amigo português, o Nuno, que me diz que já tomou grandes vinhos de talha. Quem sabe, a genet tem que provar mais ...

Abraços !

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