Em ânforas ! Sim, há inúmeras evidências
arqueológicas de que os antigos romanos produziam e armazenavam seus vinhos em
ânforas de cerâmica. Mais tarde, como se sabe, as ânforas eram furtadas por
Astérix e Obelix e devidamente esvaziadas durante os jantares pantagruélicos na
pequena aldeia gaulesa …
Mas em outras pequenas aldeias pelo mundo –
mais precisamente, na bela região do Alentejo, em Portugal, a tradição de
produzir vinhos em ânforas de cerâmica foi, de alguma forma, preservada. É
comum, ao que parece, que famílias produzam seus vinhos domésticos usando velhas
ânforas de cerâmica presentes na família há gerações. Vejam a história neste site, bem interessante – é só
clicar aqui. Se quiserem ver uma animação sobre como o vinho de talha é produzido, cliquem aqui.
Está lá no Alentejo a vinícola Herdade do
Esporão, uma das maiores e mais importantes do país. Eles produzem grandes
vinhos, como o Esporão Reserva, o Quinta dos Murças, e vários outros rótulos.
Alguns anos atrás, o pessoal da Herdade do Esporão decidiu fazer uma aposta no
mínimo curiosa : trazer para dentro de sua grande vinícola, de porte industrial, a velha e doméstica tradição
alentejana do vinho em ânforas.
As ânforas da Herdade do Esporão |
Nos últimos anos, eles têm produzido cerca
de 3.000 garrafas por ano desse curioso vinho, chamado por eles de Vinho de
Talha. Foram construídas grandes ânforas de cerâmica, com o mesmo material e
com as mesmas técnicas das ancestrais ânforas caseiras, e a fermentação das
uvas ocorre dentro delas.
O vinho feito nessas ânforas – ou talhas -
tem uma série de características próprias, que fazem dele praticamente um vinho
orgânico : são utilizadas apenas leveduras indígenas (naturais), e não
aquelas produzidas em laboratórios, e são utilizados, segundo a vinícola, pouquíssimos produtos químicos.
O resultado desse processo vem sendo
engarrafado em dois rótulos distintos : o Vinho de Talha Vinhas Velhas e o
Vinho de Talha Moreto.
O Vinhas Velhas é produzido com as uvas
tradicionais do Alentejo (aragonez, castelão, moreto e trincadeira), mas
plantadas em antigos vinhedos que tem suas origens meio obscurecidas pelo
tempo.
O Moreto é produzido apenas com a uva moreto, mais uma das uvas
autóctones da região.
Meus queridos amigos Antonio, Denise e Edu
estiveram, mês passado, visitando a vinícola, e trouxeram de lá algumas
garrafinhas desse curioso vinho.
E que tal o vinho ?
Bem, a verdade é que o vinho está mais para
curioso do que para ótimo …
Na taça, o vinho lembra,
surpreendentemente, um Borgonha – tonalidades violetas bem vivas e uma
transparência quase total, bem diferente do que a gente está acostumado em
matéria de vinhos alentejanos.
O olfato, bem discreto, guarda traços de
frutas e flores.
Na boca – miseravelmente ! – parece um
vinho um tanto aguado, com pouca acidez, sabores discretíssimos, e permanência
quase nenhuma. De forma geral, não agradou a nenhum de nós, no grupo que fez a
degustação. E não é nada barato – cada garrafa custou cerca de 22 euros lá
na vinícola …
Eu diria que essa, provavelmente, é a razão pela qual os nossos bravos gauleses
gostavam mais da poção mágica do druida Panoramix do que dos vinhos roubados
dos romanos …
Enfim – ficam aqui as informações como
curiosidade, neste sempre rico e criativo universo dos vinhos.
2 comentários:
E no caso do Obelix, ele curtia mesmo era comer javali e encher os romanos de porrada, kkkkk. Difícil imaginar como se pode manter a qualidade do vinho em tais recipientes. Com tantos recursos modernos para armazenamento, fico imaginando que naquela época o vinho devia avinagrar (existe esta palavra?) muito rapidamente.
Pena que o Tintim não era de beber e o Capitão Haddock não costumava a se embriagar com vinho, senão gostaria de ouvir menção a eles nos próximos posts. Sou fã incondicional do Tintim, mesmo que haja inúmeras críticas ao posicionamento moral e político de seu autor.
Sandro Delgado
Pois é, meu caro amigo Sandro, nem o Tintin nem o Capitão Haddock, que eu saiba, eram chegados em vinho ... acho que o Capitão preferia mesmo um destilado. Quem sabe os policias impagáveis Dupont e Dupond fossem apreciadores de vinho ???
E eu também acho que, a despeito das posições políticas ou ideológicas, o Hergé era um PUTA mestre dos quadrinhos ! Até hoje leio e releio as aventuras do Tintin, e jamais me cansarei de admirar a qualidade do Hergé - seja no traço preciso e inovador, seja nos enredos mirabolantes. Um mestre, sem dúvida, nenhuma !
Quanto ao vinho da ânfora ... bem, como você leu lá no texto do blog, o vinho que eu provei definitivamente não me seduziu. Mas eu tenho um grande amigo português, o Nuno, que me diz que já tomou grandes vinhos de talha. Quem sabe, a genet tem que provar mais ...
Abraços !
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